Pesquisadores de uma universidade dos Estados Unidos podem ter identificado uma nova forma, inesperada, de tratamento para a doença de Alzheimer. Um medicamento já utilizado em casos de insônia nos EUA demonstrou ter a capacidade de fazer uma espécie de “faxina” no sistema cerebral, reduzindo níveis de substâncias associadas à doença degenerativa, sem grandes efeitos colaterais.
O promissor avanço foi obtido ao utilizar na pesquisa o medicamento Suvorexant, devidamente aprovado e liberado para uso pela Food and Drug Administration (FDA), órgão do governo americano responsável por esse controle. A forma de atuação do fármaco é o que chamou a atenção dos pesquisadores.
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Em outros compostos utilizados no tratamento da insônia, diversas áreas do cérebro e da medula espinhal são afetadas de forma bastante genérica. Isso garante que o paciente consiga dormir, mas pode levar a efeitos colaterais preocupantes como a dificuldade de reagir a estímulos em situações de urgência durante o sono, como ter que escapar de um incêndio em casa durante a madrugada, por exemplo.
O medicamento Suvorexant, por sua vez, atua em uma área específica do cérebro com receptores ligados ao sono. Onde não há esses receptores de orexina, o químico não faz efeito. Assim, seu uso registra um número muito menor de distúrbios de equilíbrio ao acordar, em comparação com outros tratamentos.
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Remédio reduziu níveis de “lixo cerebral” e pode ajudar no tratamento do Alzheimer
O que os pesquisadores descobriram é que, além de trabalhar em uma porção bem delimitada do sistema nervoso central, o remédio conseguiu reduzir de forma efetiva os níveis de duas proteínas consideradas cruciais na evolução do Alzheimer.
Durante os testes, 38 voluntários com idades entre 45 e 65 anos foram divididos em três grupos. Um deles, de controle, tomou apenas placebo. Os outros dois receberam doses diferentes do medicamento. A equipe liderada pelo Dr. Brendan Lucey, da Washington University, em Saint Louis, coletou amostras do líquido que circula em torno do cérebro e da medula espinhal para analisar os resultados.
Quem recebeu a dose mais alta de Suvorexant mostrou os melhores resultados, de acordo com o estudo. Nesses pacientes, houve uma redução de 10% a 15% na concentração da proteína tau fosforilada. Os ganhos em relação a outra proteína, a amiloide-beta, foram de até 20% em relação ao grupo de controle.
Essas duas substâncias são consideradas pelos pesquisadores como uma espécie de “lixo” produzido pelo cérebro. Onde essas proteínas aparecem em grande quantidade, é grande também o número de neurônios mortos. Uma das consequências da morte descontrolada de neurônios é a demência, uma das principais características do Alzheimer.
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Novo tratamento não altera padrões de sono de pacientes com Alzheimer
A limpeza dessas proteínas ocorre de maneira natural nos indivíduos saudáveis, e é feita pelo corpo durante o sono. Por isso, há muito tempo os cientistas associam uma má qualidade de sono a uma probabilidade maior de desenvolvimento de Alzheimer.
Com a nova pesquisa, os especialistas mostraram que pode haver uma relação entre a orexina – uma substância química cerebral que nos mantém em estado de vigília, e que é bloqueada pelo Suvorexant – e o aumento no “lixo cerebral”. Estudos anteriores feitos em laboratório já indicavam que o bloqueio da orexina poderia reduzir os níveis da proteína amiloide-beta no cérebro.
Outro ponto destacado no estudo é que, apesar de bloquear a substância que mantém o cérebro em estado alerta, os resultados da pesquisa não indicam mudanças no padrão de sono. O novo possível tratamento contra o Alzheimer não faz com que os pacientes durmam por mais tempo, ou que tenham uma qualidade de sono diferente do que já experimentavam antes do uso do remédio.
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Anvisa ainda não liberou remédio usado na pesquisa para uso no Brasil
A equipe do Dr. Lucey considerou os resultados como “muito encorajadores”, principalmente porque o estudo se baseia em um medicamento já em uso e com um bom histórico de segurança. No campo das pesquisas científicas de novos medicamentos, isso pode significar um ganho significativo de tempo na prevenção e tratamento do Alzheimer.
Ainda assim, os efeitos a longo prazo dos inibidores de orexina, como o Suvorexant, ainda precisam ser estudados em novos ensaios clínicos. Além disso, os resultados mostraram que o efeito do medicamento teve uma curta duração, e que a manutenção dos baixos níveis das proteínas foi garantida com uma dose adicional.
O Suvorexant ainda não está disponível para uso no Brasil. Assim como outros medicamentos da mesma classe dos hipnóticos, como o Lemborexant e o Daridorexant, ainda aguarda aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser comercializado em território nacional.
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