Na primeira mão do play-off de acesso à Liga dos Campeões, Fenerbahçe e Benfica ofereceram um espectáculo rico em coisa nenhuma. Golos houve zero. Grandes oportunidades houve também um bom zero. E em golos esperados ficaram-se por 0,40 e 0,32, valores que mostram que um golo marcado naquele jogo em Istambul seria um fenómeno do além. Como no famoso jogo King, todos “jogaram para nulos”.

Nesta quarta-feira, na Luz (20h, Sporttv 5), portugueses e turcos terão de fazer mais e não repetirem um espectáculo no qual uma equipa não quis ganhar – o Benfica – e a outra não quis perder – o Fenerbahçe.

E têm 45 milhões de motivos para se prestarem a futebol ofensivo, porque entrar na Champions não é coisa pouca a nível desportivo e financeiro.

Entra Ivanovic?

Na Turquia, Bruno Lage tirou um avançado para colocar Florentino, um médio de combate, procurando facilitar o jogo de pares com o 3x5x2 de José Mourinho. Estando a jogar fora de casa na primeira mão, o técnico “encarnado” saberia que a estratégia de “jogar para nulos” levaria tudo para aquilo que o próprio já definiu como “inferno da Luz”.

A equipa raramente chegou ao último terço com perigo e viveu dos rasgos individuais de Dedic (como quase sempre nesta temporada) e das movimentações de Aursnes a criar superioridades numéricas. E pouco mais.

No caso de Mourinho é diferente. A equipa turca viveu de bolas longas e cruzamentos e o futebol muito rudimentar não resultou. E se o Fenerbahçe já foi pouco audaz em casa, menos será a jogar fora. E é provável, nesse sentido, que o Benfica passe bastante mais tempo em ataque posicional do que na Turquia.

Acontece que os “encarnados” têm sido claramente mais fortes em transição e jogo directo do que em ataque posicional, algo que adensa as dúvidas sobre o que Lage vai procurar. Em teoria, Enzo, Ríos, Aursnes, Ivanovic e Pavlidis têm lugar no “onze”, pelo que resta o ala-esquerdo.

Turco ou sueco?

Schjelderup é mais capaz a envolver os colegas, a jogar por espaços interiores e a definir as jogadas com bons passes para finalização. Já Akturkoglu, que jogou em Istambul, tem valências mais evidentes na finalização e no ímpeto vertical de ataque ao espaço.


Em tese, o norueguês tem um perfil mais útil para o que o jogo deve pedir, mas numa partida deste tipo por vezes o mais importante é marcar – e nenhuma ala do Benfica é tão bom finalizador como Akturkoglu.

Bruno Lage não abriu o jogo sobre isto, como se esperava, nem sobre muita coisa. O técnico “encarnado” disse coisas como “temos de ter um apoio fantástico dos adeptos”, “responsabilidade é em todos os jogos”, “aquilo em que pensamos é como vamos vencer o jogo seguinte” e “o importante é nós sabermos o que temos que fazer”.

E revelou em primeira mão uma novidade. Quando o Benfica não tiver a bola “tem de defender e ser agressivo” e que quando tiver a bola “tem de ter a mesma agressividade”.

Papel de Talisca

Mas nem tudo foi vazio. Lage deixou escapar um detalhe táctico quando falou de Talisca. “Mais importante do que jogar com três médios ou não é termos de controlar os médios do adversário. Se o Talisca joga como médio ou segundo avançado e percebermos bem as variantes”.

Esta será uma das dinâmicas interessantes deste jogo, já que a possível entrada de Talisca no “onze” de Mourinho pode fazer o desenho dos turcos variar bastante e trocar as referências de marcação – Talisca, como disse Lage, pode ser o segundo avançado do 3x5x2 ou entrar para o trio de médios.


O treinador do Benfica deixou ainda rasgados elogios ao Fenerbahçe, dizendo que “é uma equipa de Champions (…) uma equipa forte nas transições, que domina o jogo dos dois pontas de lança. Muito forte em ataque organizado, com muitos médios”.

No fundo, segundo Lage, o Fenerbahçe sabe fazer tudo muito bem – mas não foi bem isso que se viu em Istambul, pelo que o jogo da Luz poderá confirmar ou não a má impressão deixada pela equipa de Mourinho, que falou num certo fatalismo pela falta de qualidade e profundidade da própria equipa.

“Não temos plantel para o treinador andar a fazer flores e a criar surpresas”, apontou. E foi mais longe: “O Bruno tem tanto jogador e com tanta qualidade que ele pode jogar como quer, com dinâmicas diferentes. Pode perfeitamente tirar um jogador e dar uma outra dinâmica em campo. Não temos muitas opções para fazermos coisas diferentes”.

Nota final para uma questão regulamentar que não é nova, mas que não é tão antiga assim, podendo criar confusão. A regra dos golos fora como factor de desempate já não existe, pelo que um empate com golos neste jogo na Luz dará prolongamento – e não a vitória do Fenerbahçe na eliminatória.