Mariam Abu Dagga, jornalista palestiniana cujas fotografias para a Associated Press e outros órgãos de comunicação social captaram a destruição e o sofrimento em Gaza, morreu na segunda-feira, num ataque israelita ao Hospital Nasser, em Gaza, juntamente com pelo menos outras 20 pessoas, entre as quais quatro jornalistas, segundo testemunhas no local e o Ministério da Saúde de Gaza.

Os jornalistas estavam a documentar o trabalho das equipas de defesa civil que recolhiam os corpos de pessoas mortas num ataque inicial, quando um segundo bombardeamento ocorreu.

As fotografias de Dagga transmitidas pelas agências noticiosas a partir de Gaza, incluindo as que mostravam as duras condições no hospital onde viria a ser morta, foram amplamente publicadas pela imprensa internacional.

De acordo com o Comité para a Protecção dos Jornalistas, com sede em Nova Iorque, pelo menos 189 jornalistas e trabalhadores dos meios de comunicação palestinianos foram mortos em Gaza desde Outubro de 2023, tornando este o conflito mais mortífero para a profissão em tempos modernos. Israel acusou alguns jornalistas de ligações ao Hamas, sem fornecer provas verificáveis.

Para além de visitas ocasionais fortemente supervisionadas, Israel tem impedido o acesso de meios de comunicação independentes à Faixa de Gaza. Isto deixou os jornalistas palestinianos sozinhos na cobertura do conflito.

Dagga reportava frequentemente a partir do Hospital Nasser para mostrar “uma das poucas linhas de sobrevivência que restavam às pessoas no sul de Gaza”, onde médicos tratavam pacientes que não tinham outro lugar a que recorrer, disse Sarah El Deeb, colega da AP.

“Mariam tinha a habilidade, o conhecimento e o olhar para captar imagens de mães, cansadas de repetir como os seus filhos adoeceram”, afirmou.

Dagga, de 33 anos, trabalhava como jornalista há cerca de uma década, noticiou a AP. Venceu um prémio interno da agência pela sua cobertura de crianças desnutridas em Gaza.

“Fotografou e filmou a fome em Gaza, os corpos de crianças mortas em ataques aéreos, civis feridos a serem levados às pressas para tratamento, e familiares em luto nos funerais. Estava focada em documentar Gaza de forma directa, sem procurar transformar o fotojornalismo em arte”, disse Enric Martí, um dos seus editores de fotografia na AP.

“Nunca falei directamente com ela”, disse Martí. “Mas sentia que compreendia a sua forma de pensar quando fotografava.”

Abby Sewell, editora da AP, escreveu numa publicação na rede X que Dagga “foi uma verdadeira heroína, como todos os nossos colegas palestinianos em Gaza”.

Colegas contaram que Dagga regressava sempre do terreno com mais pormenores do que os outros esperavam. “Agora, em Khan Younis, estamos órfãos”, disse Martí. “Ela era os nossos olhos ali.”