Portugal e a Irlanda foram os dois únicos Estados-membros que não acompanharam a tendência de crescimento da despesa em defesa da União Europeia (UE) em 2024, tendo registado um ligeiro decréscimo face ao ano anterior, revela o relatório anual da Agência Europeia de Defesa, divulgado esta terça-feira, 2 de Setembro.

O documento, elaborado a partir dos dados fornecidos pelos ministérios da Defesa, mostra que no ano passado a despesa da UE com a defesa cresceu 19%, para um novo máximo de 343 mil milhões de euros, ou 1,9% do PIB, com uma maioria de 16 entre 25 Estados-membros a aumentarem em mais de 10% os seus gastos em termos reais.

E a projecção para 2025 antecipa um novo recorde, com a Agência Europeia de Defesa a apontar para um valor total de 392 mil milhões de euros (preços correntes), correspondentes a 2,1% do PIB – um valor que ultrapassa a fasquia de 2% que os aliados da NATO tinham como objectivo alcançar em 2024. Só quatro dos 27 Estados-membros da UE não pertencem à NATO.

Na cimeira da Haia, em Junho, a aliança atlântica fixou uma nova meta de investimento em defesa de 3,5% do PIB até 2035. Será um esforço considerável para os Estados-membros da UE: “Aumentar a despesa de 2% para 3,5% do PIB exigirá investimentos substanciais de muitos Estados-membros, necessitando de 254 mil milhões de euros adicionais e elevando os gastos totais com a defesa para aproximadamente 635 mil milhões de euros”, lê-se no relatório publicado esta terça-feira.


Os compromissos financeiros que os Estados-membros assumirem nos próximos anos serão um “indicador crucial da sua determinação em reforçar a defesa e a dissuasão à luz da actual situação de segurança”, diz o documento, que chama a atenção para o plano para “Rearmar a Europa”, lançado em Março pela Comissão Europeia.

“A iniciativa Prontidão 2030, que prevê a criação de um espaço orçamental adicional de até 800 mil milhões de euros nos próximos quatro anos, deverá impulsionar as despesas em defesa para além do que está actualmente previsto”, estima a Agência Europeia de Defesa (EDA, na sigla em inglês).

O director-executivo da EDA, André Denk, está optimista. “É encorajador ver os Estados-membros da UE elevar o investimento militar para níveis recorde”, considerou. “No entanto, também será necessário cooperar de forma mais estreita, para encontrar economias de escala e aumentar a interoperabilidade”, referiu.

O relatório confirma a tendência de subida sustentada do investimento em defesa ao longo da última década, nomeadamente na aquisição e desenvolvimento de capacidades militares. No ano passado, essas duas parcelas representaram mais de 30% dos gastos totais com a defesa.

Em 2024, a compra de material militar ultrapassou pela primeira vez os 100 mil milhões de euros e, segundo a estimativa da EDA, este ano poderá ascender a 130 mil milhões de euros. Já o investimento em I&D (investigação e desenvolvimento) deverá aumentar dos 13 mil milhões de euros de 2024 para 17 mil milhões de euros em 2025.

“Embora as despesas continuem a crescer e se preveja que aumentem ainda mais em 2025, os valores da UE continuam abaixo dos níveis de potências militares como os Estados Unidos, sublinhando a necessidade de investimento sustentado e de uma maior colaboração para maximizar a eficiência e garantir a interoperabilidade entre as forças armadas da EU”, refere o relatório.

A EDA também faz uma comparação entre os gastos em defesa da UE, e os orçamentos declarados pela Rússia (107 mil milhões de euros), e a China (250 mil milhões de euros), “números que devem ser interpretados com cautela devido à transparência limitada”. “Embora a UE gaste colectivamente mais, estes dois países têm uma maior relação custo-benefício nas despesas em defesa”, refere o documento.

“Além disso, ambos os países aumentaram os seus orçamentos de defesa a taxas significativamente mais elevadas do que a UE nas últimas duas décadas”: enquanto os 27 registaram uma subida de 50% da despesa desde 2008, a Rússia e a China mais do duplicaram os seus gastos durante o mesmo período.