Esta semana, vários jornais pelo mundo noticiaram que dois milhões de pessoas morrem, lentamente, à fome em Gaza. A acompanhar os relatos, foram publicadas diversas fotografias da dura realidade em que vivem os palestinianos no enclave. A autenticidade e o contexto de várias dessas fotografias foram postos em causa.
A capa do jornal francês Libération, de 24 de Julho de 2025, é um desses exemplos. A fotografia utilizada na primeira página mostrava uma criança de costas, subnutrida, e serviu para acompanhar um texto sobre a fome na Faixa de Gaza.
O jornal foi acusado por vários utilizadores do X, principalmente contas de membros da comunidade judaica francesa, de ter usado uma imagem que seria, na verdade, de uma criança do Iémen, alegadamente tirada em Setembro de 2016. Os utilizadores, não obstante, não mostravam qualquer prova que sustentasse as alegações, avança a Lusa.
Gaza : la faim @libe
Plus d’une centaine d’ONG dénoncent «une famine de masse» dans l’enclave, où les morts par malnutrition se multiplient faute d’aide alimentaire, bloquée par Israël.
Photo: Yazan, 2 ans, au camp de réfugiés palestinien de Al-Shati?? Omar Al-Qattaa/AFP#Gaza pic.twitter.com/GIyj5GnfVh
— Karima Delli (@KarimaDelli) July 24, 2025
A origem da foto já foi, entretanto, esclarecida pelo próprio jornal, que afirma que se trata, de facto, de uma criança em Gaza. Também a Lusa, através de reverse search image, sublinha que se trata de uma imagem da autoria de Omar Al-Qataa, ao serviço da AFP, tirada numa reportagem no campo de refugiados de Al-Shati, em Gaza, a 23 de Julho.
Uma outra foto, da mesma criança mas no colo do pai, foi alvo das mesmas acusações. A foto publicada no Junge Welt mostra Yazan, o mesmo rapaz da capa do jornal francês e que foi tirada nas mesmas circunstâncias que a mencionada.
O The Guardian e o Le Monde usaram imagens de uma mãe a segurar uma criança esquelética vestida com um saco plástico preto. Na mesma rede social, a imagem foi também atribuída a outro momento, igualmente no Iémen. Através do mesmo método de pesquisa, por bancos de imagens, é possível comprovar que se trata de uma fotografia de Muhammad Al-Matouq, em reportagem para contar a história desta família, no enclave.
Os períodos de guerra são terreno fértil para a desinformação e não se trata de um problema exclusivo do Médio Oriente. Em Junho, circulavam nas redes sociais vídeos alegadamente ligados à Operação Teia de Aranha, que a Ucrânia desencadeou contra a Rússia. Os vídeos que acumulavam milhares de visualizações eram, na realidade, excertos de videojogos partilhados num canal do YouTube, demonstrou a EuroVerify.
No mesmo mês, a Federação Internacional de Jornalistas dava conta da elevada quantidade de deepfakes e de informação descontextualizada nas redes sociais acerca de um outro conflito, entre a Índia e o Paquistão.