A forte agitação marítima que se tem feito sentir nos últimos dois dias provocou estragos em várias zonas costeiras de Portugal continental, de norte a sul do país. Fenómeno é explicado pelos especialistas como uma combinação de tempestades no Atlântico Norte, marés vivas e alterações climáticas.
De acordo com o CGEOMETOC — Centro Geoespacial Meteorológico e Oceanográfico Marítimo, do Instituto Hidrográfico da Marinha Portuguesa, a situação das últimas 48 horas “já foi ultrapassada”, mas mantém-se até sábado, dia 30, previsão de agitação marítima forte.
Na praia do Cabedelo, na Figueira da Foz, vários banhistas foram arrastados por uma onda, obrigando à intervenção imediata dos nadadores-salvadores. Apesar da violência da água, não se registaram quaisquer feridos.
A concessionária Helena Costa explicou à SIC Notícias que foi possível evitar prejuízos maiores porque foi avisada antecipadamente da subida do mar. “Durante a tarde [de terça-feira] tivemos de arrancar todos os chapéus, mas não há estragos. Conseguimos precaver, porque fomos avisados que o mar ia subir”, disse, acrescentando que “o mar chegou quase aos chapéus”.
Os efeitos da ondulação também se fizeram sentir com intensidade na Costa da Caparica, onde a maré cheia arrastou chapéus de sol, cadeiras e destruiu uma barraca de madeira. Nas imagens captadas por vários banhistas é possível ver duas pessoas que saíram ilesas apesar da força do mar. Esta quarta-feira, a bandeira vermelha esteve hasteada, interditando os banhos.
Em Sintra, na Praia Grande, o mar também ultrapassou a zona dos chapéus e cadeiras. Nadadores-salvadores e banhistas tiveram de retirar o passadiço para este não ser levado pela água. Apesar de a corrente marítima ter estado muito forte, várias pessoas permanecerem na praia.
Marta Calado
No Algarve, na praia de Faro, os passadiços de acesso foram destruídos e os concessionários e nadadores-salvadores tiveram de desmontar as estruturas para evitar acidentes. Vítor Dias, coordenador dos nadadores-salvadores, descreveu a última terça-feira como “um dia terrível”, salientando a ajuda da Polícia Marítima nas operações de segurança.
“Foram levadas cadeiras, passadeiras. Tivemos de [as] retirar da água, porque oferecia perigo a quem se aventurou a ir para o mar. Tivemos uma ajuda excecional da Polícia Marítima de Faro que esteve no terreno connosco”, sublinhou o coordenador, afirmando que na tarde esta quarta-feira a praia continua com aviso amarelo e, por isso, tem de se “tomar as devidas precauções”.
Já pelo norte do país, na Póvoa de Varzim, esta terça-feira, a ondulação destruiu parte de uma esplanada de um bar na praia da Lagoa. Mesas, cadeiras e objetos de decoração foram arrastados. A subida da maré chegou a cobrir grande parte do areal, tanto nas praias desta cidade, como nas de Vila do Conde. Mais a norte, em Caminha, a praia do Moledo perdeu praticamente todo o areal.
A subida do nível do mar é bem visível. Praia de Moledo está tarde pic.twitter.com/DGEeZIqNUT
— Sonia Trindade ???? (@SoniaPaula34) August 26, 2025
O mar galgou as praias , de norte a sul do país, “com a chegada de ondas altas e de grande período que transportam grande quantidade de água na fase de rebentação”, esclarece uma nota do CGEOMETOC enviada pela Autoridade Marítima ao Observador. “Combinadas com a preia-mar, estas ondas conseguem penetrar na praia, aumentando o risco para os banhistas”, acrescentou.
Carlos Antunes, especialista em geodésia e hidrografia explica, também, que a origem do fenómeno está na conjugação de fatores naturais que, ao ocorrerem em simultâneo, amplificam os efeitos no litoral. “É comum no final de agosto surgir uma tempestade no Atlântico Norte. A agitação marítima gerada nessas depressões avança até à Península Ibérica e, quando coincide com marés vivas, como aconteceu agora, gera estas situações de galgamento costeiro”, referiu à SIC Notícias.
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Segundo o especialista, a combinação entre tempestades em alto mar, marés vivas e alterações climáticas está a criar episódios cada vez mais frequentes. “O Oceano Atlântico encontra-se mais quente do que o habitual e isso tem duas consequências diretas: por um lado, aumenta o nível médio do mar — que está atualmente cerca de cinco centímetros acima do normal — e, por outro, potencia a energia das tempestades formadas em latitudes mais altas”.
Esta diferença de poucos centímetros no nível médio do mar é, para Carlos Antunes, suficiente para agravar o impacto na linha de costa: “Quanto mais elevada é a maré e mais alto está o nível médio do oceano, mais perto da praia ocorre a rebentação das ondas”.