A camada de gelo da Antártida Ocidental, uma das maiores massas de gelo do planeta, com cerca de 1,97 milhões de km², encontra-se à beira de um colapso catastrófico, advertem cientistas. Investigadores da Australian National University afirmam que, com a contínua subida dos níveis de dióxido de carbono (CO2), a camada de gelo está a enfraquecer e o risco de colapso total aumenta.
Se este cenário se concretizar, estima-se que o nível global do mar suba cerca de três metros, o equivalente a 9,8 pés, inundando cidades costeiras em todo o mundo. No Reino Unido, localidades como Hull, Skegness, Middlesbrough e Newport seriam completamente submersas, enquanto na Europa, grande parte dos Países Baixos, bem como cidades como Veneza, Montpellier e Gdansk, ficariam debaixo de água.
A investigação liderada por Dr. Nerilie Abram alerta que as mudanças rápidas já detetadas no gelo, nos oceanos e nos ecossistemas da Antártida irão agravar-se com cada fração de grau adicional de aquecimento global. “A perda do gelo marinho antártico é uma mudança abrupta que desencadeia efeitos em cadeia, tornando as plataformas de gelo flutuantes mais vulneráveis a colapsos provocados por ondas”, explica a investigadora.
O estudo também sublinha a ameaça aos ecossistemas e à fauna, com particular atenção aos pinguins-imperador. Professor Matthew England, coautor do estudo, alerta: “A perda do gelo marinho aumenta o risco de extinção para os pinguins-imperador, cujos pintainhos dependem de um habitat de gelo estável antes de desenvolverem as penas impermeáveis”.
O estudo detalha que, no pior cenário, centenas de cidades costeiras seriam submersas. Ferramentas de análise, como o Coastal Risk Screening Tool da Climate Central, indicam que a costa leste da Inglaterra seria a mais afetada, com cidades como Hull, Skegness e Grimsby completamente debaixo de água, estendendo-se a áreas interiores como Peterborough e Lincoln. Em Londres, zonas do Rio Tamisa, incluindo Bermondsey, Greenwich, Battersea e Chelsea, seriam afetadas.
Na costa oeste, bairros de Weston-super-Mare, Newport e Cardiff, bem como partes de Southport e Blackpool, também estariam em risco. Já na Escócia e Irlanda do Norte, o impacto seria mais limitado. Em Europa continental, prevê-se que toda a costa de Calais ao sul da Dinamarca, incluindo Veneza, ficaria submersa. Nos Estados Unidos, cidades do sul como New Orleans, Galveston e Everglades seriam fortemente afetadas.
Os investigadores alertam que a única forma de evitar estas mudanças abruptas e os seus efeitos devastadores é reduzir rapidamente as emissões de gases com efeito de estufa, limitando o aquecimento global a cerca de 1,5ºC. “Governos, empresas e comunidades precisam considerar estas mudanças abruptas da Antártida nos planos futuros de adaptação às alterações climáticas”, conclui Dr. Abram.