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A maioria das pessoas associa o colesterol alto a uma alimentação não saudável e um estilo de vida sedentário – uma condição que evolui ao longo de muitos anos e com a qual só precisa de se preocupar à medida que envelhece.

Mas nem sempre é assim. Em alguns casos, o colesterol alto não se deve aos hábitos de cada pessoa, mas à sua genética – uma doença chamada hipercolesterolemia familiar (HF).

Reconhecer os sinais e sintomas do colesterol alto é essencial para tomar as medidas necessárias para geri-lo. A National Geographic falou com três cardiologistas para lhe dizer aquilo que precisa de saber sobre o colesterol alto herdado.

O que é o colesterol — e porque é tão perigoso

O colesterol é um composto gordo e ceroso de que todas as células do nosso organismo necessitam em doses múltiplas diárias para funcionar, explica Stephen Kopecky, cardiologista da Mayo Clinic e autor de Live Younger Longer.

“As paredes das nossas células são feitas de colesterol, as nossas hormonas utilizam colesterol para se fabricarem”, diz Kopecky. “Um humano adulto tem cerca de 30 biliões de células no seu corpo e, basicamente, todas elas precisam de dezenas de milhares de doses de colesterol por dia. Por isso, há uma grande quantidade de colesterol a circular no nosso organismo – e é essencial.”

A fim de ser transportado até às células, o colesterol é empacotado em partículas denominadas lipoproteínas, explica Gregory Katz, cardiologista na NYU Langone Health.

A maioria das pessoas já ouviu falar no “colesterol bom” (lipoproteína de alta densidade, ou HDL) e no “colesterol mau” (lipoproteína de baixa densidade, ou LDL), que todos temos. Contudo, explica Katz, não é o colesterol em si que é bom ou mau – o termo refere-se à forma como o colesterol é empacotado e como é transportado pelo corpo.

O colesterol HDL transporta o colesterol LDL para fora das artérias, levando-o até ao fígado onde é decomposto e excretado. No entanto, se existirem demasiadas lipoproteínas LDL a flutuar no organismo, estas podem ficar presas às paredes das artérias e causar inflamação. E as paredes das artérias não foram feitas para armazenar colesterol – é uma substância estranha, diz Kopecky.

“Imagine que tem uma farpa na mão – a zona fica vermelha e quente. Passa-se a mesma coisa com o colesterol nas paredes das suas artérias”, diz Kopecky. “As paredes das artérias ficam mais quentes porque o corpo envia glóbulos brancos para o local a fim de eliminá-lo. Ao fazê-lo, pode romper o revestimento da artéria. E, se revestimento se romper, pode expor o sangue existente dentro dela. E o sangue pensa: ‘Ó meu Deus, a nossa artéria inteira está rota, vamos coagular.’ E, quando coagula, pode causar um ataque cardíaco ou um AVC.”

O colesterol alto não costuma causar sintomas antes de atingir esse ponto, diz Katz, razão pela qual é tão perigoso. A maioria das pessoas descobre que tem colesterol alto através de análises de rotina.“Há ocasiões em que as pessoas vão um cirurgião ortopédico com lesões no tendão de Aquiles e descobrem, pela primeira vez na vida, que têm o colesterol alto”, diz Kopecky.

Mas existe um subgrupo de pessoas cujo colesterol é tão alto que pode dar sinais através de depósitos nos tendões, sob a forma de manchas na pele semelhantes a placas, ou nos olhos, como um anel branco na fronteira entre a íris e a parte branca do olho, explicam Kopecky.

Como descobrir se o seu colesterol alto foi herdado

Factores de estilo de vida como a falta de exercício físico, uma alimentação não saudável e obesidade são as causas mais comuns do colesterol alto. Isto costuma traduzir-se numa quantidade de colesterol total acima de 200 miligramas por decilitro de sangue, ou mg/dL. O nível de colesterol óptimo é cerca de 150 mg/dL.

Quando o colesterol alto é causado pelo estilo de vida, é possível invertê-lo com escolhas mais saudáveis. Contudo, isso não é uma opção para as pessoas com hipercolesterolemia familiar, que pode manifestar-se se um ou ambos os progenitores tiverem uma mutação genética, explica afirma Ashish Sarraju, cardiologista da Cleveland Clinic. É extremamente importante diagnosticar a condição o mais cedo possível, pois existem coisas que pode fazer para impedir os piores desfechos.

Algumas directrizes pediátricas recomendam a realização de análises ao colesterol em crianças entre os 9 e os 11 anos, caso os pais tenham HF, mas as crianças podem fazer análises ainda mais cedo em alguns casos, diz Sarraju. Ele recomenda consultar um especialista para receber recomendações individuais.

Para os adultos, porém, “nunca é cedo demais para testá-lo”, diz Sarraju. Se tiver um historial familiar de colesterol alto, ataques cardíacos ou AVCs, mas ahaninguém tiver sido examinado em busca de uma condição como a HF, deverá fazer uma análise ao colesterol o mais rapidamente possível quando atingir a idade adulta.

Devemos mencionar que uma grande parte das pessoas com HF também têm a lipoproteína(a) elevada, segundo a American College of Cardiology. A lipoproteína(a) é outra partícula que transporta o colesterol e causa doença cardíaca – e também é maioritariamente genética, explica Sarraju. A investigação sugere que os níveis elevados de lipoproteína aumentam o risco de doença cardíaca nas pessoas com HF.

O que fazer se tiver herdado colesterol alto

Se descobrir que tem HF, o seu médico deverá aconselhá-lo a prestar atenção aos seus hábitos alimentares e de exercício, diz Kopecky. Estas alterações de estilo de vida não irão afectar o seu colesterol LDL, porque o colesterol alto é causado pela genética, explica Kopecky. No entanto, um estilo de vida saudável reduz até 80 por cento o risco de problemas cardíacos, afirma.

Katz diz que é boa ideia fazer análises ao colesterol todos os anos ou a cada dois anos e ponderar sobre medicação como estatinas – com base no seu nível de risco individual e no historial familiar.

Um diagnóstico de HF poderá ser uma boa notícia porque acaba por prevenir os perigos representados pelo colesterol alto. “Na maioria dos casos, acho que o colesterol alto é uma batalha que se pode tratar e vencer”, diz Sarraju.