Em Portugal, o café é mais do que uma bebida. É um ritual diário e, para muitos, uma necessidade logo pela manhã. Mas e se esse hábito tão enraizado pudesse ter influência em algo tão sério como a eficácia dos antibióticos? Sim, é altura de deixar o álcool em paz.
Uma nova investigação internacional, publicada na revista PLOS Biology, levanta precisamente essa hipótese, apontando para uma ligação curiosa entre a cafeína e a forma como certas bactérias reagem aos antibióticos. Em particular, a bactéria Escherichia coi (mais conhecida como E. coli, que vive naturalmente no intestino de seres humanos e de muitos animais e é responsável por doenças como gastroenterites e infeções urinárias). Esta foi submetida a 94 substâncias químicas para perceber como reage a diferentes fármacos.
Um terço das substâncias mostrou algum impacto, mas a cafeína destacou-se. Segundo os resultados, a E. coli absorveu menos quantidade de determinados antibióticos, incluindo a ciprofloxacina, quando exposta à cafeína.
Christoph Binsfeld, microbiologista da Universidade de Würzburg, na Alemanha, explica que “os dados mostram que várias substâncias podem influenciar subtilmente, mas de forma sistemática, a regulação genética nas bactérias”.
Antes de os apreciadores de café se preocuparem com a próxima chávena, os investigadores sublinham que estes resultados foram obtidos em laboratório. Ainda não se sabe até que ponto o consumo humano de café tem impacto real na eficácia dos antibióticos, nem qual seria a quantidade necessária para causar alterações relevantes.
No entanto, o estudo abre portas a novas linhas de investigação sobre a chamada resistência antibiótica de baixo nível, um desafio crescente na medicina moderna.
Enquanto a ciência procura respostas, uma coisa é certa: em Portugal, o café continuará a ser companhia fiel de manhã à noite. E na galeria de imagens não faltam alternativas ao café.