João Risi / MS/DivulgaçãoNovo exame para detectar HPV já estava disponível na rede particular e agora será oferecido pelo SUS.João Risi / MS/Divulgação

Um novo exame gratuito para detecção de papilomavírus humano (HPV) começou a ser implementado pelo Ministério da Saúde no Sistema Único de Saúde (SUS) em agosto.

Com tecnologia 100% nacional, o teste de biologia molecular DNA-HPV reconhece 14 tipos de HPV, identificando a presença do vírus no organismo antes da ocorrência de lesões ou de câncer em estágios iniciais.

O HPV é a principal causa do câncer de colo do útero, terceiro tipo mais incidente em mulheres, de acordo com o Ministério da Saúde. Seis em cada 10 brasileiras não sabem da relação entre HPV e esse tipo de tumor, segundo pesquisa divulgada em agosto pelo Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) e pelo Instituto Locomotiva.

Implementação gradual

O exame será voltado a mulheres entre 25 e 64 anos. A implementação, gradual, começará em 12 Estados, com um município em cada, sendo ampliada conforme a finalização da troca do exame Papanicolau pelo novo método (leia mais abaixo).

A implementação do novo teste, que aumenta as chances de cura, integra o Plano Nacional para o Enfrentamento do Câncer do Colo do Útero e o programa Agora Tem Especialistas. A meta é estar presente em todo o país até dezembro de 2026.

No Rio Grande do Sul, a medida será implementada para 87 mil mulheres, começando por Pelotas, de acordo com a Secretaria Estadual da Saúde (SES). O teste estará acessível por meio de consulta ginecológica nas unidades básicas de saúde.

Segundo a prefeitura de Pelotas, a cidade foi escolhida por sua ampla rede básica de saúde e pelo histórico de pesquisas científicas em saúde, permitindo testar 100% das mulheres na faixa etária recomendada. As coletas devem ser iniciadas neste mês.

Como funciona o exame

O exame é produzido pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná, ligado à Fiocruz. A forma de coleta permanece a mesma do método preventivo tradicional, o Papanicolau (também conhecido como citopatológico ou pré-câncer), que será substituído.

A diferença é que, antes, colocava-se a amostra de células do colo do útero em uma lâmina, e agora, em um frasco com líquido, como explica a ginecologista Fernanda Uratani, coordenadora do Núcleo de Patologia do Trato Genital Inferior da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs). O frasco é, então, enviado para a análise do laboratório, que realizará um teste PCR de HPV para identificar se há algum tipo de HPV no DNA.

Se o resultado for positivo, solicita-se a análise de células do material para identificar se há alguma alteração. A depender do tipo de HPV, não será necessário esperar o resultado para realizar uma colposcopia — exame com lente de aumento que mostra se há alguma alteração (como lesões) no colo do útero.

A presença de HPV de alto risco significa que há maior chance de desenvolver uma lesão pré-maligna e, posteriormente, maligna, no colo do útero. O Papanicolau detecta quando já existe alguma lesão; já com o novo exame, será possível identificar as pacientes de maior risco e acompanhá-las antes mesmo de desenvolverem uma lesão ou tratá-las precocemente.

Vamos conseguir agir mais cedo e não vamos deixar nem terem câncer de colo de útero.FERNANDA URATANI

Coordenadora do Núcleo de Patologia do Trato Genital Inferior da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do RS

Menos exames e intervenções

Por ser mais eficaz e conferir maior sensibilidade diagnóstica, o novo teste reduz a necessidade de exames e intervenções e permite ampliar o intervalo entre as coletas (de três para cinco anos) quando o resultado for negativo, aumentando a eficiência e reduzindo custos, conforme o Ministério da Saúde. 

Além disso, tornará mais acessível a testagem específica para HPV em populações com dificuldade de acesso aos serviços de saúde por meio da autocoleta.

A ginecologista Fernanda Uratani explica que pacientes que apresentam resultado positivo nem sempre desenvolvem a doença — o vírus pode ser eliminado com o tempo, por isso, as mulheres não devem se assustar. Contudo, há mais chances, motivo pelo qual elas devem passar por avaliações mais frequentes.

Câncer 100% prevenível

O câncer de colo de útero é 100% prevenível por meio de vacinação e de rastreamento e tratamento de lesões antes de virarem câncer, lembra Fernanda. O novo teste chega para aprimorar ainda mais o rastreamento.

O exame de DNA-HPV já estava disponível na rede particular, com cobertura para alguns convênios. Agora, estará disponível para milhares de brasileiras gratuitamente pelo SUS.

Nenhuma mulher deveria morrer por câncer de colo de útero — destaca a médica.

Na Austrália e em alguns países da Europa, já há previsão de eliminar a incidência de câncer de colo de útero devido à ampla vacinação e à testagem. A inclusão desse novo exame no SUS pode mudar o cenário desse tipo de câncer no Brasil, aponta Fernanda:

— Esse é o nosso objetivo.