Donald Trump está há seis meses no segundo mandato como Presidente dos EUA. Se no primeiro, entre 2017 e 2021, foram várias as polémicas que pautaram a sua presidência, neste segundo, que começou a 20 de janeiro, a presidência tem sido marcada por decisões, contra decisões, contradições e reviravoltas que lhe estão a custar alguma popularidade.

Numa sondagem realizada logo após sua posse em janeiro, 50,5% dos entrevistados disseram que aprovavam Trump, enquanto 44,3% responderam em sentido inverso. Os números começaram a reverter em março e, no passado sábado (19 de julho), apenas 45,8% afirmaram que validavam as políticas do Presidente, enquanto 51,5% declararam que desaprovam.

O jornal USA Today descreveu o segundo mandato como «mergulhado em políticas e medidas controversas» e acrescentou que os norte-americanos estão «numa montanha-russa de altos e baixos económicos e sociais».
Entre as principais controvérsias está a questão das tarifas sobre bens importados e a relação comercial com o resto do mundo – incluindo países aliados e mesmo a União Europeia -, mas também a entrada dos EUA na guerra do Médio Oriente com o ataque às instalações nucleares iranianas. Na guerra da Ucrânia, apesar da promessa de a terminar em 24 horas, um acordo de paz está por alcançar.

Nos EUA, destaque para o escrutínio crescente relacionado com o caso Epstein, que muito desagrada a Trump, e ainda a questão do One Big Beautiful Bill Act, o plano de isenções fiscais que levou ao rompimento com Elon Musk, de quem foi aliado na campanha eleitoral e nos primeiros tempos na Casa Branca. O homem mais rico do mundo tinha integrado a cúpula da Casa Branca e assumido a liderança de um novo departamento governamental, pensado para cortar a burocracia e a despesa pública. Mas a lua de mel entre Trump e Musk durou pouco e acabou com a saída do magnata de uma administração que parece apostada em fazer contas com o resto do mundo.

Promessas cumpridas
Trump tem prosseguido com as demissões em massa de funcionários federais e os cortes de financiamentos por parte da administração para reduzir gastos. E como pano de fundo a política de deportação de imigrantes ilegais, que, apesar de menos popular, continua a ter o respaldo da maioria dos norte-americanos, em especial do eleitorado republicano e da sua base política, o movimento ‘MAGA’ – Make America Great Again.
Donald Trump prometeu desmantelar o Estado, enfrentar a imigração com força e travar uma guerra económica com os aliados tradicionais dos EUA. E está a cumprir, mesmo que o custo possa ser elevado.

O Presidente norte-americano colocou em prática o seu programa e as promessas de campanha. Extinguiu o Departamento de Educação e demitiu milhares de funcionários públicos. A sua administração enfraqueceu as prerrogativas do Congresso a favor da Casa Branca e até o Departamento de Justiça perdeu sua autonomia. Além disso, agências federais foram fechadas, universidades públicas e privadas sofreram intervenções diretas, e os grandes escritórios de advocacia foram alvo de intimidações.

No domingo, 20 de julho, Donald Trump assinalou os seis meses da tomada de posse com uma mensagem na Truth Social, a rede social a que dá preferência para fazer comunicados ao país e esclarecer determinadas informações.

«Wow, o tempo voa! Hoje é o aniversário de seis meses do meu segundo mandato. É importante notar que está a ser aclamado como um dos períodos mais importantes de qualquer Presidente», escreveu. «Por outras palavras, fizemos muitas coisas boas e ótimas, incluindo o fim de inúmeras guerras de países que não estão ligados a nós, a não ser pelo comércio e/ou, em certos casos, pela amizade», acrescentou.

«Seis meses não é muito tempo para ressuscitar totalmente um grande país. Há um ano, o nosso país estava MORTO, sem quase nenhuma esperança de renascimento. Hoje, os EUA são o país mais ‘sexy’ e mais respeitado em todo o mundo. Feliz Aniversário!!!», finalizou. «É um pássaro? Um avião? Não, é o ‘Superman Trump’». Foi assim que a conta oficial da Casa Branca apresentou o Presidente dos EUA na rede social X um dia antes da estreia de mais um filme do Super-Homem. «O símbolo da esperança. Da verdade. Da justiça. Do estilo americano», lê-se ainda.

Estratégia do Caos
Neste seu segundo mandato, Trump agiu tão rápido, em tantas frentes, que paralisou as reações. E mostrou-se desafiador e disposto a tudo. Com uma abordagem frequentemente caracterizada como uma ‘estratégia do caos’, tem implementado uma série de decretos que alteram profundamente as estruturas .

Uma das primeiras ações de Trump foi propor restrições ao direito de nacionalidade por nascimento, procurando limitar a cidadania para filhos de imigrantes em situação irregular ou com vistos temporários.
Outra medida foi a classificação de cartéis como organizações terroristas, que permite a ampliação de sanções e a deportação acelerada de membros de organizações criminosas internacionais.

Numa ação contra as políticas ambientais do seu antecessor, Joe Biden, Trump declarou emergência energética, revertendo várias iniciativas direcionadas à sustentabilidade e priorizando a exploração de combustíveis fósseis e recursos minerais, especialmente no Alasca.

Um dos decretos mais controversos foi a proibição de programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) na administração federal. Além disso, Trump incentivou o setor privado a seguir a mesma linha, o que resultou no encerramento destes programas em grandes empresas, como a Disney e o McDonald’s.

Trump também assinou um decreto que proíbe a participação de atletas transgénero em desportos femininos. A medida impactou diretamente escolas e universidades que permitem a participação desses atletas, impondo sanções como a perda de financiamento federal.
Trump rebatizou ainda o Golfo do México como Golfo da América, alterou outros nomes de locais históricos, ameaça anexar a Gronelândia e o Canal do Panamá e tornar o Canadá o 51.º estado dos EUA.

Palhinhas e cabelo Lavado

Há ainda outras medidas surpreendentes a destacar nesta nova viagem de Donald Trump ao leme dos EUA: No passado mês de fevereiro, o Presidente americano assinou uma ordem executiva para o regresso das palhinhas de plástico, afirmando que as de papel «não funcionam».

«É uma situação ridícula. Vamos voltar às palhinhas de plástico», assegurou Trump, à data. Apesar dos alertas de que os canudos de plástico poluem os oceanos e prejudicam a vida marinha, Trump considera que «não há problema» em continuar a usá-los. «Não creio que o plástico afete muito os tubarões que estão a mastigar no oceano», disse.

Destaque ainda para o decreto que suspende as restrições sobre o fluxo de água nas casas, que limitam a pressão dos chuveiros a pouco mais de nove litros por minuto, um tema que vinha de há alguns anos.

«Tornem os chuveiros da América bons outra vez», disse a Casa Branca, ecoando o famoso slogan de Donald Trump. Desde o primeiro mandato, Trump tem atacado as restrições de pressão de água nos chuveiros, sanitas, lava-louças e outros eletrodomésticos. «O meu cabelo, não sei quanto a vocês, tem de estar perfeito, absolutamente perfeito», disse em 2020. E em junho de 2024 repetiu: «Tomo banho e quero que o meu lindo cabelo esteja perfeitamente lavado».

Entre as ordens executivas mais recentes, nota para a cobrança de uma taxa adicional de, pelo menos, 250 dólares (213 euros) sobre os vistos de todos os estrangeiros que entrem no país como visitantes, incluindo estudantes.

Coca-Cola na montanha-russa

Mas não só de decretos se faz a política do presidente dos EUA. Donald Trump afirmou há poucos dias que a Coca-Cola concordou em utilizar açúcar de cana verdadeiro em vez de xarope de milho rico em frutose nos seus refrigerantes vendidos nos EUA. Tudo por sugestão sua. No entanto, a empresa não confirma a mudança.

«Tenho falado com a Coca-Cola sobre a utilização de açúcar de cana REAL na Coca-Cola nos Estados Unidos e eles concordaram em fazê-lo», escreveu Trump na Truth Social. «Gostaria de agradecer a todas as autoridades da Coca-Cola. Esta será uma boa jogada da parte deles – vocês vão ver. É simplesmente melhor!».

A Truth Social é, de resto, o palco da última polémica de Trump. Um vídeo totalmente gerado por inteligência artificial, com imagens inteiramente falsas mostram o antigo Presidente dos EUA, Barack Obama a ser preso dentro da Casa Branca por agentes do FBI, sob o olhar de Trump.
Apesar da óbvia natureza artificial do vídeo, o conteúdo obteve milhares de partilhas no TikTok, X, Instagram e Facebook, tornando-se viral em poucas horas e surge numa altura politicamente explosiva.

Há poucos dias, a ex-democrata Tulsi Gabbard, que agora faz parte da ala MAGA dos republicanos, anunciou ter enviado ao Departamento de Justiça documentos que provariam uma conspiração da administração Obama para impedir a vitória de Trump nas eleições de 2016.

Desde o seu primeiro dia como candidato, Trump tem aparecido animado pela raiva e por uma espécie de vingança na elaboração de políticas. O segundo mandato de Trump tem sido uma cavalgada de acerto de contas e a sua equipa interioriza a cultura do presidente de purgas, retribuições e controlos de lealdade.

Este tem sido o tipo de governação do atual Presidente dos EUA e tem funcionado porque o movimento MAGA o alimenta. Este comportamento de guerra cultural ajudou Trump a ser eleito e os seus eleitores têm estado dispostos a juntar-se a ele nestas montanhas-russas durante os primeiros seis meses do seu segundo mandato.