Mais de dois anos após a chegada do primeiro navio elétrico, a Transtejo já recebeu a quase totalidade das 10 embarcações encomendadas em 2020. No entanto, das nove que chegaram, apenas seis estão operacionais. Fonte oficial da empresa que explora as travessias do Tejo explica, numa resposta enviada ao Observador na passada sexta-feira, que há três embarcações que se encontram inoperacionais por variadas razões.

O Cegonha Branca, que foi o primeiro a chegar em março de 2023, sofreu um sinistro; o Garça Vermelha teve uma avaria no motor de propulsão de bombordo; e o Alvécia Amarela aguarda a revisão técnica da UPS (fonte de alimentação ininterrupta) de um dos packs de baterias. Há ainda um outro navio, o Trapadeira Azul, que aguarda a emissão de documentação para iniciar o serviço.

Além da indisponibilidade pontual de parte dos navios, continuam a ocorrer falhas no carregamento elétrico que estão a ser minimizadas com o recurso aos velhos barcos a gasóleo como redundância na operação.

O recurso à solução é avançado pelo Ministério das Infraestruturas numa resposta enviada ao Parlamento no final de julho. Nesta resposta, dada a perguntas feitas pela deputada comunista Paula Santos sobre as frequentes supressões nas carreiras fluviais, o gabinete do ministro Miguel Pinto Luz diz que a empresa está focada “em assegurar a pontualidade e fiabilidade dos serviços com recurso aos navios disponíveis” e destaca “medidas tomadas pela TTSL (Transtejo Soflusa) que têm tido como objetivo manter a operacionalidade dos navios elétricos, minimizando a supressões por avarias e por falhas no carregamento. Em paralelo, tem sido assegurada a redundância da operação com recurso a navios a diesel”.

Cinco dos seis barcos elétricos do Tejo estão com avarias, segundo autarca do Seixal

Ao Observador, a Transtejo desvaloriza o recurso aos navios a gasóleo, que iriam ser substituídos por embarcações elétricas no quadro da transição energética e da necessidade de reduzir as emissões de CO2 nos transportes. E indica que essa substituição “raramente tem ocorrido”, sem esclarecer quantos destas embarcações a diesel estão ainda a operar.

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A par das avarias nos navios, o grande fator de supressões de carreiras são as falhas no carregamento em terra das baterias dos navios. Esta situação levou a Transtejo a contratar junto da ABB antenas de 5G para melhorar a comunicação com os sistemas de carregamento. A empresa diz que esta substituição permitiu “ultrapassar a maioria dos episódios de falta de ligação entre a torre de carregamento rápido e o navio”.

Mas quando questionada sobre se há uma redução no número de supressões, a Transtejo indica apenas que a média de supressões é de 4,5% face ao número de viagens realizadas.

As principais queixas de utentes e autarcas sobre a qualidade do serviço têm vindo da linha do Seixal que, aliás, motivaram as perguntas endereçadas pela deputada do PCP ao Governo. No entanto, ao Observador a empresa diz que esta ligação fluvial  registou um aumento de 8,9% no número de passageiros em maio, face ao mesmo mês do ano passado.

A Transtejo refere anda que a oferta na linha Cais do Sodré-Seixal não foi alterada, tendo entrado em vigor um novo horário que mantém o número de carreiras.

Sobre a entrada em operação dos navios elétricos na ligação ao Montijo — que é a mais extensa das prestadas pela empresa — a Transtejo indica que estão a ser planeados testes de navegação para confirmar os tempos de viagem. Atualmente, o trajeto entre o Montijo e o Cais do Sodré é assegurado por catamarãs com um tempo médio de percurso de 25 minutos e há quem receie que esse tempo seja alongado quando o serviço for prestado pelos navios elétricos.

A renovação da frota da Transtejo, um processo que foi decidido no primeiro Governo de António Costa, já sofreu muitos percalços financeiros e operacionais — desde concursos anulados até a chumbos do Tribunal de Contas que levaram à demissão da administração da empresa, passando por investimentos adicionais não previstos e falhas frequentes na operação. A opção por navios elétricos que são protótipos feitos à medida da Transtejo, numa solução não testada, tem sido apontada como fonte de vários problemas técnicos e operacionais.

Chegaram, mas nem sempre carregam. Navios elétricos da Transtejo ainda estão por inaugurar

O atual Governo reconhece que “o caráter pioneiro e inovador da operação elétrica tem apresentado sucessivos desafios, causando atrasos e supressões com impacto no regular cumprimento da oferta estabelecida, os quais têm obrigado à afinação de questões técnicas e operacionais, nas quais a Transtejo continua a trabalhar”.

Nesse sentido, a Transtejo contratou um novo diretor de operações e criou uma task force para verificar procedimentos e agilizar capacidade de resposta, bem como para prever e resolver situações. O Governo realça a instalação de equipamentos adicionais de carregamento lento para aumentar a disponibilidade operacional de um maior número de navios nas horas de ponta e o esforço de recrutamento de tripulações para operar os novos navios, “apesar da falta de recursos humanos disponíveis em áreas de extrema especificidade técnica”.

Segundo o Governo, os contratos entre a Transtejo e os vários fornecedores — navios, baterias, torres de carregamento e postes de transformação — estão todos em execução de acordo com o programa original de renovação de frota e estão a ser preparados novos contratos de assistência técnica para equipamentos e infraestruturas ligadas à operação e manutenção dos navios elétricos. Até ao início deste ano, a empresa tinha assinado contratos no valor de 82 milhões de euros relativos à renovação da frota. Os maiores foram com a empresa espanhola Astilleros Gondán que fabricou os navios por 52,4 milhões de euros e forneceu as baterias por 16 milhões de euros.