O projeto FIBRALUNG tem como objetivo aliar a investigação básica à prática clínica para melhor conhecer, diagnosticar e tratar as doenças pulmonares difusas. Este projeto celebra agora as mil amostras de doentes deste grupo tão diverso de patologias, cuja prevalência é particularmente elevada em Portugal.
Partindo da sua experiência prévia na área do cancro do pulmão, o coordenador do projeto, Hélder Novais e Bastos, percebeu que para tratar melhor estas doenças, é preciso diagnosticá-las em fases mais precoces e, para tal, é necessário conhecer os mecanismos envolvidos no seu desenvolvimento e progressão.
Aproveitando a proximidade e o histórico de parcerias entre o Serviço de Pneumologia da ULS de S. João, a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e o I3S, o pneumologista criou o projeto FIBRALUNG, em 2021.
As amostras são, segundo o coordenador, o grande “tesouro” do projeto FIBRALUNG. “Chegámos agora às mil amostras o que representa já uma base de dados biológica significativa que nos permitirá definir padrões preditivos de desenvolvimento e progressão das doenças fibróticas. Além disso, estamos a juntar as nossas mil amostras às amostras internacionais, para trabalhos futuros realizados em parceria com outras instituições que começaram este trabalho há mais tempo e contam com um património biológico igualmente extenso”, acrescenta o coordenador do projeto.
São conhecidos os fatores de risco para o desenvolvimento de doenças respiratórias, mas às vezes, o inimigo está dentro de casa e vai induzindo lesões e alterações ao longo do tempo. “Falamos de fungos, mais conhecidos por bolores, que se infiltram nas paredes e nas estruturas das nossas habitações, mas também dos locais onde trabalhamos, estudamos e passamos a maior parte do tempo”, alerta João Rufo.
O investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) tem dedicado a sua atividade ao estudo do efeito destes agentes na saúde das populações e não tem dúvidas em afirmar que não é por acaso que a zona Norte de Portugal bate recordes de incidência de doenças pulmonares difusas em comparação com toda a Europa. “É uma zona muito húmida, com ambiente propício à proliferação de colónias fúngicas e, infelizmente, a qualidade das nossas construções e as condições de habitabilidade de uma grande parte da população não são as mais favoráveis”, sublinha.
Em alguns casos, esses bolores saltam à vista nas paredes e tectos, mas nem sempre é assim: “Há casos em que estão escondidos atrás das placas de pladur ou até de papel de parede”, explica o especialista. Limpar com lixívia ou outros detergentes faz desaparecer provisoriamente a mancha de bolor, no entanto, essa mancha vai reaparecer, desde que, na estrutura, se mantenha a sua fonte de alimentação, a água. “Na maior parte das vezes são necessárias alterações estruturais para remendar a infiltração de humidade e, só assim, controlar o reaparecimento de fungos”.