O sistema de pagamento Pix do Brasil – similar ao Mbway em Portugal – gerou queixas de Donald Trump, que alega que prejudica injustamente as empresas de cartões de crédito dos EUA, mas já está profundamente enraizado: utilizado por 93% dos adultos e remodelando o comércio, a inclusão financeira e o comportamento do consumidor no Brasil. À medida que o seu impacto económico cresce, cresce também a sua relevância muito para além das fronteiras do país.

O Pix apareceu nas notícias como autor de uma alegada discriminação injusta contra as empresas de cartões de crédito dos EUA (que estão a ser reduzidas até 10 vezes por este sistema).

Mas a sua enorme popularidade no Brasil deve-se, na verdade, aos ingredientes de uma verdadeira história de sucesso nas fintech, tanto que se tornou um grito de guerra – “PIXéNosso, Meu Amigo” (Pix é Nosso, Meu Amigo) – após as críticas do presidente dos EUA.

É economicamente crucial para os negócios brasileiros atualmente, com um impulso total esperado para a economia atingir os 280,7 mil milhões de reais até 2028 (equivalente a 2,41% do PIB) e um motor de inclusão financeira e de cash flow para os comerciantes.

Os pagamentos digitais são uma importante “disponibilidade” para o marketing e uma área crucial a compreender quando se expande uma marca para um novo território com a sua própria infraestrutura de pagamentos digitais. E há a cultura: a chave da cultura comercial brasileira é a ideia de pagamento a prestações – crediário ou compre agora, pague depois – que 75% dos brasileiros já utilizaram.

O que é o Pix?
Lançado pelo Banco Central do Brasil em 2020 como uma alternativa de open banking às transferências bancárias, o Pix rapidamente se popularizou: nos primeiros nove meses, foi utilizado por cerca de metade (mais de 100 milhões) dos brasileiros. Cinco anos depois, 93% dos adultos brasileiros já utilizaram o Pix.

Mais popular do que os pagamentos com cartão, o Pix apresenta algumas vantagens significativas em relação às transferências bancárias tradicionais e às criptomoedas:

Transações instantâneas: liquidação em três segundos, em vez de dois dias, o que é típico para cartões de débito, ou mais tempo para cartões de crédito.
Baixo custo de transação: as transações com Pix são gratuitas entre particulares, enquanto para os comerciantes o custo é de apenas 0,33% do valor da transação – muito inferior ao custo de 1,12% dos cartões de débito e às taxas dos cartões de crédito entre 1,5% e 3,5%, um fator de 10.

Como escreve o economista Paul Krugman na sua Substack, o Pix é uma tecnologia pública “que consegue o que os defensores das criptomoedas alegaram, falsamente, ser capaz de oferecer através do blockchain — baixos custos de transação e inclusão financeira”. As evidências são contundentes: enquanto a maioria dos brasileiros já utilizou o Pix, apenas 2% dos americanos já utilizaram as criptomoedas como moeda de facto.

O contexto importa aqui. Para começar, a inclusão financeira é um objetivo político crucial para as autoridades brasileiras; O Pix ajudou 20% da população adulta a utilizar os pagamentos eletrónicos (e, portanto, o comércio eletrónico e outros serviços digitais) desde o seu lançamento, segundo a gestora de investimentos Ninety One.

Para as marcas brasileiras (e algumas multinacionais), a mudança para o Pix teve um efeito positivo semelhante ao dos pagamentos por aproximação noutros mercados. Como observou o nosso Destaque Brasil de 2021: “O Pix aumenta a probabilidade de gastos, uma vez que reduz significativamente aquilo a que os especialistas em comportamento económico chamam de ‘dor de pagar’.

“Muitos estudos têm comprovado que, quando não vemos o dinheiro a sair fisicamente das nossas carteiras, estamos mais dispostos a gastar. Pode ser adotado principalmente por marcas de compra por impulso e pelo retalho na vida real.”