Bernardo Sousa tem-se destacado no WEC. O piloto madeirense mudou-se esta temporada para a resistência e desde então tem feito um trabalho muito positivo. A meio da época, Sousa já tem cinco provas feitas este ano, mais a sua participação nas 24h de Spa. Pouco a pouco, Sousa vai-se mostrando no mundo dos GT e da resistência. Neste fim de semana, faz dupla com António Félix da Costa na prova de endurance da Porsche Cup Brasil.

Numa conversa com o AutoSport, no Estoril, o explicou a presença na competição brasileira:

“O António convidou-me para fazer esta prova. Foi de imediato que aceitei. No entanto, surgiram uns contratempos e a vaga que era para mim acabou por ser atribuída a um piloto brasileiro. Mas, como há coisas que são feitas para acontecer, o dito piloto não podia estar presente neste fim de semana e fui chamado à última hora para fazer dupla com o António, o que me deixa muito feliz.”


“No geral, balanço muito positivo, pessoalmente ainda não estou realizado”

Mais do que a participação na prova, uma vez que estávamos ainda no arranque do fim de semana, Sousa fez um balanço da sua temporada atual, mostrando-se satisfeito com o seu andamento, apesar de ainda não ter chegado ao resultado desejado.

“O balanço é excelente, colocando tudo em cima da balança. Mas falta ainda concretizarmos o nosso andamento. Podíamos ter vencido em Imola. Podíamos ter feito o segundo lugar em Spa. Le Mans foi o que foi, mas terminamos a corrida. Interlagos, a nossa estratégia já estava a dar os frutos e iríamos estar na luta pelo pódio no final da corrida. No geral, balanço muito positivo, pessoalmente ainda não estou realizado”.

Bernardo não poupa elogios à sua equipa, onde se sente confortável. “Claramente, acho que é inegável que a equipa está a fazer um bom trabalho.” A diferença de experiência é um desafio, mas o piloto mostra-se orgulhoso da sua competitividade. “O carro irmão é um carro muito mais experiente que nós. O bronze dele já fez 10 anos de corridas de GT Open, e nós estamos sempre ali, taco a taco. Estou extremamente feliz. Falta apenas o champanhe para ficar totalmente feliz. Acredito que o meu trabalho está a ser bem-feito e agora vamos para as últimas três focados nos resultados que nos têm escapado entre os dedos.”


“O objetivo principal é ficar no WEC”

O futuro é ainda incerto, mas a ambição de continuar é grande. “Estou contente com a equipa e a equipa está contente com o meu trabalho. O objetivo principal é ficar no WEC. Agora, vamos ver o que é que vai acontecer.” Bernardo Sousa acredita que um segundo ano seria crucial para a sua evolução. “Caindo de paraquedas aqui, há muita coisa a aprender. Pistas novas, o BoP e o que ele provoca no carro… muita coisa nova a assimilar. Acredito que, se tiver um segundo ano, será tudo muito melhor. Pode não acontecer por diversas razões, mas pelo menos a parte desportiva ou pessoal seria uma evolução natural, seria uma coisa ótima.”

“Estou feliz com o que tenho feito. Cometi um erro aqui e outro acolá, que consegui compensar em corrida. Admito que em qualificação ainda não consegui acertar com o ponto ideal dos pneus, mas tenho conseguido recuperar nas corridas. Acho que estou na equipa certa, com a marca certa. Vamos ver o que vem”.


A magia do endurance

Spa terá sido o momento do “click” para Sousa, com um primeiro stint de grande qualidade. O piloto apontou que, por estar já algo familiarizado com a pista, permitiu uma evolução maior nesse fim de semana:

“Em Spa, apesar de não andar lá há muitos anos, já conhecia a pista, a envolvência e as caraterísticas básicas do traçado. E isso ajudou a ter um fim de semana positivo, a fazer bons stints e a estar na luta pelo pódio. Por exemplo, em Interlagos o primeiro Stint é bom, mas o segundo já ficou comprometido a bem da estratégia da equipa. Fui o único nessa paragem a não colocar pneus novos e isso, como se compreende, não ajuda, mas havia um objetivo maior em mente. O endurance tem essa magia que, por vezes, quem está de fora não entende tão bem. É também por isso que quero ficar aqui por muitos e bons anos.”


A Paixão pelos Rallys e a Crítica ao Modelo Atual

A conversa derivou para a sua primeira paixão, os ralis. Bernardo Sousa não esconde a sua crítica ao modelo atual do WRC. “Acho que este modelo atual está ultrapassado. O Mundial de Rally neste momento é muito caro. É impossível um privado chegar ao andamento de uma equipa oficial. E não é por falta de talento. Todos se adaptaram as exigências do mundo moderno e o mundial de ralis ficou para trás e a questão dos preços ficou insustentável.”

Quanto ao futuro e à mais que provável aposta nos Rally2, Sousa relembrou os tempos dos RRC:

“Acho que pode ser a via certa e já foi tentado no passado pelo Malcolm Wilson com os RRC. Eram mais ou menos na mesma faixa de preços. Acredito que é preciso uma plataforma que permita o seguinte: tu compras um Rally 5, e o ano seguinte consegues passar para Rally 4, e com a mesma carroçaria, passas para o Rally 3. Uma evolução sustentada desde a base. Depois, a partir daí, tentas dar o salto para o topo.”

O madeirense acredita que as mudanças que se avizinham são necessárias. “Estas mudanças devem-se claramente às dificuldades que os ralis atravessam, mas ainda bem que isso aconteceu, pois isso permite que se faça esta alteração que acredito vá ser positiva para os ralis.”

O elogio a Malcolm Wilson e à Ford

Ainda sobre os ralis, Sousa fez questão de enaltecer o trabalho de Malcolm Wilson nos ralis:

“Acho que fundamental reconhecer o trabalho do Malcolm Wilson nos ralis, com uma estrutura privada, com o apoio da Ford. Nos últimos 10 anos, todos os campeões do mundo, exceto Ogier, de uma forma ou outra passaram, têm ligações à equipa e à marca. Tanak, Neuville, mesmo o Rovanpera andou de Ford com um Ford R5 e o Evans ainda não é campeão, mas é candidato e passou por lá. Isso mostra a importância deste tipo de estruturas na competição”.


O Renascimento e a Emoção de Correr

Bernardo Sousa é agora um piloto diferente. Mais alegre, mais aberto, mais vibrante. Muito diferente do Bernardo que chegamos a ver há alguns anos, mais cinzento, mais fechado. Questionamos se a sua chegada ao WEC foi uma espécie de renascimento motorsport e Sousa concordou com essa visão:

“Pouca gente entendeu a entrevista que vos dei em Spa, quando falei dos testes dos primeiros testes nos GT. A verdade é que muita gente naquela altura me aconselhou a velocidade. Apostei nos ralis e segui a minha paixão e fui bem-sucedido, quer nas competições nacionais como internacionais e, nesse caso, nem sempre com as melhores condições. Fomos sempre apostando nos ralis. Os astros nunca se alinharam para um regresso às pistas e aconteceu agora, o que me deixa muito feliz e espero que seja para ficar.”

A passagem pelo GT World Challenge em Spa foi intensa e competitiva, algo que o fez melhorar. “O andamento é muito forte. É muito competitivo, os pilotos são super agressivos. Gostei muito da experiência. A filosofia é de ir ao ataque e são permitidos mais alguns excessos, relativamente ao que vemos no WEC. Os pilotos arriscam mais, o nível é alto e gostei muito do que vivi lá. Neste momento o WEC é o meu foco e quero manter-me, mas o GT World Challenge é um campeonato muito interessante. Aposta nos GT para continuar? Sem dúvida!”

Bernardo Sousa é um piloto feliz. Encontrou no WEC e na resistência um novo mundo que está a gostar de explorar. Não esconde a paixão pelos ralis e a conversa, invariavelmente, passa por esse tema, mas Sousa está diferente e para melhor, dizemos nós. E a continuar com o trabalho que tem realizado, o WEC pode mesmo tornar-se na sua casa nos próximos tempos. Quando falamos de renascimento, apontávamos para a isso mesmo. Bernardo Sousa concordou e esta nova fase é também uma nova oportunidade para ser feliz e mostrar o seu talento. Há mudanças que vêm por bem.