A análise genética de 25 indivíduos da necrópole de Los Castellets II em Mequinenza, em Saragoça, um sítio arqueológico importante em Espanha do final da Idade do Bronze, revelou uma família com práticas endogâmicas.

O estudo internacional, liderado pela Universidade de Saragoça e recentemente publicado na revista Communications Biology, apresentou novos dados sobre as origens genéticas da população da época, bem como as suas estruturas familiares, graças à análise de ADN antigo de um dos túmulos mais importantes deste local, o único local de enterramento coletivo de grande escala, com mais de 30 indivíduos.

Fonte: El Argar, início da Idade do Bronze, no sul da Península Ibérica. ( A ) Mapa da Península Ibérica e localização do sítio Argárico e de outros sítios da Idade do Bronze próximos. O mapa foi criado usando o QGIS 3.12 (  https://qgis.org/en/site/ ) e utiliza dados de mapas vetoriais do Natural Earth de ( https://www.naturalearthdata.com/downloads/ ). ( B ) Vista do topo da colina de La Almoloya a partir do leste.

De um modo geral, as análises genéticas indicam a ausência de uma continuidade populacional rigorosa desde a Idade do Bronze Médio e demonstram a existência de um fluxo genético que contribuiu para moldar a diversidade biológica destas comunidades, frisou na segunda-feira a Universidade de Saragoça, citada pela agência Efe.

De acordo com estes dados, os indivíduos tinham origem mista, proveniente de duas fontes distintas de ancestralidade: uma delas ligada a populações da Europa Central, provavelmente através de grupos do sul de França, e apresentava uma maior proporção de ancestralidade estepária do que indivíduos da Idade do Bronze Médio na mesma região.

A outra fonte estava mais relacionada com populações do sudeste da Península Ibérica, aspeto que merece uma investigação mais aprofundada, dado que a mobilidade intrapeninsular e as suas possíveis ligações à área mediterrânica ainda não estão completamente caracterizadas, apontaram os cientistas.

A investigação permitiu ainda reconstituir aspetos sociais a nível local e deduz que o grande túmulo era utilizado por uma família alargada, com laços biológicos mais fortes na linha paterna do que na materna.

Dois terços dos sepultados eram parentes, e a comunidade praticava algum grau de consanguinidade.

Este estudo baseou-se na natureza singular do sítio, como uma necrópole onde duas práticas rituais distintas, a inumação e a cremação, coexistiam simultaneamente.

Este facto apenas foi observado em alguns sítios europeus, tornando-se uma fonte de informação única para o estudo deste fenómeno.

A Universidade de Saragoça sublinhou que as técnicas antigas de recuperação de ADN ainda não ultrapassaram a barreira imposta pelas altas temperaturas para a preservação do material genético, razão pela qual apenas foram estudados indivíduos sepultados.

O foco principal do estudo foi o Túmulo 2, o único local de enterramento coletivo de grande escala que combina características tradicionais, como a comunidade e certas reminiscências megalíticas, com elementos inovadores, como o enxoval funerário composto por cerâmica característica da cultura dos Campos de Urnas.

Marina Bretos, investigadora de pré-doutoramento no Instituto Aragão de Investigação em Ciências Ambientais (IUCA-Universidade de Zaragoza), que liderou o estudo, enfatizou que o objetivo foi também estabelecer uma base de comparação para futuras investigações que possam integrar a análise de isótopos de estrôncio com dados genéticos, permitindo o estudo da mobilidade de indivíduos cremados e não cremados, oferecendo uma visão mais completa da dinâmica populacional passada.

O estudo não só fornece novos dados sobre o passado, como também abre uma janela para que a investigação futura continue a desvendar como as comunidades antigas se moviam e se misturavam.

LUSA