Responda rápido: o que é “heteropessimismo”?
Segundo a atriz Juliana Baroni, trata- se de “uma desilusão, um ceticismo ou uma desconfiança generalizada, um cansaço da repetição de histórias e narrativas frustrantes ao lado de homens”.
A filósofa Marcia Tiburi completa: “São desfiliações performativas com a heterossexualidade, geralmente expressas na forma de arrependimento, constrangimento ou desesperança em relação à experiência heterossexual”.
A dupla discute este e outros temas “urgentes” no programa “Precisamos Conversar”, exibido no canal do YouTube do Instituto Conhecimento Liberta (ICL) — plataforma de cursos e mídia que ambiciona ser uma espécie de versão esquerdista da produtora conservadora Brasil Paralelo.
Criado pelo empresário Eduardo Moreira (ex-sócio do banco Pactual) e o sociólogo Jessé de Souza (autor do livro “O Pobre de Direita: A Vingança dos Bastardos”), o ICL tem como parceiro de peso o youtuber Felipe Neto. E seu time de jornalismo conta com um elenco de figurinhas carimbadas: Chico Pinheiro, Heloísa Vilella, Xico Sá, Juca Kfouri, Cristina Serra e Guga Noblat, entre outros.
“Patriarcado capitalista racista”
Baroni, mulher de Moreira, dirigiu em 2024 o documentário “Vai pra Cuba, Eduardo!”, que romantiza a ditadura e minimiza o sofrimento da população da ilha caribenha sequestrada pelo comunismo. Mas ela é mais conhecida por interpretar a ex-primeira dama Marisa Letícia no longa “Lula, o Filho do Brasil” e, principalmente, pela personagem Jujuba, uma das paquitas do “Xou da Xuxa”.
Tiburi, candidata derrotada do PT ao governo do Rio de Janeiro em 2018, ficou famosa por “defender o assalto” e se autoexilar em Paris durante o governo de Jair Bolsonaro. Recentemente, o marido dela, o juiz Rubens Casara, virou notícia por determinar a soltura de um bandido, preso por roubo, com 86 anotações criminais em sua ficha.
Na mesa-redonda semanal, Juliana Baroni e Marcia Tiburi são acompanhadas por três “mulheres maravilhosas”: a influenciadora e ativista Sara Zara, Assucena (artista da música que se identifica como transexual) e a empreendedora Nina Silva (integrante do “Conselhão” do governo federal).
Juntas, elas buscam “desnaturalizar conceitos” e “desmontar ideologias” debatendo assuntos variados — com ênfase em críticas ao “patriarcado capitalista racista” e na demonização de Jair Bolsonaro e seus aliados.
A seguir, compilamos algumas pérolas proferidas pelo quinteto nas mais de 20 edições da atração disponíveis no YouTube.
Família Bolsonaro
Para Márcia Tiburi, o comportamento de Jair Bolsonaro reflete o de “meninos mimados mal-educados que não aceitaram até agora a derrota”. A filósofa também pega pesado com Michelle Bolsonaro, que descreve como uma “ex-garota de programa aproveitadora”.
Eduardo Bolsonaro, frequentemente chamado de “Bananinha” no talk show, é considerado um “herdeiro piorado do pai” por Sara Zara. Segundo ela, o filho 02 “não é homem” (não fica clara qual é a definição de “homem” adotada pela comentarista).
Alexandre de Moraes e o STF
Na opinião de Juliana Baroni, Moraes é um “grandissíssimo herói”, que “está segurando a democracia à unha”. Tiburi faz uma ressalva: “Ele foi nomeado pelo Temer, o golpista-mor da nação”. A filósofa, no entanto, acaba elogiando o ministro por sua “discussão muito interessante sobre a diferença entre portadores de maconha brancos, pretos e pardos”.
Em outro momento, Nina Silva festeja uma maior divulgação do Supremo Tribunal Federal na televisão. De acordo com ela, “isso é muito positivo” — pois permite “entender esses processos” e ensina que “você não pode fazer qualquer coisa”.
Aborto
Baroni critica os envolvidos nas “principais campanhas contra o aborto”. “Eles são contra o aborto quando é dos outros. Quando engravidam as amantes, eles mesmos pagam.”
Leo Lins
Para Sara Zara, Leo Lins não é um comediante — e, sim, um “usurpador” que usa a comédia para “pregar o discurso de ódio”. Ela ainda sugere, em tom irônico, a criação de uma “lei da condenação compartilhada”. “Todo mundo que achou ruim que se divida, ficando de seis em seis meses no lugar dele. Faz um rodízio de pena, aí fica mais justo”, diz.
Já Marcia Tiburi acredita que “quem consegue rir com isso [a comédia de Leo Lins] precisa fazer psicanálise, psicoterapia, precisa de ajuda filosófica”.
Igreja Católica
Tiburi define o Vaticano como um “sustentáculo do patriarcado”, “responsável pela perseguição de mulheres ao longo da História”. Mas Baroni alivia a barra do Papa Francisco — segundo ela, uma figura “mais progressista”, que “não se omitia” e apoiava Lula e Dilma.
Lula machista?
A fala do presidente sobre ter escolhido uma “mulher bonita” para ser ministra das Relações Institucionais, buscando melhorar a relação com o Congresso, divide opiniões entre o grupo.
Para Assucena, Lula “precisa descer dos palanques e voltar um pouco para as massas”. Marcia Tiburi defende o petista: “Não acho que ele seja um grande machista, apesar de várias coisas machistas dele”.
Donald Trump
Segundo Nina Silva, Trump “não tem fundamentação no médio e longo prazo” e “quer se fazer grande na História, independente [sic] do tamanho do tombo que os EUA vão levar”.
Tiburi, por sua vez, classifica as ações do presidente americano como uma “cartilha neonazista” e seus pronunciamentos, “alucinações para colocar todo mundo em estado de estupor”.
Nikolas Ferreira
O parlamentar é mencionado por Juliana Baroni como “aquele deputadinho lá de Minas” e “um fascistinha desses perigosos”. Marcia Tiburi sugere que Ferreira deveria assistir aos conteúdos do ICL para se “aculturar um pouco mais”.
“Cristofascismo”
O termo é apresentado por Tiburi, que o relaciona às ações do “clã Bolsonaro” e a uma “elite do atraso” que finge ser patriota vestindo verde e amarelo, mas na realidade atua a favor dos “interesses imperialistas dos Estados Unidos”.
Agronegócio
Para Assucena, os senadores que defendem o agronegócio pertencem a uma “elite predatória” e a uma “bancada contra a Amazônia”, cujo objetivo é devastar a floresta para se manter no poder. Ainda segundo Assucena, a música sertaneja tem um “espelhamento muito perigoso” com o agro.
Marcia Tiburi explica que os donos dos latifúndios buscam criar uma “monocultura da mente” por meio de uma música “alienadora”. O objetivo, ela diz, é “empobrecer a mentalidade e a inteligência das pessoas”.
Legendários
O movimento de homens cristãos é desqualificado por Baroni como uma “seita de machos muito brancos” que tentam “encontrar o seu macho original”. Sara Zara critica a hipocrisia de “aprender a ser bom pai sem conversar com os filhos e as mulheres em casa”.
Regulamentação das redes
Nina Silva diz que a lei atual “isenta as redes sociais de responsabilidade sobre o que é compartilhado por terceiros” — e defende mudanças. Marcia Tiburi argumenta que o conceito de liberdade de expressão foi “mistificado” e deve ser confrontado.
Carla Zambelli
Na opinião de Tiburi, a parlamentar é “uma grande vergonha para o feminino” e “uma representação feminina do fascismo ou do nazifascismo”.
Anitta
As 50 cirurgias plásticas da cantora, que estimulam um debate sobre sua influência em adolescentes, são defendidas por Assucena — que não a “responsabilizaria”, considerando-a uma “vítima de uma construção disfórica da sociedade”.
Capitalismo
Para Tiburi, a “fonte do capitalismo remonta ao patriarcado”, e isso implica numa “eterna ameaçabilidade sobre nossos corpos”. Ainda de acordo com a filósofa, o “pobre de direita” é um indivíduo que “sucumbiu ao capitalismo sem perceber que o capitalismo está contra ele”.