A Rússia atacou na madrugada desta quinta-feira a capital ucraniana, Kiev, deixando pelo menos 14 mortos, segundo a agência Reuters, e mais de 30 feridos. Três dos mortos eram crianças, segundo as autoridades.

Entre os quase cem edifícios danificados estava a missão da União Europeia em Kiev. O presidente do Conselho Europeu, António Costa, lamentou, numa publicação na rede social X (antigo Twitter) o “ataque deliberado” e garantiu que a UE não se vai deixar intimidar.

A alta representante para a Política Externa e de Segurança da UE, Kaja Kallas, também escolheu a palavra “deliberado” para descrever o ataque: “Trata-se de uma escolha deliberada para uma escalada e fazer troça dos esforços de paz”, escreveu no X.

Depois de dizer que o pessoal da União Europeia em Kiev estava seguro após o ataque, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que “a Rússia tem de parar imediatamente com os seus ataques indiscriminados à infra-estrutura civil e juntar-se às negociações para uma paz justa e duradoura”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Andrii Sybiha, afirmou que este ataque teve como alvo diplomatas, “o que é uma violação directa da Convenção de Viena”.

Um edifício do British Council, que está no mesmo quarteirão da missão da UE, sofreu também danos no ataque.

“Noite horrível” em Kiev

A Rússia lançou 629 drones e mísseis, segundo uma publicação da Força Aérea ucraniana no Telegram. Foi o segundo maior número registado desde o início da guerra.

A Força Aérea diz que interceptou 589 dos mísseis e drones e, dos que escaparam à intercepção, 13 atingiram directamente alvos.

Katy Watson, jornalista da BBC na capital ucraniana, diz que embora por vezes seja fácil esquecer a guerra na cidade e a vida continue normalmente, “quando chega a noite, a ansiedade aumenta”: algumas vezes, como foi o caso da noite passada, há avisos de potenciais ataques nas redes sociais, e há quem escolha dormir em abrigos.

“O barulho das defesas aéreas tentando interceptar drones e mísseis, e quando ocasionalmente estes atingem um alvo, acordam toda a gente, mesmo a quilómetros de distância”, descreve. “A noite passada foi intensa e depois de algumas semanas de calma relativa, ninguém tem ilusões de que esta guerra possa acabar em breve.”

O Presidente da Câmara de Kiev, Vitaly Klitschko, disse que entre os alvos atingidos numa “noite horrível para Kiev” estavam edifícios não-residenciais, prédios de apartamentos, estruturas de educação e infra-estruturas de transporte. Socorristas procuravam ainda por pessoas sob os escombros de um prédio de cinco andares, adiantou.

“Ouviu-se uma onda de ataques do centro da cidade depois das 3h e de novo cerca das 5h30”, segundo o jornalista do Guardian Dan Sabbagh, que está em Kiev. Foram atingidos mais de 20 locais.

Zelensky apela à China

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, comentou que “estes ataques com mísseis e drones de hoje são uma resposta clara a toda a gente no mundo que, durante semanas e meses, têm pedido um cessar-fogo e diplomacia”, escreveu no X.

A Associated Press diz que se trata do primeiro grande ataque russo com drones e mísseis a atingir Kiev desde que o Presidente dos EUA, Donald Trump, se reuniu com o homólogo da Rússia, Vladimir Putin, no Alasca, no início deste mês, para discutir o fim da guerra na Ucrânia.

Zelensky escolheu dirigir-se directamente à China, “Esperamos uma reacção da China ao que está a acontecer”, declarou, já que o país “tem apelado repetidamente para que a guerra não se alargue e para que haja um cessar-fogo”.

Horas antes tinha sido anunciado por Pequim que Putin estaria entre os líderes a participar numa parada militar ao lado do Presidente chinês, Xi Jinping, na próxima semana.