Eternizada como a “amante preferida do imperador”, Domitila de Castro Canto e Melo, tornou-se uma das figuras mais marcantes e controversas da história do Brasil. Em “Domitila”, biografia que integra a coleção “A história não contada”, o historiador Paulo Rezzutti revisita sua trajetória para além dos estereótipos, mostrando como a Marquesa de Santos não se limitou às convenções impostas às mulheres do século 19 e como seu relacionamento com D. Pedro I rompeu barreiras sociais.

Depois de lançar novas edições das biografias de D. Pedro I, D. Pedro II e Leopoldina, a editora Record apresenta Domitila em versão revista, treze anos após a primeira publicação. O livro, finalista do Prêmio Jabuti na categoria Biografia e do 2º Prêmio Brasília de Literatura (2014), destaca que, mesmo antes de conhecer o imperador, a marquesa já dava sinais de independência e de recusa a uma vida restrita às expectativas da época. Esta edição traz, além do prefácio da historiadora Mary Del Priore, um texto inédito de Isabelle Anchieta, doutora em Sociologia pela USP, mestre em Comunicação Social e jornalista.

A vida de Domitila foi marcada por rupturas. Casou-se aos 15 anos e logo se tornou mãe, mas pediu a separação do marido devido às agressões que sofria — decisão quase fatal, pois o ex-companheiro, inconformado, tentou matá-la a facadas. Mais tarde, ao mudar-se para o Rio de Janeiro para se aproximar de D. Pedro I, provocou escândalo ao circular em eventos oficiais e ostentar joias com o nome do Imperador.

Sua postura despertou ciúmes e críticas que atravessaram fronteiras, chegando inclusive à imprensa europeia. Ainda hoje, a Marquesa de Santos permanece como figura central de debates, alvo de admiração e reprovação. Sua trajetória lança luz sobre o conservadorismo e a hipocrisia que moldaram — e continuam a marcar — a sociedade brasileira.

“Tão fascinante quanto necessário, o livro de Paulo Rezzutti atravessa o enigma do mito, escuta, interroga e corrobora as vozes do passado, encaixa peças de um quebra-cabeça que açodava os historiadores havia muito tempo. Ele nos restitui um retrato nítido da marquesa de Santos e a sua versão de uma verdadeira história, dentre tantas outras que ainda serão construídas sobre o Primeiro Reinado”, diz o prefácio de Mary Del Priore, historiadora, professora e vencedora do Prêmio Jabuti.


Giovanna Gomes

Giovanna Gomes é jornalista e estudante de História pela USP. Gosta de escrever sobre arte, arqueologia e tudo que diz repeito à cultura e à história do ser humano.