Luan tinha 11 meses e, durante o mês de agosto, foi por três vezes ao Serviço de Atendimento Complementar de Idanha-a-Nova, onde acabou por morrer no dia 22. A primeira ida, relata Patrícia Gomes, mãe do menino, ao Observador deveu-se a tosse e a uma gripe que foi associada à “mudança da estação” pelo médico que o viu. Ocorreu no dia 8 e mãe e filho foram atendidos normalmente, tendo seguido para casa com uma receita de dois xaropes e paracetamol no caso de o menino ter febre.

Uma semana inteira e mais alguns dias passaram sem que Patrícia voltasse a notar algo que não melhorias no quadro de saúde do filho. Mas na segunda-feira, 18 de agosto, recebeu uma chamada da creche que Luan frequentava desde os quatro meses: tinha feito febre e ser-lhe-ia administrada uma dose infantil de paracetamol.

Depois disso, o bebé melhorou e passou o resto da semana “bem”, descreve a própria mãe, de 20 anos, ao Observador. Patrícia Gomes só voltou a ficar alerta na madrugada de sexta-feira, 22 de agosto, quando o menino “acordou a vomitar”.

Seguiram-se cerca de 12 horas em que se dirigiu três vezes a duas unidades da Unidade Local de Saúde (ULS) de Castelo Branco: primeiro ao SAC de Idanha-a-Nova logo de manhã, depois à urgência pediátrica do Hospital Amato Lusitano e, já ao final da tarde, novamente ao centro de saúde. Voltou após notar um agravamento repentino do estado do filho que, garante, nunca tinha tido problemas de saúde antes. Luan acabou por não resistir a uma paragem cardiorrespiratória na unidade de saúde onde, alega a mãe, lhe começou por ser negado o atendimento pelo facto de o centro de saúde estar quase a fechar nessa sexta-feira.

Podia ter corrido tudo de forma diferente se na urgência de Idanha-a-Nova nos tivessem atendido de imediato“, garante Patrícia Gomes. Já a Unidade Local de Saúde (ULS) de Castelo Branco frisa que na última visita o bebé de 11 meses foi socorrido de imediato pela médica que estava no serviço de atendimento complementar. Foram abertos vários inquéritos para apurar as circunstâncias da morte de Luan, que completaria um ano de vida no próximo dia 17 de setembro.

Depois da madrugada de 22 de agosto, quando o filho vomitou, Patrícia pediu conselhos a um amigo sobre o que devia fazer, e cerca das 8 da manhã ele respondeu-lhe que fosse ao Serviço de Atendimento Complementar de Idanha-a-Nova, onde mora a jovem desde há um ano, depois de ter vindo de São Tomé para Portugal há dois.

“Eles reencaminharam-na para a urgência de Castelo Branco através de uma ambulância“, conta ao Observador o amigo de Patrícia Gomes, Daniel Graça, que acompanhou à distância a evolução do estado clínico do menino, uma vez que não se encontrava em Portugal.

Na urgência pediátrica do Hospital Amato Lusitano, conta Daniel, o médico diagnosticou Luan com uma inflamação na garganta e num dos ouvidos e receitou-lhe “anti-inflamatório, anti-histamínico e gotas para os ouvidos”. Daniel Graça diz ter ficado surpreendido com o facto de, ao início da tarde, mãe e bebé estarem de volta a casa “sem ter sido administrado qualquer medicamento no hospital ao menino, ou este ter ficado mais tempo em observação”.

Depois disso, segundo descreve, o bebé não chorava, mas mostrava-se incomodado e inquieto. “Não era um comportamento habitual dele“, garante, e diz que a mãe percebeu que algo não estava bem. Ainda lhe deu a medicação receitada e colocou o menino a dormir por uma hora. Foi quando este acordou da curta sesta a vomitar de novo que Patrícia voltou ao contacto do amigo. “Aconselhei-a a levá-lo à urgência de Idanha-a-Nova [SAC] e até cheguei a ligar para lá para antecipar [a ida] e eles disseram que não o podiam atender porque estava próximo da hora do fecho, que faltavam cerca de 15 minutos para a hora do fecho”, relata Daniel Graça.