Donald Trump prometeu, a 21 de agosto, que em duas semanas se saberia se haveria avanços no caminho para a paz na Ucrânia. Passadas essas duas semanas, a promessa permanece por cumprir e Moscovo não deu qualquer sinal de mudança na sua estratégia militar.
Depois das cimeiras realizadas em agosto com Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky, o presidente norte-americano afirmou que os Estados Unidos teriam “uma imagem clara” em quinze dias sobre a possibilidade de pôr fim à guerra desencadeada pela Rússia. “Saberemos em duas semanas se haverá paz na Ucrânia. Depois disso teremos talvez de seguir um rumo diferente”, disse então Trump. Até hoje, esse prazo não trouxe alterações no terreno.
Nas últimas semanas, as forças russas intensificaram a ofensiva de verão no leste da Ucrânia, concentrando-se sobretudo nas áreas de Dobropillia, Pokrovsk e Kostyantynivka, na região de Donetsk. Chegaram a penetrar as defesas ucranianas e a ocupar posições temporárias em localidades próximas. Em resposta, Kiev deslocou para a frente algumas das suas unidades mais experientes, incluindo o Corpo de Azov, que foi destacado para o setor de Pokrovsk. Poucos dias depois, as autoridades ucranianas anunciaram ter repelido as infiltrações russas, libertado algumas povoações e estabilizado a frente.
Segundo a plataforma de inteligência aberta DeepState, o ritmo de avanço russo abrandou 18% em agosto, registando-se um aumento praticamente nulo do território ocupado nos últimos dois anos e onze meses.
A ofensiva terrestre foi acompanhada de uma intensificação dos ataques aéreos contra cidades ucranianas. Desde a cimeira entre Trump e Putin, em meados de agosto, a Rússia lançou mais de 3.300 mísseis e drones sobre o país vizinho. No dia 28, Moscovo realizou um dos maiores ataques desde o início da invasão em 2022, disparando 629 projéteis que atingiram infraestruturas em Kiev, incluindo edifícios da União Europeia e do British Council. Vinte e cinco pessoas morreram, entre as quais quatro crianças. Um mês antes, a 29 de julho, a capital ucraniana tinha sido alvo do ataque mais mortífero até hoje, com 32 mortos.
Trump defendeu que o próximo passo deveria ser um encontro direto entre Zelensky e Putin, eventualmente seguido de uma cimeira trilateral com a sua participação. Kiev enviou emissários a países como o Qatar, a Arábia Saudita e a Turquia para avaliar possíveis locais. No entanto, a existência de um mandado do Tribunal Penal Internacional contra Putin, por crimes relacionados com a deportação de crianças ucranianas, limita significativamente as opções, uma vez que o presidente russo corre risco de detenção em 125 países. Ainda assim, algumas nações europeias como a Suíça e a Áustria admitiram não aplicar o mandado se a deslocação tivesse como objetivo um encontro de paz.
Apesar disso, o Kremlin rejeitou repetidamente a hipótese de conversações diretas com Zelensky, alegando que nunca chegou a ser acordado qualquer encontro e questionando até a legitimidade do presidente ucraniano. Yuri Ushakov, conselheiro de política externa de Putin, afirmou recentemente que não foi alcançado qualquer compromisso nesse sentido durante a cimeira do Alasca.
Enquanto Trump falava em novos prazos, Moscovo prosseguiu a sua estratégia no terreno, transferindo forças de elite — nomeadamente infantaria naval e unidades aerotransportadas — para a região de Donetsk. O objetivo declarado continua a ser a tomada integral desta região, ignorando as pesadas baixas sofridas.
Paralelamente, Putin anunciou a intenção de intensificar os ataques contra infraestruturas energéticas ucranianas, repetindo a estratégia dos anos anteriores, que visava privar o país de eletricidade e aquecimento durante o inverno. Numa intervenção na cimeira da Organização de Cooperação de Xangai, na China, o presidente russo voltou a culpar o Ocidente e a NATO pela guerra, mostrando que não tenciona recuar.
A promessa de Trump de um “prazo de duas semanas” expira sem qualquer resultado palpável. O presidente norte-americano afirmou que poderá “seguir um rumo diferente” caso não haja progressos, mas, até agora, as suas ameaças de prazos e medidas mais duras contra Moscovo não se materializaram.