“Os bombeiros em Portugal não têm carreira”
André Ventura tem por hábito repetir esta frase, ainda que o Chega tenha votado favoravelmente propostas do PCP para valorizar a “carreira dos bombeiros”, o que seria impossível se esta não existisse. Isto porque, na verdade, os bombeiros sapadores, ou profissionais, constituem uma carreira especial da administração pública, com categorias e progressão, estatutos próprios, remuneração fixa, subsídios e ainda um suplemento de risco, este último previsto no estatuto remuneratório dos bombeiros profissionais inscrito no artigo 29.º do DL n.º 106/2002, de 13 de Abril, como parte integrante da escala salarial da carreira.
No ponto 2 do artigo 29.º, detalha a lei que “o valor do suplemento pelo ónus específico da prestação de trabalho, risco e disponibilidade permanente atribuído aos bombeiros sapadores é integrado na escala salarial da respectiva carreira”, tal como acontece também no caso dos bombeiros municipais.
Ou seja, André Ventura mente quando diz que os bombeiros portugueses não têm uma carreira. Não só têm, como o Chega já a quis valorizar.
Avaliação do Polígrafo: Falso
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“Os presos ganham mais do que os bombeiros por hora”
Por 24 horas de trabalho, um bombeiro voluntário recebe 75 euros (o equivalente a 3,11 euros por hora). Este é o valor pago aos bombeiros voluntários integrados no combate aos incêndios e é agora maior do que em 2024, quando estes operacionais tinham direito a apenas 2,80 euros por hora.
Quanto aos bombeiros sapadores, a remuneração base mensal a auferir é, em 2025, de 1.074 euros (no mais baixo índice remuneratório), ou seja, cerca de sete euros por hora. Este salário integra uma componente relativa ao ónus específico da prestação de trabalho, risco e disponibilidade permanente inerentes às funções exercidas.
No que toca aos reclusos, a tabela salarial aplicável ao trabalho prisional – fixada em 2000 e convertida para euros no ano de 2002 – revela que os presos recebem entre 2,10 e 3,10 euros por dia, quando trabalham para o estabelecimento prisional.
Ou seja, apesar de não ser possível estabelecer uma comparação linear, os dados mostram que tanto os bombeiros voluntários como os sapadores recebem, em regra, mais do que os reclusos.
Avaliação do Polígrafo: Falso
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“Luís Montenegro não foi capaz, ao longo de um ano e meio de Governo, de aumentar o salário/hora dos bombeiros”
Antes de mais, convém esclarecer que, como diz o nome, os bombeiros voluntários não auferem um salário, mas sim uma compensação diária que corresponde não a 8 ou a 12 mas sim a 24 horas de trabalho. Neste momento essa compensação para os bombeiros voluntários integrados no combate aos incêndios é de 75 euros, ou seja, de 3,1 euros à hora. O valor é agora maior do que em 2024, ao contrário do que disse André Ventura, quando os bombeiros voluntários tinham direito a apenas 2,80 euros por hora.
Quanto aos bombeiros sapadores, a remuneração base mensal a auferir é, em 2025, de 1.074 euros (no mais baixo índice remuneratório), ou seja, cerca de 7 euros por hora. Recorde-se que este salário integra uma componente relativa ao ónus específico da prestação de trabalho, risco e disponibilidade permanente inerentes às funções exercidas.
Avaliação do Polígrafo: Pimenta na Língua
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“Quando começaram os incêndios, Portugal tinha zero aviões Canadair. A Grécia tem 17”
No que respeita a Portugal, é verdade que os duas aeronaves Canadair (mais uma de reserva) alugadas à empresa Avincis permaneceram em terra – avariados – durante a fase crítica dos incêndios. Entretanto já estarão a ser substituídas, de acordo com as notícias mais recentes. Além das duas aeronaves que foram emprestadas por Marrocos, em gesto de solidariedade para com Portugal.
Quanto à Grécia, que tem uma população residente de cerca de 10,3 milhões de pessoas, tal como disse Ventura, dispõe de uma frota de 17 aeronaves Canadairpara o combate aos incêndios florestais. Além de quase duas dezenas de aeronaves PZL, mais pequenas e leves. Contudo, importa ressalvar que, pelo menos no início do Verão de 2025, os Canadair da Grécia não estavam todos operacionais.
De resto, a Grécia vai começar a receber – no final de 2027 – a encomenda de sete aeronaves do novo modelo Canadair 515 que, além de ter uma maior capacidade de transporte de água e velocidade, poderá operar durante a noite, uma das principais limitações dos atuais modelos em atividade.
Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro
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“Há mais de mil milhões de fraude e despedício por ano no Ministério da Saúde. São dados públicos”
Em 2016, o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, avançava que cerca de um décimo do orçamento para a saúde era mal utilizado anualmente, “por desperdício ou fraude”, o que resultaria, à data, em mais ou menos 800 milhões de euros: “Só naquilo que é a má utilização decorrente de desperdício ou de fraude, nós não temos dúvidas nenhumas em afirmar que, provavelmente, dez por cento do orçamento total da Saúde estará perdido nesses domínios.”
Neste momento, com uma dotação de quase 15 mil milhões de euros, se a percentagem relativa a desperdício e fraude se mantivesse, estaríamos a falar de um total de 1500 milhões de euros (mais 50% do que o valor apontado por Ventura). Mesmo assim, estes não são “dados reais”, ao contrário do que sugeriu Ventura, que se segurou em estatísticas que, na verdade, não existem.
Avaliação do Polígrafo: Impreciso
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“A SIC gosta de por imagens de imigrantes com Inteligência Artificial a combater os fogos”
Partilhadas pelo “Expresso”, algumas fotografias de imigrantes no terreno, a combater os incêndios, tornaram-se virais no X por, supostamente, terem sido criadas com recurso a Inteligência Artificial (IA). Falhas nos logótipos de garrafas e nas vestimentas dos homens presentes nos registos aumentaram as dúvidas, que acabaram por ser dissipadas neste artigo da “Lusa” que garante que “as imagens publicadas em vários órgãos de comunicação social foram copiadas das redes sociais dos próprios sapadores florestais e de um jornal do Banglasdesh que publicou versões dessas fotografias reais ‘melhoradas’ por uma ferramenta de IA”.
Este artigo está disponível para leitura desde 26 de agosto, ou seja, dois dias antes de Ventura afirmar, falsamente, que as imagens não são verdadeiras.
Avaliação do Polígrafo: Falso
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