O escansão de água Doran Binder, na fotografia de capa do artigo, selecionou o menu de águas para o restaurante inspirado na gastronomia francesa. Fica localizado no norte de Inglaterra

Os franceses são conhecidos pela sua paixão por bons vinhos. O La Popote, restaurante que explora a gastronomia francesa no norte de Inglaterra, não é exceção.

O restaurante do condado de Cheshire, que integra o Guia Michelin, disponibiliza aos clientes uma escolha entre quase 140 variedades de vinho. Contudo, este negócio está agora a dar um passo ousado para responder aos clientes que, não deixando de ser exigentes, não consomem bebidas alcoólicas. Como? Com um menu completo de água engarrafada.

Os clientes já podem escolher entre três variedades de água sem gás e entre quatro variedades de água com gás. Além disso, há água da torneira, gratuita.

O La Popote está a tirar partido de uma tendência global que assenta na decisão de ficar longe do álcool. Uma pesquisa da Gallup realizada no ano passado, por exemplo, mostra que 58% dos adultos americanos bebem álcool, o que representa uma quebra face aos 67% registados em 2022. Há um número crescente de americanos a deixar o álcool, seja de forma permanente ou temporária. Ao mesmo tempo, há muitos restaurantes a oferecer uma variedade cada vez maior de cocktails sem álcool e surgem os conceitos de ‘bares para pessoas sóbrias’ e de lojas de bebidas não alcoólicas, que se estão a tornar cada vez mais populares.

O chef Joseph Rawlins, que fundou e gere o La Popote, com a companheira, a francesa Gaëlle Radigon, conta que começaram por receber uma abordagem com esta ideia da parte de Dorian Binder, que já fornecia ao restaurante a sua água “da casa” sob a marca Crag Spring Water.  Binder, que é um escansão (ou “sommelier”, na expressão francesa) de água certificado pela Fine Water Academy, já tinha sugerido a ideia de um menu de águas ao casal há três anos.

 

Os donos Joseph Rawlins e Gaëlle Radigon no exterior do seu restaurante inspirado na gastronomia francesa, o La Popote (Cortesia Julian Kronfli)

“Eu ri-me”, conta Rawlins à CNN. “Comecei por achar que era uma ideia ridícula”.

Contudo, quando Binder convidou o casal para uma degustação no seu “bar de águas”, em Peak District, um parque nacional no centro-norte de Inglaterra, ficaram convencidos.

“Foi incrível”, recorda Rawlins, acrescentando que agora acredita que “a água não é só água”.

Na primeira degustação, experimentaram cinco ou seis variedades diferentes. “Depois, fizemos uma degustação com as mesmas águas, mas combinadas com certos alimentos, como queijo Manchego, queijo Comté, chocolate, presunto de Parma ou azeitonas. Tal como acontece com o vinho, o sabor pura e simplesmente mudou”.

O restaurante é o primeiro do Reino Unido a oferecer um menu de águas. E, segundo Binder, um dos poucos no mundo.

O menu de águas do La Popote, selecionado por Binder, apresenta uma seleção de águas vindas de toda a Europa, incluindo o Reino Unido, França, Espanha e Portugal. Os preços variam entre as cinco libras (cerca de 5,80 euros) por uma garrafa grande da marca do escansão, a Crag, e as 19 libras (22 euros) pela The Palace of Vidago [Palácio de Vidago], que é uma água com gás portuguesa.

“O nível de minerais na água é o que determina o sabor e o aroma”, explica Binder à CNN. “É aquilo a que chamamos de sólidos dissolvidos totais, ou SDT”, junta.

“A água destilada tem zero SDT. É excelente para limpar janelas, para aparelhos elétricos, para a bateria do carro, mas uma porcaria para os seres humanos”, descreve, notando que a água do mar está no outro extremo do espetro, com 30 mil a 40 mil SDT.

A gama disponibilizada pelo restaurante vai dos 14 SDT na água mineral com gás Lauretana, vinda de Itália, aos 3.300 SDT na Vichy Celastins, vinda de França.

A água francesa tem um sabor bastante salgado no início, diz Rawlins. “Depois, ao misturar-se com algo bastante salgado, como o presunto de Parma, ambos acabam por se equilibrar naturalmente. Assim, a água deixa de ser salgada e o sabor do presunto permanece mais tempo na boca”.

 

Os donos do restaurante decidiram lançar um menu de águas depois de terem feito uma degustação no “bar de águas” do escansão Doran Binder (Cortesia Doran Binder)

A forma como a água é servida também é algo importante, reitera Rawlins. “Recomendamos que a água seja servida à temperatura ambiente, com gelo e uma fatia de limão. É como o vinho: se estiver muito fria, perde todo o sabor”.

O menu de águas está a dar aos clientes “outra dimensão”, acrescenta, notando que “muitas pessoas estão a beber menos [bebidas alcoólicas] agora”.

Binder, que nunca bebeu álcool, concorda. “Há cada vez mais pessoas que não bebem álcool, como eu. Sou um grande apreciador de comida e, quando vou a um restaurante, apressam-se a pôr um menu de vinhos à minha frente, que é algo que não me interessa”.

“Mas ponham-me um menu de águas à frente, que abrem logo uma nova fonte de receitas. É atrativo para os restaurantes e para os clientes, porque há cada vez mais pessoas preocupadas com a sua saúde. Trata-se, na verdade, de uma experiência epicurista”.

Jordan Valinsky contribuiu para esta reportagem