Foi preciso perder para depois se ganhar. No final do jogo frente a Espanha, que marcou o fim de uma fase de grupos penosa para a Seleção Nacional, com três derrotas em outros tantos jogos, o speaker do Pavilhão Rota dos Móveis optou por colocar a tradicional música da fadista Mariza — Melhor de mim — como uma espécie de mote para o que podia vir daí. Gonçalo Alves e Paulo Freitas aderiram ao repto e, na flash-interview da DAZN Portugal, garantiram que, na fase a eliminar, Portugal ia jogar “como uns animais”. Como seria de esperar, a primeira batalha foi superada com distinção, com uma goleada frente à frágil Andorra (11-2).

O “grupo do catano” só quis alimentar-se de golos: Portugal goleia Andorra e está nas meias-finais do Europeu

“Acho que hoje [quinta-feira] fomos uma equipa muito séria na abordagem. Estivemos sempre sérios em todos os momentos do jogo. Desconectámos uma ou outra vez, mas estamos muito satisfeitos com aquilo que produzimos. Os jogadores ainda conseguem fazer mais, obviamente. Portanto, tal como eu disse, amanhã [sexta-feira] é o fundamental agora. Vamos estar aqui para discutir. Vamos entrar para ganhar. Não há outra palavra. Vamos entrar para ganhar. Temos qualidade para isso. Sabemos o que temos que fazer e quando podemos ferir a Espanha. Obviamente, ainda vamos conversar sobre isso, mas amanhã é para ganhar. Amanhã é para ganhar”, antecipou o selecionador nacional à RTP.

O mote estava lançado para o reencontro com nuestros hermanos, atuais campeões do mundo e tricampeões da Europa. Foi precisamente em 2016, ano em que Portugal conquistou o troféu pela última vez, que se registou a última edição sem a presença de Espanha na final. Nesse ano, o Europeu teve como palco Oliveira de Azeméis. Agora as atenções centravam-se em Lordelo e, apesar de só restarem três jogadores dessa equipa (Hélder Nunes, Gonçalo Alves e Rafa Costa), os portugueses tinham a ambição de voltar à final e levantar o troféu em casa. Primeiro havia história para ser feita, já que Portugal nunca tinha superado Espanha nas meias-finais de um Europeu.

Num Pavilhão Rota dos Móveis esgotado, Freitas repetiu a receita habitual e lançou de início Xano Edo, Zé Miranda, Hélder Nunes, Gonçalo Alves e Rafa Costa. Do outro lado, Pere Varias lançou Candid Ballart, Sergi Llorca, César Carballeira, Nil Roca e Eloi Cervera. Portugal entrou com tudo na partida e, logo aos 14 segundos, Miranda isolou Gonçalo que, na cara de Ballart, não conseguiu desmontar o guarda-redes (1′). O jogo continuou a todo o gás e, depois de Edo negar o golo a Cervera (2′), Rafa apareceu sozinho no ataque, mas o seu remate saiu por cima (2′). Na resposta, Pol Manrubia desferiu um remate traiçoeiro para mais uma grande defesa de Xano (10′). Portugal continuou em busca do golo e, de meia-distância, Nunes atirou ao lado (12′).

Já depois de Paulo Freitas ter solicitado a sua pausa técnica de 30 segundos, os guarda-redes continuaram em grande plano, com Ballart a negar o golo a Miguel Rocha (16′) e Edo a parar o remate de Martí Casas (17′). Na oportunidade mais clamorosa do primeiro tempo, Roc Pujadas finalizou no corredor central, o guarda-redes do Sporting tentou defender deixando a bola passar por baixo do seu corpo, mas conseguiu emendar a tempo de evitar o golo (18′). A 4.25 minutos do intervalo foi a vez de Varias parar o jogo, seguindo-se nova pausa de Freitas e, na reta final do primeiro tempo, Eloi atingiu Gonçalo Alves na face mas, depois de consultarem o Sistema de Revisão de Vídeo (SRV), a dupla de arbitragem ficou-se por assinalar apenas falta. Pouco depois, o avançado viu mesmo o cartão azul, por atingir Zé Miranda na face com o stick (24′). Em power play, Portugal acercou-se da baliza espanhola, mas um grande corte de Nil Roca perante Miguel Rocha evitou o golo, com Carballeira a obrigar Edo a nova intervenção no contra-ataque (25′).

Superado o segundo nulo ao intervalo deste Europeu, depois do Alemanha-Áustria da fase de grupos (1-1), o início da segunda metade trouxe mais cautela das duas equipas, mas com sinal mais de Espanha que, logo aos cinco minutos, ficou muito perto do golo, com Pol Manrubia a rematar de longe para defesa de Xano Edo, com César Carballeira a falhar o desvio certeiro por pouco (30′). Com Portugal em 3×1 e sem conseguir tirar proveito do espaço no corredor central, os espanhóis aproveitaram uma transição rápida para voltarem a criar perigo, mas Edo fez mais uma grande defesa a remate de Sergi Aragonès (36′). Na jogada seguinte, Espanha repetiu a receita, com Aragonès a passar por Luís Querido e, isolado, a atirar fora do alcance do 47 para 0-1 (37′). Na resposta, a dupla do Óquei de Barcelos construiu o empate, com Querido a libertar para Miguel Rocha que, à boca da baliza, encostou para o golo (39′).

Com o jogo relançado à entrada para os últimos minutos, Portugal ficou “tapado” nas faltas e, depois de Freitas ter solicitado o seu timeout, Hélder Nunes desferiu um remate de meia-distância para a reviravolta, com a bola a sofrer ainda um desvio (42′). Logo a seguir foi a vez de Varias parar o jogo, mas a formação da casa continuou perigoso nas transições e, depois de um passe certeiro de Gonçalo Alves, Rafa Bessa falhou o desviou em cima da baliza (44′). Na resposta, Aragonès voltou a obrigar Edo a uma enorme intervenção (44′). Portugal continuou irrepreensível no momento defensivo — só cometeu uma falta na segunda parte — e Paulo Freitas aproveitou para dar a receita final a 2.51 do fim, sem o lesionado Hélder Nunes. Pere Varias recorreu à sua última pausa a 1.29 do fim, para preparar o 5×4. Nessa condição, Edo continuou a vestir a capa de herói mas, a 29 segundos do fim, não conseguiu conter o empate Carballeira, que desferiu um remate forte quase do meio-campo (50′).

Com os índices anímicos de novo favoráveis aos jogadores espanhóis, o prolongamento trouxe uma vez mais um ritmo altíssimo, com Gonçalo Alves a ter no stick a primeira ocasião, que esbarrou no corpo de Càndid Ballart (53′). Logo a seguir, Ballart fez uma defesa impossível, ao defender com a luva esquerda, em contrapé, um remate traiçoeiro de Rafa Costa (54′). No recomeço, o jogo começou a partir-se mas, servido por Zé Miranda, Gonçalo não conseguiu bater Ballart (57′). Na resposta, Manrubia aproveitou o espaço para entrar na área, mas a picadinha saiu por cima (58′). O jogo seguiu, assim, para as grandes penalidades, que começaram com o golo de Carballeira e Rocha a atirar ao poste. Depois, Xano travou o remate de Aragonès e Alvarinho empatou o desempate. O guarda-redes português voltou a levar a melhor frente a Casas e Gonçalo completou a reviravolta no terceiro tiro. Llorca voltou a desperdiçar e Zé Miranda atirou por cima no primeiro match point. Na derradeira série, Pujadas atirou as contas para o stick de Querido, que viu Ballart defender com a cabeça. No mata-mata, Xano Edo travou o remate de Manrubia e, na sua segunda tentativa, Gonçalo Alves colocou Portugal na final, frente a França.