Miguel Sousa Tavares criticou a postura que Donald Trump tem adotado neste segundo mandato, defendendo que “o homem acha-se dono da América, que ainda é uma democracia, e, em breve, dono do mundo”

Miguel Sousa Tavares lançou duras críticas a Donald Trump no espaço de comentário 5.ª Coluna, do Jornal Nacional da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal), colocando em causa o próprio funcionamento da democracia norte-americana e referindo que os EUA estão cada vez mais perto “das ditaduras sul-americanas”.

“É difícil responder [se a América ainda é uma democracia], mas, começando pelo lado mais visível, parece-se cada vez mais com as ditaduras sul-americanas. Chega-se à fronteira e o visitante é recebido por guardas com armas de assalto. À partida, qualquer pessoa é suspeita só por entrar nos Estados Unidos.”

O comentador sublinhou que Trump está a recorrer às Forças Armadas de forma seletiva, destacando tropas “apenas para estados governados por democratas”, apesar de “a criminalidade ser mais elevada em estados republicanos”. “É uma forma de intimidação, um abuso de poder, numa altura em que o crime está, de facto, a diminuir em todas as grandes cidades.”

Para Miguel Sousa Tavares, a essência da democracia americana está a ser corroída. “A democracia é um regime de poderes e contrapoderes. Em que o poder judicial, o legislativo e o executivo limitam-se uns aos outros. Isto acabou nos EUA. Trump acabou com isso. Ao mandar tropas contra a vontade dos governadores, ultrapassou a autoridade dos estados.”

Na 5.ª Coluna, o comentador recordou ainda que Trump concentrou em si um poder absoluto, “primeiro, conquistando a presidência, segundo, conquistando a maioria no Senado e na Câmara dos Representantes e, terceiro, nomeando quatro juízes conservadores para o Supremo Tribunal Federal, que são nomeados vitaliciamente”.

Migue Sousa Tavares enumerou ainda as sucessivas investidas de Trump contra instituições e liberdades fundamentais: “primeiro contra as universidades que acolheram manifestações pró-Palestina”, depois “através da demissão de equipas inteiras dos Serviços Secretos e do FBI, por não validarem as suas posições”. “Ataca também a liberdade de imprensa. Apesar disso, ainda são o que segura a democracia americana, embora tenha feito a coisa incrível de selecionar quais os jornalistas que podem estar na Casa Branca e no avião presidencial”.

O comentador alertou para o que considera ser “a ameaça mais perigosa: a manipulação do mapa eleitoral”. “Só no Texas, Trump poderá garantir mais cinco representantes nas próximas intercalares. Se repetir esta estratégia noutros estados, assegura uma maioria republicana para sempre, fazendo batota.”

Segundo Miguel Sousa Tavares, Trump não se limita a impor os seus “tiques autoritários” dentro de portas. “Quer exportá-los através das tarifas, essa arma “tão bonita” como que ele diz. Penaliza o Brasil porque há um processo contra o seu amigo Bolsonaro; a Índia, porque aposta fortemente na energia solar; e outros países que insistem em combater as alterações climáticas. O homem acha-se dono da América, que ainda é uma democracia, e em breve dono do mundo.”

Para o comentador da TVI, travar Trump não será fácil. “Hoje, grande parte da sociedade civil está com ele porque soube usar as redes sociais para mentir. Esse é um princípio nazi: repetir tantas vezes uma mentira até que passe a ser aceite como verdade.