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É nos Países Baixos onde se trabalha menos: apenas 32,1 horas por semana, segundo dados do Eurostat. Este “sucesso acidental” deve-se, em grande parte, à forte adoção do trabalho em meio período: 42% dos holandeses estão em empregos desse tipo, contra uma média de 20,5% na UE.

A medida foi historicamente pensada para integrar mulheres no mercado de trabalho sem comprometer o modelo familiar tradicional, permitindo que conciliassem emprego e cuidados domésticos.

Segundo o FMI e a Harvard Magazine, esse modelo surgiu como consequência de decisões tomadas há décadas. Na década de 1970, as mulheres estavam quase excluídas do mercado de trabalho, e políticas fiscais incentivavam que permanecessem em casa. Reformas posteriores, como a Lei da Igualdade de 1996, garantiram direitos iguais para trabalhadores de meio período e integral, criando uma cultura de flexibilidade que seduziu empregadores e moldou a economia holandesa, explica o ‘elEconomista’.

No entanto, a adoção generalizada do trabalho em meio período gerou um problema relevante: a disparidade salarial entre homens e mulheres. Atualmente, mulheres ganham em média 40% menos que os homens, uma consequência de ocuparem maioritariamente cargos de meio período. Além disso, a maternidade continua a impactar significativamente os rendimentos femininos, enquanto a renda masculina permanece quase inalterada.

Perante este cenário, os políticos em Amsterdão estão a tentar reverter a tendência e aumentar o número de horas trabalhadas. Especialistas, como Wieteke Graven, da fundação Het Potentieel Pakken, defendem que a solução deve passar por incentivar mulheres em setores dominados por elas, como saúde e educação, a aumentar as suas jornadas laborais, aproveitando a crescente procura por mão de obra.

“Nos Países Baixos, trabalhar mais horas é uma opção, não uma necessidade financeira”, comenta Graven. Apesar da elevada qualidade de vida e produtividade do país, aumentar a jornada de trabalho enfrenta desafios estruturais, incluindo a complexidade do sistema fiscal e benefícios, que desincentiva horas extras.

Assim, o país que se tornou líder europeu em flexibilidade laboral enfrenta agora o paradoxo de ter conquistado, quase por acidente, a semana de 4 dias, e precisar repensar o seu modelo para reduzir desigualdades e equilibrar mercado e produtividade.