Um relatório interno das Forças Armadas concluiu que os últimos meses da guerra na Faixa de Gaza Israel “cometeu todos os erros possíveis” e que não conseguiu os principais objectivos da operação que começou em Maio deste ano, após o fim do cessar-fogo com o Hamas que tinha vigorado mais cedo.
O relatório, que foi parcialmente divulgado em alguns media israelitas como o Canal 12, dizia que a operação, que pretendia conseguir a libertação dos reféns e a derrota do Hamas depois de conquistar 75% do território da Faixa de Gaza, não conseguiu nenhum dos objectivos (apesar de ter de facto conseguido a presença territorial).
“Israel cometeu todos os erros possíveis, travando uma guerra contrária à sua própria doutrina de guerra”, acrescenta a avaliação, dizendo que os principais falhanços foram não conseguir o regresso dos reféns, nem por meios militares nem através de negociações, e o Hamas não ter sido derrotado.
Além disso, o plano lamenta a “incompetência” das autoridades israelitas no planear a distribuição da ajuda humanitária, que ficou sobretudo nas mãos de uma organização chamada Gaza Humanitarian Foundation, apoiada pelos EUA e Israel. Desde que essa organização começou a distribuir ajuda, a 27 de Maio, morreram já 2306 pessoas, segundo números desta terça-feira das autoridades de Gaza.
O documento diz ainda que as questões em torno da ajuda permitiram ao Hamas levar a cabo “uma campanha mediática” mundial sobre a fome em Gaza. Israel alega que não há fome em Gaza, ao contrário da avaliação das organizações no terreno, que vêm a documentar um aumento de casos de destruição.
Na avaliação, há ainda críticas ao facto de os militares terem de regressar a locais onde já tinham operado e de onde tinham saído, e métodos de combate que não se revelaram adequados a tácticas de guerrilha usadas pelos combatentes do Hamas.
O documento apresenta, por outro lado, as conquistas da operação: a destruição da infra-estrutura do Hamas numa zona tampão feita ao longo da fronteira com Israel, e ainda noutros locais, além dos golpes na estrutura de liderança do Hamas com a morte do antigo líder em Gaza, Mohammed Sinwar (depois da morte do anterior líder, Yahya Sinwar), e a recuperação dos corpos de alguns reféns.
O Exército reagiu dizendo que este documento não era um conteúdo aprovado e que as Forças Armadas cumpriram os objectivos da operação em Gaza.
Nesta fase da guerra morreram cerca de 10 mil palestinianos na Faixa de Gaza, num total de mais de 63.500 mortos desde 7 de Outubro de 2023.
O Governo impôs entretanto um plano para avançar sobre a Cidade de Gaza, mesmo com a oposição do Exército, que alertou para perigos para os reféns e para os soldados desta operação, além de, segundo o Haaretz, temer as consequências legais da ocupação da cidade.
“Duvido que as IDF [Forças de Defesa de Israel, na sigla em inglês] alguma vez tenham recebido ordens para lançar uma ofensiva tão grande contra as suas próprias recomendações”, comentava no X (antigo Twitter) o jornalista da Economist Anshell Pfeffer.