Com a Inteligência Artificial (IA) a servir cada vez mais alunos e professores, o vice-reitor da Universidade de Nova Iorque (em inglês, NYU) revelou que a solução poderá estar no resgate das abordagens educativas medievais. Antes, o ensino focava-se na instrução oral.
Hoje em dia, com a democratização das ferramentas baseadas na IA, os estudantes recorrem à tecnologia para fazer trabalhos, testes e até responder a questões feitas durante as aulas.
Pela sua inevitabilidade, os professores têm debatido sobre como os alunos devem ou não usar a IA, e procurado formas de a integrar, sem que prejudique a aprendizagem.
Ao mesmo tempo, os professores estão, também, a usar a tecnologia: uns para desenvolver planos de estudos, outros para corrigir trabalhos.
Em alguns casos, esta utilização por ambos os lados significa que a IA está a corrigir um trabalho gerado por IA.
Ouvir mais e escrever menos para envolver os alunos na aprendizagem
Perante este cenário, o vice-reitor da NYU para IA e tecnologia na educação, Clay Shirky, escreveu um artigo para o The New York Times, onde partilhou que aconselhou anteriormente o uso mais envolvente da IA, por via do qual os alunos usariam a tecnologia para explorar ideias e receber feedback, em vez de fazer um uso “preguiçoso” da tecnologia.
No entanto, segundo contou, essa abordagem não funcionou. Além de os alunos terem continuado a usar a IA para escrever trabalhos e escapar à leitura, as ferramentas destinadas a detetar fraudes com a tecnologia resultam em demasiados falsos positivos para serem confiáveis.
Agora que a maior parte do esforço mental relacionado à escrita é opcional, precisamos de novas maneiras de exigir o trabalho necessário para a aprendizagem.
Disse Clay Shirky, explicando que isto significa “abandonar as tarefas e redações para fazer em casa e passar a adotar redações em cadernos na sala de aula, exames orais, horários de atendimento obrigatórios e outras avaliações que exijam que os alunos demonstrem conhecimento em tempo real”.
Uma mudança deste tipo marcaria um retorno a práticas antigas, que remontam à era medieval europeia, quando os livros eram escassos e o ensino universitário se concentrava na instrução oral em vez de trabalhos escritos.
O que poderíamos chamar de opções medievais são reações ao aparecimento repentino da IA, uma tentativa de insistir que os alunos façam o trabalho, não apenas o imitem.
Escreveu o vice-reitor, recordando uma altura em que os alunos ouviam os professores lerem livros, e havia até escolas que desencorajavam os alunos a escrever o que ouviam.
Conforme recordou, o foco na escrita surgiu centenas de anos depois na Europa e chegou às escolas dos Estados Unidos no final do século XIX.
Quais tarefas são escritas e quais são orais mudou ao longo dos anos. Está a mudar novamente, desta vez afastando-se da escrita original do aluno feita fora da aula e indo em direção a algo mais interativo entre aluno e professor ou, pelo menos, aluno e assistente de ensino.
Na sua opinião, apesar dos desafios logísticos, tendo em conta que algumas turmas têm centenas de alunos, esta mudança poderá implicar salas de aula despidas de dispositivos.
Ainda assim, Shirky ressalvou que não há uma solução ideal. Afinal, “a avaliação cronometrada pode beneficiar os alunos que são bons a pensar rapidamente, [mas] não os alunos que são bons a pensar profundamente”.
Eles não estão a pedir uma abordagem única para todos e não estão todos a conspirar para descobrir o mínimo de trabalho com que podem safar-se. O que eles precisam é que os adultos ajam como adultos — e não deixem que a primeira onda de alunos nativos da IA tenha de resolver sozinha uma revolução tecnológica.
Alertou Rachel Janfaza, fundadora da empresa de consultoria Up and Up Strategies, focada na Geração Z, num artigo para o The Washington Post.