Portugal inicia esta tarde (17h, RTP1), em Erevan, na Arménia, a 1000 metros de altitude, um arriscado “sprint” rumo ao Mundial 2026 — o último de Cristiano Ronaldo — o que, juntamente com o peso da coroa da Liga das Nações, coloca a fasquia de responsabilidade num novo máximo.
O simples propósito de olhar para a conquista do Mundial 2026 como um objectivo real, até para dedicar esta caminhada a Diogo Jota, não deixa margem para ambições menores, pelo que Arménia e Hungria são operações decisivas na agenda de Portugal.
Mas vamos por partes. Esta viagem à Arménia configura uma deslocação exigente sob vários pontos de vista, o que levou a selecção comandada por Roberto Martínez a antecipar a viagem até à zona euroasiática para minimizar os riscos inerentes a um primeiro jogo de qualificação, mesmo que num grupo teoricamente acessível.
Em termos futebolísticos, as selecções de Portugal e da Arménia encontram-se em pólos diametralmente opostos, a uma distância ainda mais difícil de transpor do que os quase seis mil quilómetros que separam as duas capitais ou as 99 posições de hiato no ranking FIFA, em que Portugal é sexto e a Arménia 105.ª, exactamente a meio da tabela de 210 nações.
Uma diferença que também pode ser aferida pelo estatuto das duas selecções na última edição da Liga das Nações, ganha por Portugal, em que os arménios ainda chegaram ao play-off de acesso à Liga B, para acabarem cilindrados (9-1, com derrotas por 0-3 e 6-1) pela Geórgia, já em Março deste ano, permanecendo na “terceira divisão”.
Foi, aliás, na sequência dessas duas derrotas com a Geórgia e de novo desaire (5-2) em jogo amigável com o Kosovo, em Pristina, seguido de um empate (2-2) noutro amigável, com Montenegro, que o neerlandês John van’t Ship, antigo avançado e técnico do Ajax e ex-seleccionador da Grécia, foi substituído ao fim de quatro encontros por Eghishe Melikyan, o quarto técnico a ocupar o cargo desde o final de 2024.
Não há selecções perfeitas
Melikyan que já deu o toque a Martínez, para lembrar que, apesar de Portugal “ser muito forte, isso não impede a Arménia de lutar pela vitória”, advertiu, convencido de que “não há equipas perfeitas e Portugal também tem pontos menos fortes, que podemos aproveitar”.
O antigo internacional arménio, promovido a seleccionador depois de ter conquistado três campeonatos e uma Taça da Arménia nos últimos cinco anos ao serviço do Alashkert e do Pyunic, pode, por outro lado, apelar à memória dos jogadores para recordar e aumentar as dificuldades sentidas por Portugal nas três anteriores deslocações a Erevan.
Planalto onde a selecção de Portugal só venceu uma vez, em 2015, na qualificação para o França 2016, graças à inspiração e ao hat-trick de Cristiano Ronaldo, o único jogador português com conta aberta na Arménia, depois de em 2007, com Scolari, ter evitado uma derrota (1-1) rumo ao Euro 2008.
Da primeira vez que Portugal jogou na Arménia, com Artur Jorge ao leme, Rui Barros expulso aos 55 minutos e Oceano a desperdiçar um penálti aos 89’, prevaleceu o nulo.
Agora, com responsabilidades redobradas, Portugal não pode facilitar no tiro de partida para uma espécie de “sprint” sem margem para hesitações ou equívocos, com seis jogos em menos de dois meses e meio.
Nesse plano, Roberto Martínez, depois de ter silenciado os críticos e desarmado a oposição com a conquista da Liga das Nações, ressurge com um propósito e energia renovados, apoiado na união reforçada de um grupo que jogará pelos portugueses, pelo prestígio e ainda em memória de Diogo Jota. Resta saber se de forma autoritária e categórica.
Para já, com dois jogos separados por 72 horas, Roberto Martínez não deixará de recorrer à fórmula de gestão do grupo usada na última competição… Com a baixa do lateral direito Diogo Dalot a reabrir a discussão em torno de adaptações como a de João Neves.
Martínez, que já integrou Nuno Tavares, defesa esquerdo, nos trabalhos, não excluiu essa hipótese, até por o jogador da Lazio concorrer com Nuno Mendes, havendo ainda o regressado João Cancelo.