“Uma forma de contornar esse problema é prolongar o tratamento ou aumentar a dose do medicamento. No entanto, isso eleva o risco de efeitos colaterais e pode sobrecarregar outros órgãos, como fígado e rins — especialmente em tratamentos mais longos”, avisa o cientista. Já a inovação que criaram usa nanopartículas lipídicas que podem ser administradas por nebulização e, como foi projetada para imitar o comportamento dos vírus respiratórios, consegue atravessar o sistema de defesa natural dos pulmões.
As nanopartículas lipídicas são estruturas minúsculas feitas à base de gordura — tão pequenas que podem ser até mil vezes menores que o diâmetro de um fio de cabelo humano. Dentro delas, os cientistas colocaram bromexina, um medicamento já conhecido e usado como expectorante que ajuda a dissolver o muco e aliviar a tosse.
Quando inaladas, essas nanopartículas chegam diretamente ao sistema respiratório e entram em contato com o muco, que é a principal barreira de proteção dos pulmões. Nesse momento, elas reproduzem o mesmo “caminho” que os vírus usam para atravessar essa barreira e atingir as células do pulmão — o que aumenta a eficiência do tratamento.
Trata-se de uma abordagem inédita para aumentar a eficácia do tratamento de doenças do sistema respiratório pela via pulmonar. “Ao serem administradas diretamente nos pulmões, as nanopartículas precisam superar as barreiras naturais de defesa das vias aéreas: a camada de muco (que recobre as células e aprisiona organismos invasores) e o movimento ciliar das células pulmonares (promovido por pequenos ‘pelos’ presentes no topo das células que batem ritmicamente e varrem os invasores para fora das vias aéreas)”, informa o pesquisador.
Para quebrar essa ligação com o muco e se livrar do movimento ciliar, os vírus respiratórios possuem proteínas em sua superfície. Assim, não são aprisionados nem varridos para fora das vias aéreas. “Com essas proteínas, os vírus conseguem ‘rolar’ entre as mucinas, as principais moléculas que formam o muco, e alcançar as células”, continua Martins.
Inspirado nessas características dos vírus, as nanopartículas lipídicas contendo bromexina também vencem o obstáculo do muco, pois se ligam e quebram as ligações com as mucinas e, consequentemente, conseguem adentrar as células pulmonares. O pesquisador acredita que imitar características dos vírus em estruturas nanométricas é uma estratégia inteligente. “Essa abordagem ajuda a controlar melhor o comportamento das nanopartículas no corpo, além de aumentar a precisão e a eficácia dos tratamentos para diversas doenças”, afirma.