O mercado de trabalho em Portugal continua a revelar fortes desigualdades salariais entre trabalhadores nacionais e estrangeiros. Dados do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, citados pelo Negócios, mostram que, em 2024, 87% dos empregos ocupados por cidadãos estrangeiros remuneravam até mil euros brutos mensais, o que corresponde a cerca de 1,2 milhões de vínculos laborais. Apenas 13% dos postos, ou 179.488 empregos, ultrapassavam esse valor, sendo residual a presença de estrangeiros nos escalões salariais mais elevados, acima dos 2.500 euros.
O peso dos estrangeiros é particularmente visível em setores de baixos rendimentos. Turismo, construção e atividades administrativas e de serviços de apoio, incluindo empresas de trabalho temporário, concentram praticamente metade do emprego estrangeiro, superior a 1,3 milhões de postos de trabalho. Só nestas áreas trabalham 51,1% dos não nacionais, com destaque para alojamento e restauração (16,8%) e construção (14,7%). Em contraste, os trabalhadores portugueses estão mais representados no comércio (16,4%), indústrias transformadoras (16,2%) e saúde e ação social (10,1%).
A dependência da mão de obra estrangeira é ainda mais marcada na agricultura e pesca, onde 61,1% dos postos são ocupados por não nacionais. Também as empresas de trabalho temporário e serviços de apoio têm 39,8% da força de trabalho assegurada por estrangeiros, enquanto no turismo essa proporção é de 39%. A construção regista igualmente um peso significativo (37,1%), assim como o trabalho doméstico com contratos de trabalho dependente (25,6%).
Apesar de a realidade salarial ser globalmente baixa em Portugal, os trabalhadores nacionais apresentam uma distribuição mais equilibrada. Entre os portugueses, 60% dos empregos pagam até mil euros, mas 40% já superam esse patamar, totalizando cerca de 1,7 milhões de postos de trabalho. Ainda assim, apenas 276,5 mil vínculos laborais entre portugueses oferecem remunerações acima dos 2.500 euros, o que mostra a forte concentração de baixos salários no país.
Outro dado que diferencia nacionais e estrangeiros é a multiplicidade de vínculos laborais. Cada contribuinte estrangeiro tem em média 1,4 empregos, acima da média de 1,2 vínculos entre os portugueses. Além disso, 14,9% dos não nacionais estão envolvidos em trabalho independente, percentagem que cai para 11,4% entre os portugueses. Estas estatísticas ajudam a explicar porque muitos estrangeiros acumulam mais do que uma atividade para complementar rendimentos insuficientes.
Em contrapartida, os estrangeiros têm menor expressão em setores de maior qualificação e salários mais elevados, como administração pública (0,9% do emprego), educação (4,2%), eletricidade e gás (4,5%), banca e seguros (4,7%) ou saúde e ação social (9,5%). O retrato confirma que, embora fundamentais para a sustentabilidade da Segurança Social, os trabalhadores estrangeiros continuam fortemente concentrados nas profissões menos qualificadas e mal remuneradas.