Agathe Belot e Mathieu Jaumain / Arquivo PessoalVisita ao Estado ocorreu entre junho e julho de 2025.Agathe Belot e Mathieu Jaumain / Arquivo Pessoal

Um casal de arquitetos europeus está fazendo uma viagem pela América do Sul e, no trajeto, deu uma passada pelo Rio Grande do Sul. A Praia do Cassino, o pequeno município de Ilópolis, no Vale do Taquari, e Porto Alegre estiveram no roteiro. A visita da francesa Agathe Belot e do belga Mathieu Jaumain ocorreu entre junho e julho deste ano. Nas redes sociais (veja abaixo),  não faltaram recomendações e a curiosidade de gaúchos em saber a opinião de quem não é daqui sobre pontos já comuns no Estado.

Agathe, 31 anos, e Mathieu, também 31, decidiram unir a arquitetura às viagens e à criação de conteúdo. Eles colocaram o pé na estrada há três anos. Na verdade, as rodas: a dupla está a bordo de um Land Rover Defender de 1994. O veículo foi comprado com o propósito de ser transformado não só em uma “pequena casa sobre rodas”, mas também em um “estúdio sobre rodas“, onde podem trabalhar, como descreve Mathieu. 

O 4×4 foi batizado com um nome basco: Azkarena. Segundo os viajantes, a palavra significa “o mais rápido” — uma brincadeira, já que o carro não passa de 100 km/h.

Onde tudo começou

Agathe e Mathieu se conheceram na faculdade, em Bruxelas, na Bélgica

Após formados e trabalhando por alguns anos, sentiram que, ficando apenas na frente do computador e envolvidos em projetos arquitetônicos, estavam perdendo a experiência de aprendizado e de descoberta da arquitetura. Era isso que valorizavam quando estudantes.

Foi então que decidiram fazer uma viagem pelo continente africano.

— Quando viajamos, sempre buscamos a arquitetura do país que estamos visitando porque acreditamos que, a partir da arquitetura, podemos sempre entender o lugar onde estamos, a cultura, as pessoas e a história do lugar — destaca Mathieu, sobre o propósito da iniciativa.

A aventura iniciou em 2022. E em maio de 2025, começou a segunda etapa: na América do Sul. Agathe e Mathieu enviaram o carro para Montevidéu e permaneceram no Uruguai por cerca de um mês até que, em 12 de junho, atravessaram a fronteira, entrando no Brasil.

Em solo gaúcho

O primeiro ponto por onde passearam foi a Praia do Cassino, no sul do Estado. Os viajantes lembram de ter dirigido por um longo trecho “sem ver ninguém“. Eles contam que dormiram na região, com “toda a natureza ao redor”.

O destino seguinte foi Porto Alegre. Para chegar à Capital, viajaram pela costa gaúcha, passando por Rio Grande.  

— Fomos ao Rio Grande do Sul porque queríamos visitar Porto Alegre, pois vimos que havia uma arquitetura muito interessante e que não era uma cidade muito famosa fora do Brasil. Sempre falamos sobre Rio, São Paulo e Brasília, mas nunca sobre Porto Alegre. Vimos que havia um museu lindo, o Iberê Camargo, que queríamos muito visitar — pontua Mathieu.

E foi esse o primeiro lugar para o qual se deslocaram na cidade, um dos “museus mais bonitos” que já visitaram, conforme contam.

Uma visita a Porto Alegre

Além do museu, Agathe e Mathieu dizem ter gostado da orla do Guaíba, onde viram pessoas passeando, praticando esportes e aproveitando o pôr do sol.  

Eles descrevem Porto Alegre como uma cidade grande, calma, relaxante e com lugares bonitos.

— Encontramos prédios muito bonitos e foi muito agradável caminhar, fazer tudo a pé. Nós realmente gostamos. Também gostamos muito do bairro Bom Fim. Alguns jovens arquitetos nos recomendaram lugares para irmos comer, comprar bons doces e bons pães, onde encontrar o melhor brigadeiro — completa Mathieu. 

Um ponto, porém, pegou os viajantes de surpresa:

— Estávamos procurando por calor e sol. E infelizmente pegamos chuva e frio (risos). Mas foi muito interessante.

Os moinhos

Depois de Porto Alegre, eles se dirigiram a Ilópolis, no Vale do Taquari, região onde desbravaram os moinhos. Agathe e Mathieu tinham vontade de conhecer o Museu do Pão, engajados na arquitetura. 

Quando descobriram sobre a história dos moinhos na região, toparam o passeio, visitando estrutura por estrutura. Um ponto alto que destacam: as paisagens na estrada.

Eles também passaram por São Miguel das Missões, na região das Missões, antes de rumar à Argentina.

Mas, para além das paisagens “bonitas e naturais”, o saldo final da passagem pelo Rio Grande do Sul também chamou a atenção dos viajantes por outro motivo:

— Também gostamos que não seja muito turístico. Encontramos muitos turistas locais. E foi muito legal. As pessoas foram muito acolhedoras. Foi muito louco. Todos ficaram muito surpresos que estávamos visitando o Rio Grande do Sul e nos receberam como se fôssemos amigos. Isso também é algo muito importante para nós quando visitamos um lugar, é o contato com as pessoas. E o povo do Rio Grande do Sul foi muito, muito acolhedor. 

A partir das recomendações que receberam, os dois fizeram a viagem se alongar. 

— Mesmo entrando no Rio Grande do Sul só para visitar um museu, o Iberê Camargo, acabamos visitando muitos lugares. Passamos mais tempo, na verdade, do que planejávamos passar no Rio Grande do Sul — finaliza Mathieu.

O que vem depois

Os arquitetos viajantes planejam voltar ao Estado em algum momento para conhecer Gramado, na serra gaúcha. No Brasil, também querem passar por Brasília, Santa Catarina e pela região amazônica. No último contato com Zero Hora, informaram que estavam entrando no Pantanal.

Até o momento, já são pelo menos 100 mil quilômetros rodados, somando as rotas na África e na América do Sul. 

— Achamos que vamos ficar na América do Sul por no mínimo dois anos e talvez três anos, porque é muito país e muita arquitetura para visitar — explica Agathe.

Aliás, eles não têm certeza ainda sobre qual será o próximo continente ou região a ser visitado. A América do Sul, inclusive, não estava nos planos, mas surgiu como uma ideia e se concretizou. 

A viagem é documentada por meio do Instagram (@odyssees_darchitectures) e do YouTube (youtube.com/@odysseesdarchitectures), aliando o gosto de Agathe por fotografia e o interesse de Mathieu por filmagens.