Mudar sua marcha da caminhada pode ajudar a reduzir a dor da artrite no joelho. E o alívio pode ser comparável ao efeito de medicamentos para dor vendidos sem receita.
Em um estudo publicado no início deste mês, adultos com osteoartrite leve a moderada foram treinados para apontar os dedos dos pés ligeiramente para dentro ou para fora para mudar a carga sobre os joelhos enquanto caminhavam. Essa pequena mudança na marcha ajudou a aliviar a dor crônica no joelho, descobriram os pesquisadores.
“Acho que este estudo oferece muita esperança para pessoas com osteoartrite do joelho”, diz Scott Uhlrich, autor principal do artigo e diretor do Laboratório de Bioengenharia do Movimento da Universidade de Utah. “Existem novos tratamentos surgindo que poderiam melhorar sua dor.”
Cerca de 33 milhões de adultos nos Estados Unidos têm osteoartrite, que envolve a degradação da cartilagem em uma articulação. A cartilagem não consegue se reparar como outros tecidos do corpo, e as pessoas geralmente não percebem o dano até que seja tarde demais. Uma mudança sutil na marcha de uma pessoa pode redistribuir o peso no joelho para áreas onde há mais cartilagem, resultando em menos dor, diz Uhlrich.
Após acompanhar os participantes por um ano, os pesquisadores descobriram que uma marcha alterada também pode retardar a deterioração da cartilagem no joelho. Na prática, a mudança no passo funciona de maneira semelhante a certas joelheiras, diz Uhlrich.
“Isso não está reduzindo a força total que passa pelo seu joelho”, diz ele. “Mas está apenas deslocando parte da força da parte interna do joelho para cartilagem mais saudável na parte externa do joelho.”
No entanto, não tente alterar sua marcha por conta própria, diz Uhlrich. Não existe uma abordagem única para todos, e virar os dedos dos pés para dentro ou para fora pode acabar colocando mais força em partes problemáticas do joelho. No ensaio clínico randomizado, os pesquisadores forneceram feedback personalizado em tempo real no laboratório para apontar os pés dos participantes na direção certa.
“Nem todo mundo se beneficia da mesma mudança”, diz Uhlrich. “Eu gostaria que sim; gostaria de poder dizer a todos para mudar de uma maneira e que funcionasse para todos. Mas simplesmente não funciona assim.”
Os métodos do estudo
Para conduzir o ensaio clínico randomizado, os pesquisadores selecionaram 1.582 voluntários para recrutar um grupo de 68 pessoas com osteoartrite leve a moderada e dor na parte interna do joelho, diz Julie Kolesar, autora sênior do estudo e engenheira de pesquisa no Laboratório de Desempenho Humano da Universidade Stanford.
Os pesquisadores instruíram cada participante a caminhar com os dedos dos pés apontados cinco ou 10 graus para dentro e para fora, e mediram como os quatro ângulos mudavam a carga nos joelhos dos participantes. O estudo incluiu apenas pessoas que realmente se beneficiaram da modificação da forma como caminhavam, diz Kolesar.
Em seguida, os participantes foram divididos em dois grupos, um de intervenção e o que os pesquisadores chamaram de “simulação”. O grupo de intervenção foi treinado para caminhar com os dedos apontados em sua direção ideal —qualquer ângulo que se mostrasse mais eficaz na redução da carga na parte interna dos joelhos. E o grupo de “simulação” foi instruído a caminhar de forma mais consistente com a marcha que tinham antes do estudo.
Uma vez por semana durante seis semanas, os participantes caminharam em uma esteira sensível à pressão, e quando saíam da linha —dois ou mais graus fora da marcha designada— os pesquisadores enviavam um zumbido para suas pernas através de um dispositivo.
Os participantes retornavam ao laboratório a cada três meses para garantir que mantinham a marcha prescrita, diz Kolesar.
O grupo de controle permitiu aos pesquisadores determinar se a mudança no ângulo do pé ajudou ou se a atenção individual no laboratório proporcionou o benefício.
Os resultados
Após um ano, as pessoas no grupo de intervenção relataram uma maior redução na dor do joelho. E, com base em exames de ressonância magnética realizados no início e no final do estudo, o grupo de intervenção parecia ter uma degeneração mais lenta da cartilagem nos joelhos.
No estudo, os participantes avaliaram sua dor no joelho em uma escala de 11 pontos, e os pesquisadores compararam a mudança em suas pontuações após um ano com pontuações autorrelatadas após o uso de medicamentos para dor sem receita em outros estudos. O grupo de intervenção relatou uma redução na dor comparável ao efeito de medicamentos para dor vendidos sem receita, diz Uhlrich.
Joelheiras são consideradas uma das formas mais eficazes de tratamento para a dor nas articulações, mas os pacientes podem achar as joelheiras desconfortáveis, diz Uhlrich. As pessoas tomam AINEs como ibuprofeno para aliviar a dor, mas esses analgésicos podem prejudicar o intestino quando tomados regularmente.
“Obviamente, você não quer um jovem de 30 anos tomando medicamentos para dor quatro vezes ao dia por 30 anos”, diz Uhlrich. “Se pudermos ter um tratamento que melhore a dor e preserve a articulação — sem que eles precisem tomar medicamentos— isso preenche uma lacuna realmente grande nas opções de tratamento atuais.”
Mova-se
O ensaio, que durou quase três anos, foi relativamente pequeno, e os pesquisadores recrutaram apenas indivíduos com artrite leve a moderada no joelho. Embora os resultados sejam promissores, mais pesquisas precisam ser feitas antes que o tratamento esteja disponível em uma clínica de fisioterapia, diz Kolesar.
Os pesquisadores contaram com equipamentos especializados de laboratório para treinar os participantes em uma nova forma de caminhar. Mas Uhlrich diz que alguns de seus colegas também estão trabalhando em um “sapato inteligente” que pode ajudar uma pessoa a treinar enquanto caminha pelo bairro. Uhlrich também é fundador de uma startup que está desenvolvendo uma maneira de realizar a análise com um smartphone.
“Não é apenas ficção científica”, diz ele. “O futuro disso é você ir à clínica de fisioterapia, eles gravarem você caminhando com um smartphone, e podermos descobrir qual forma de caminhar seria melhor para você.”