Alguém disse que o melhor do mundo é, por inerência lógica, o melhor da Europa? Quem o fez enganou-se desta vez. A Inglaterra bateu a Espanha na final do Campeonato da Europa feminino de futebol, vencendo, neste domingo, a equipa que é actualmente a campeã do mundo.

Houve 1-1 nos 90 minutos, 0-0 no prolongamento e 3-1 no desempate por penáltis na final de Basileia. Este é o segundo título consecutivo das inglesas, um triunfo que confirma a trajectória nesta competição: em cinco jogos antes desta final, a Inglaterra só tinha conseguido vencer dois nos 90 minutos – era até criticada pelo parco futebol ofensivo e pelo jogo algo rudimentar.

E este foi, nesse sentido, mais um triunfo “à inglesa”, depois de ter sofrido muito com a Suécia e com a Itália. E até nesta final entraram a perder e, no momento dos penáltis, voltaram a começar por baixo. Se não for a sofrer talvez não lhes saiba tão bem.

A treinadora Sarina Wiegman mantém o “toque de Midas”, já que é o terceiro título europeu consecutivo, depois de ter vencido com os Países Baixos em 2017.

Na partida em Basileia houve o já esperado confronto de estilos, comprovado ao vivo por mais de 34 mil pessoas. A Inglaterra é uma equipa muito física e mais combativa e objectiva do que complexa na forma de criar futebol ofensivo – e foi isso que levou a esta final. Já a Espanha levou o habitual jogo mais associativo, procurando tratar bem a bola e envolver toda a equipa no processo ofensivo, mas acabou por pecar pela incapacidade de não traduzir em golos o amplo domínio aplicado na primeira parte.

Espanha saiu na frente

A Inglaterra entrou melhor no jogo e conseguiu ameaçar a baliza espanhola num par de vezes, mas a Espanha não demorou a colocar o seu jogo no relvado – que no caso desta equipa equivale a dizer que começou a ter uma circulação mais prolongada e paciente, deixando as inglesas a correrem atrás da bola.

A posse de bola algo estéril acabou por ganhar mais sentido e o golo surgiu depois de duas oportunidades – foi num cabeceamento de Mariona Caldentey depois de um bom cruzamento do lado direito. A linha defensiva muito adiantada estava a permitir à Espanha “abafar” rapidamente as saídas inglesas, cujo futebol era apenas de ataque ao espaço.

Após o intervalo, e já com uma mexida na equipa, a Inglaterra regressou mais capaz de ter bola e, sobretudo, com maior capacidade de saltar a primeira linha de pressão espanhola, encontrando espaços. E marcou aos 56’, também de cabeça – foi Russo, depois de um cruzamento de Kelly.

A partida começou, depois, a ficar mais partida e com constantes momentos de transições – o desgaste terá tido peso nessa fase do jogo. No prolongamento as equipas tentaram precaver-se e o risco foi bastante menor, mesmo que tenham cabido à Espanha as melhores oportunidades de golo.

Nos penáltis até houve primeiro erro por parte das inglesas, com o pontapé falhado por Mead, mas Mariona, Bonmatí e Paralluelo falharam três pontapés para a Espanha.

Individualmente, os penáltis trouxeram curiosidades relevantes. Chloe Kelly, que entrou no final da primeira parte, foi decisiva: fez a assistência para o empate (e ainda teve um golo nos pés) e bateu o penálti decisivo, depois de já ter sido heroína na meia-final. Do lado espanhol, Mariona e Bonmatí, apontadas por muitos como as jogadoras mais fortes do torneio, acabaram por ficar directamente ligadas à derrota espanhola com a incapacidade de transformar os penáltis em golos.