Com o anúncio das secções competitivas da sua 29.ª edição, ficou esta quinta-feira completa a programação do Queer Lisboa, que decorrerá de 19 a 27 de Setembro, no cinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa. Entre a centena de filmes que irão compor a selecção 2025, exibem-se títulos oriundos dos últimos doze meses de festivais internacionais — casos de, fora de concurso, Peter Hujar’s Day, de Ira Sachs, com Ben Whishaw no papel daquele fotógrafo americano que foi mentor de Robert Mapplethorpe (Berlim); Pillion, de Harry Lighton, ambientado no meio do fetichismo BDSM, com Alexander Skarsgård (Cannes); ou da co-produção luso-brasileira Morte e Vida Madalena, de Guto Parente, comédia ambientada no meio do cinema (Roterdão).
O Brasil, aliás, mostra uma forte presença este ano, que inclui o biopic de Ney Matogrosso Homem com H, realizado por Esmir Filho com Jesuíta Barbosa (Praia do Futuro) no papel do cantor de Rosa de Hiroshima, ou Ato Noturno, de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon. Na competição principal, o festival exibirá o muito falado romance gay indiano Cactus Pears, de Rohan Parashuram Kanawade; Laurent Dans le Vent, uma das revelações de Cannes, assinado pelo trio Anton Balekdijian, Léo Couture e Mattéo Eustachon; ou Queerpanorama, do chinês Jun Li, que criou escândalo ao ser exibido em Berlim.
Descrito pela organização como “um espelho do conturbado mundo de hoje”, o Queer Lisboa apresenta-se como uma “celebração da memória” e “das muitas histórias de superação e das lições do passado recente da cultura queer”, através de “um cinema às vezes perplexo com o que vê à sua volta”. O 29.º ano do festival define-se também como uma edição de resistência, através de um programa de Resistência Queer que incluirá um conjunto de curtas-metragens sob o genérico No Pride in Genocide (Cinema Queer pela Palestina) e da secção paralela Queer Focus, este ano dedicada ao tema “Contaste que Eras Trans?”.
A retrospectiva desta edição, como sempre a decorrer na Cinemateca Portuguesa, é dedicada ao cineasta francês Lionel Soukaz (1953-2025), nome do documentário e do experimental reconhecido como pioneiro do cinema militante LGBTQ+ que, em 2016, foi homenageado nos nova-iorquinos Anthology Film Archives. Serão exibidos 17 títulos de curta e média metragem, rodados entre 1969 e 2023, em presença do seu amigo e cúmplice regular Stéphane Gérard.
Com dois únicos títulos portugueses nas secções competitivas (Neko, de Inês Oliveira, que estreou no Curtas Vila do Conde, no concurso de curtas, e Icebergs, rodado na Alemanha pelo português Carlos Pereira, na competição de curtas escolares), o festival exibirá fora de concurso duas produções documentais nacionais: a longa Esta Mulher é um Homem, de André Murraças e Flávio Gil, um olhar sobre a história do travestismo no nosso país através de cinco dos pioneiros da arte, e a curta O Meu Reino para um King, de Sónia Baptista e Raquel Melgue, que mergulha nos bastidores da criação do espectáculo de Sónia Baptista, King Size.
O programa completo desta 29.ª edição pode já ser consultado no site oficial. O festival inaugura dia 19 com Plainclothes, de Carmen Emmi, com o actor Tom Blyth no papel de um polícia que luta com a sua homossexualidade nos subúrbios nova-iorquinos dos anos 1990, e encerra a 27 com o documentário de Jota Mun Between Goodbyes, sobre o encontro em Seul entre uma mulher adoptada queer e a sua mãe biológica.