Na equipa UAE Emirates, em que os principais elementos correm por objetivos diferentes, Juan Ayuso renasceu das trevas de uma pretensa incapacidade física na etapa da véspera, em que perdeu sete minutos para os melhores admitindo incapacidade de competir pela geral e da coliderança da formação com João Almeida, para vencer isolado ao sétimo dia da Volta a Espanha a partir de uma longa fuga.
O jovem espanhol esteve bastante ofensivo desde o início da etapa, escapando ao pelotão com clara intenção de vencer a etapa, aparentemente recuperado das más sensações no final da tirada anterior, em que se demitiu da corrida. Numa aventura de 170 quilómetros, Ayuso viria a contar com a colaboração de uma dezena de corredores, e a cerca de 10 quilómetos da meta, pouco acima do sopé da derradeira montanha do dia (Cerler Huesca La Magia: 12,1 km à 5,9%), partiu para o ataque. Após fugaz resistência do compatriota Raul Garcia Pierna (Arkéa), o catalão de 22 anos isolou-se, partindo definitivamente para uma vitória categórica.
«Não sei se compensa por ontem [quinta-feira], mas posso dizer que esta vitória foi sobre orgulho. Antes da partida, os da Visma disseram-me que não me iam deixar sair, mas dei tudo na primeira subida, sofri muito. No final, arranquei desde o início [da subida]. Foi muito longe, mas alcancei o objetivo», declarou Juan Ayuso, no discurso de vitória, a terceira consecutiva da UAE Emirates.
«É incrível. Depois de ganhar a minha primeira etapa numa grande Volta no Giro, agora esta vitória na Vuelta é muito especial, pois é a minha corrida favorita. Ganhei com muito sacrifício, vou recordar este dia para sempre, estou muito orgulhoso», reforçou o jovem espanhol, que ocupa a 25.ª posição da geral, a 7.28 minutos da camisola vermelha.
Desta aventura madrugadora na jornada segunda montanhosa consecutiva da prova, também fez parte Jay Vine, outro companheiro do português, vencedor da etapa anterior, e a partir de então a correr pela classificação de melhor trepador, cuja liderança reforçou ontem. O australiano, fatigado, cedeu na ascensão final, de primeira categoria e coincidente com a meta em Cerler, e não teve energia para acompanhar o pelotão em apoio a Almeida.
No pelotão, na proteção ao corredor luso, elevado a líder único da sua equipa após a etapa da véspera, perante a cedência de Ayuso, permaneceu apenas o espanhol Marc Soler, que entrou ao serviço do português a 3,5 quilómetros da meta.
Estando o triunfo garantido por Juan Ayuso, que cortou a linha com os dedos indicadores a taparem os ouvidos, num gesto simbólico de que é inume às críticas, João Almeida pediu a Soler para endurecer o ritmo no pelotão e pouco depois partiu para o ataque. Num primeiro momento, o português selecionou o grupo de favoritos a apenas um trio, com Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike) e Giulio Ciccone (Lidl-Trek), mas, à falta de colaboração destes, teve de aliviar o ritmo, permitindo a recuperação de um grupo de 14 unidades, incluindo todos os homens do top-10.
Até ao final, não houve mais movimentações neste minipelotão, que terminou a 2.35 minutos de Juan Ayuso, e incluía o camisola vermelha Torstein Traeen (Bahrain), que defendendo-se bem, manteve a liderança da geral sem perder tempo.
João Almeida concluiu a etapa na 19.ª posição e subiu à terceira posição da classificação geral, à mesma distância de Traen, 2.41 minutos, e de Jonas Vingegaard, segundo (8 segundos).
No sábado, após duas etapas de montanha, os ciclistas vão ter uma oitava etapa sem qualquer contagem de montanha, com 163,5 quilómetros entre Monzón Templário e Saragoça, com as dificuldades a regressarem no domingo.