“Nos Estados Unidos, o CDC [Centros para Controle e Prevenção de Doenças] autoriza a prescrição para homens que fazem sexo com homens ou mulheres trans que tenham tido diagnóstico de alguma IST que pode ser coberta pela DoxiPEP, no caso sífilis, clamídia ou gonorreia, nos últimos 12 meses. Não há recomendação de uso pela população em geral”, afirma Torres.

O objetivo de iniciativas locais é reduzir a incidência de sífilis, que tem crescido globalmente e no Brasil. Desde 2021, os novos casos aumentam cerca de 11% ao ano no país. Segundo o último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, em 2024, foram identificados 113 casos de sífilis adquirida para cada 100 mil habitantes, o maior número da década.

Por isso, o uso da DoxiPEP já tem sido feito por alguns pacientes, especialmente da comunidade LGBTQIAPN+, mas de forma off-label, sem recomendação em bula. Ainda não há uma diretriz nacional — nem de sociedades médicas, nem do governo — sobre a prática.

No último dia 15 de agosto, o Ministério da Saúde abriu uma chamada pública para colher experiências de pacientes que utilizam ou já tenham utilizado o medicamento. A consulta ficou disponível até esta segunda-feira (25), e as informações servirão para análise da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) sobre uma eventual implantação da DoxiPEP no SUS.

Riscos do uso

Segundo Torres, as evidências que apoiam a DoxiPEP ainda são iniciais e é preciso avaliar o risco-benefício da prática diretamente com o paciente. “A doxiciclina já é usada de forma contínua para profilaxia de algumas doenças, como a malária, e, nesses casos, não mostrou crescimento da resistência bacteriana. Ou seja, temos evidências que são positivas e esperamos que elas sigam se confirmando em novos estudos”, afirma a médica.