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A Lituânia voltou a lançar um alerta à União Europeia sobre a gravidade das interferências no sistema de posicionamento global (GPS), apontando Moscovo como responsável por uma campanha sistemática de guerra híbrida que põe em risco a segurança aérea, marítima, terrestre e até agrícola. O aviso chega dias depois de terem sido reportadas falhas no GPS do avião da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, quando sobrevoava a Bulgária.

“Entre as numerosas atividades hostis, o facto de se ter colocado em perigo um avião que transportava a presidente da Comissão Europeia é a ilustração mais clara desta ameaça”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros lituano, Kęstutis Budrys, citado pela imprensa internacional. Para o governante, “não se trata de incidentes isolados, mas de ações sistemáticas que comprometem o tráfego civil aéreo, marítimo e terrestre, bem como infraestruturas críticas, em violação dos compromissos internacionais da Rússia”.

As autoridades de Sófia e de Bruxelas deram versões divergentes sobre o que aconteceu com o avião de von der Leyen, no domingo, mas para Vilnius não restam dúvidas: países vizinhos da Rússia lidam há anos com operações híbridas de Moscovo.

Navios, aviões e até agricultores entre os afetados
O embaixador da Lituânia junto da União Europeia, Nerijus Aleksiejūnas, deu exemplos concretos: “Houve situações em que grandes navios recusaram entrar no porto de Klaipėda por razões de segurança, depois de o sinal de GPS ter sido pirateado.”

Segundo o diplomata, pilotos têm sido submetidos a “enorme stress”, o que levou as autoridades lituanas a reforçar o treino para aterragens em situações de perda de sinal. O problema estende-se também à agricultura: “Até os agricultores que trabalham nesta região se queixam de perdas económicas, depois de as interferências afetarem equipamentos conectados, como sistemas de drenagem”, explicou.

De acordo com a autoridade nacional de comunicações (RRT), só no mês de agosto mais de mil aeronaves e 33 navios registaram perturbações no sinal de navegação.

Crescente atividade a partir de Kaliningrado
Os dados da RRT confirmam um aumento significativo da origem das interferências no último semestre. Em fevereiro, havia registo de três fontes de “spoofing” na região. Em agosto, o número subiu para 29, todas com capacidade de afetar até 400 quilómetros de distância — um raio que coloca até cidades como Berlim em risco.

“Vemos a tendência de a Rússia investir cada vez mais nesta atividade”, alertou Aleksiejūnas, sublinhando que o problema não se limita ao Báltico. “Estas tecnologias serão usadas contra a Europa, não apenas contra a Lituânia, a Letónia ou a Estónia, mas contra toda a União Europeia.”

Vilnius pede ação coordenada de Bruxelas
Com apoio de várias capitais europeias, a Lituânia colocou o tema na agenda comunitária em junho. Agora, insiste numa resposta concertada: “Não basta agir apenas numa parte da Europa. Precisamos de o fazer coletivamente”, defendeu Aleksiejūnas.

Entre as medidas de mitigação apontadas estão o reforço da monitorização, maior treino operacional, mais investimento em tecnologias resilientes e uma pressão diplomática coordenada para obrigar Moscovo a respeitar o direito internacional.

O ministro Kęstutis Budrys foi claro sobre as exigências de Vilnius: “A União Europeia deve responder de forma decisiva: impor sanções duras, mobilizar a ação internacional através da União Internacional de Telecomunicações e acelerar o investimento em tecnologias resilientes.”