Eric Clapton e Eddie Van Halen desenvolveram uma relação de amizade após o segundo ter idolatrado o primeiro por anos. Todavia, não durou para sempre. O veterano britânico não gostou de uma homenagem feita pelo neerlandês — e o afastamento foi o caminho natural encontrado por ambos.

Quando o Van Halen surgiu para o mundo, com seu disco homônimo de 1978, Clapton já era um músico muito bem estabelecido. Em sua primeira entrevista já como fenômeno, para Jas Obrecht, da Guitar Player, Eddie cita o “Slowhand” logo de início quando perguntado sobre suas principais influências como guitarrista.

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Ele disse:

“Eu diria que a principal (influência), acredite ou não, é Eric Clapton. Quero dizer, eu sei que não soo como ele.”

Diante da óbvia diferença de estilos, o entrevistador apontou uma semelhança maior com Jimi Hendrix do que com Clapton. Eddie então explicou:

“Sim, eu sei. Eu não sei, porque eu gosto de Jimi Hendrix, mas nunca gostei dele tanto quanto de Clapton. E Clapton, cara, eu sei cada maldito solo que ele já tocou, nota por nota, até hoje. Eu costumava sentar e aprender aquelas coisas nota por nota (de ouvido). As gravações ao vivo, como ‘Spoonful’, ‘I’m So Glad’ ao vivo – todas essas coisas.”

Mais ou menos recíproco

A declaração e o sucesso do Van Halen levaram Eddie e Eric a se encontrarem algumas vezes e desenvolverem uma amizade. No entanto, em 1985 Clapton falou à mesma Guitar Player a respeito das habilidades do amigo e ficou claro que a admiração era recíproca só até certo ponto. Mas calma: essa ainda não é a entrevista que pôs fim à amizade.

Bem menos caloroso em suas palavras sobre o mais jovem dos irmãos Van Halen, o inglês disse:

“Se Eddie Van Halen gosta da maneira que eu toco, então assumidamente, ele deve gostar do que eu gosto. Mas se ele pode reconhecer tudo isso e ainda fazer o que ele faz, então temos que aceitar que ele está fazendo algo sobre o qual não temos muita clareza. Porque ele não poderia estar fazendo o que faz e reconhecer Robert Johnson sem que houvesse algo válido acontecendo.”

Se a comparação entre seu próprio estilo e o de Eddie foi um pouco mais fria, Clapton também não deixou de elogiar o esplendor técnico do guitarrista do Van Halen e agradecer à citação. Eric também afirmou:

“Ele é muito rápido e, aos meus ouvidos, por muito tempo ele meio que exagera. Mas isso é porque eu sou um guitarrista mais simples. Talvez eu tocasse assim se eu tivesse a técnica. Ouvi que ele tocava meus discos de forma mais lenta para aprender os solos. Isso é dedicação! Eu não sei exatamente como responder a isso.”

A homenagem — e a crítica de Eric Clapton

O fato é que, nesse momento inicial, Clapton pegou leve em suas críticas a Van Halen. Isso porque, dois anos antes, Eddie gravou um EP intitulado “Star Fleet Project”, em um projeto comandado por Brian May, guitarrista do Queen. O lado B inteiro do disco é ocupado por uma jam instrumental de quase 13 minutos chamada “Blues Breaker”, que nos créditos é dedicada a “EC” – Eric Clapton.

Se a intenção era homenagear, não deu certo. Eric odiou a faixa, composta basicamente de um duelo de solos entre Eddie e Brian sobre uma base de blues. Em 1986, em entrevista para a revista Musician, Clapton foi mais sincero em sua opinião sobre a música:

“Foi tão horrível, e eles dedicaram a mim. Eles me mandaram uma cópia e eu coloquei para tocar esperando alguma coisa e, sabe, eu quase fui insultado por eles terem me mandado isso, porque ambos… eles não sabem tocar! Eles se revezaram tocando solos e só foram de cabeça nisso com tudo o que sabiam. E não havia dinâmica, não havia construção, não havia sensibilidade. Fiquei muito desapontado. A coisa é que se ele (Eddie Van Halen) quer tocar blues, ele tem que olhar para isso como um estilo. Tem regras. É como o teatro Kabuki japonês ou algo assim. Tem certas coisas que você faz e outras coisas que você não faz.”

Nessa mesma entrevista, Clapton esclareceu sua fala do ano anterior, quando comparou a sonoridade de Eddie ao blues, citando até mesmo Robert Johnson. O que Eric quis dizer desde o início era que se Van Halen realmente gostava do som, então não aprendeu nada:

“Eddie Van Halen exagerou. É uma loucura que ele tenha aprendido tudo isso comigo. Quero dizer, ele poderia apenas ter tomado conhecimento do que eu fazia e então dito: ‘ah sim, bem, isso é um pouco como Buddy Guy’, ou ‘ou isso é meio assim, ou assim’. Colocar tudo em perspectiva. Ficar obcecado com uma pessoa… se ele estava tão ligado em mim e perdeu esse ponto, então ele perdeu todo o sentido.”

A decepção de Eddie Van Halen

Enquanto Brian May sempre abordou a crítica de Clapton à “Blues Breaker” de modo mais polido, Eddie nunca escondeu sua irritação. Alguns anos depois, o guitarrista do Van Halen e seu agora ex-amigo e ídolo se encontraram em uma festa e conversaram sobre o assunto. Não deu certo: um bêbado Eddie Van Halen e um recém-sóbrio Eric Clapton jamais se entenderam.

Em 1995, novamente para a Guitar Player, Eddie não deixou de alfinetar o agora desafeto, enquanto conversava com Dweezil Zappa. O guitarrista do Van Halen seguiu admirando o Clapton de sua juventude, mas questionou a competência do veterano naquele momento:

“Eu cresci ouvindo Clapton, mas – não me odeie, Eric! – é como se ele não fizesse mais aquilo. Agora quando ele sola, para mim soa fútil, como se fizesse à toa. Perdoe minhas palavras. Ouça seus solos do início, todas as coisas do Cream, como ‘Sunshine of Your Love’. As coisas que ele fazia… ele falava enquanto tocava.”

Ao que tudo indica, os dois nunca chegaram a fazer as pazes. Eddie Van Halen nos deixou em 2020.

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