Por outro lado: “Há coisas muito mais importantes que Portugal deveria reparar. Desde logo, a sua presença em África”
Miguel Sousa Tavares está contra a prorrogação do mecanismo que concede a atribuição da cidadania portuguesa a descendentes de judeus sefarditas expulsos de Portugal por D. Manuel I. O comentador da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal) afirma que o fundamento histórico para a atribuição da nacionalidade é “difícil de provar”.
“Se estivéssemos a falar de três gerações, quatro… agora, em 500 anos, de quantas gerações estamos a falar? De umas 150? Não tem o menor cabimento. É por isso que o Abramovich e outros que tal viraram portugueses. Esse já tinha sido naturalizado israelita e virou português”, argumenta Miguel Sousa Tavares.
“Se criticamos, e eu critico, a mania da reparação histórica de tudo o que ficou para trás, há coisas muito mais importantes que Portugal deveria reparar. Desde logo, a sua presença em África. Se um cidadão dos PALOP, como está previsto na lei, precisa de 10 anos de residência em Portugal, porque é que agora os sefarditas precisam apenas de um ano? Se estamos a falar de povos que foram expulsos daqui, porque é que nos concentramos nos judeus? E se os mouros se lembram de dizer que foram expulsos daqui? Vamos ter os marroquinos e mauritanos a pedir a nacionalidade?”
Miguel Sousa Tavares afirma que o este lóbi tem muito poder em Portugal, evidenciado pelo não reconhecimento do Estado da Palestina por parte do nosso país. “Mas a minha principal objeção nem é jurídica nem histórica, é política. Eu não aceito que Portugal esteja a dar a nacionalidade a pessoas que dizem que são descendentes de portugueses e que são cidadãos de Israel num momento em que Israel recusa quaisquer direitos civis, humanos e políticos à população palestiniana”, justifica o comentador, que lembra também como o processo funcionava anteriormente.
“Até 2024 era a total bandalheira. Não havia restrição nenhuma, bastava um certificado passado pela Comunidade Israelita do Porto ou de Lisboa a dizer que fulano era descendente dos expulsos pelo D. Manuel I e a pessoa podia ter a nacionalidade portuguesa automaticamente. Achei que foi absolutamente extraordinário, deu lugar a várias batotas com dinheiros na comunidade do Porto”, considera.
“Como é que se consegue demonstrar que um tipo que se chame Abraham Rodrigues tem alguma coisa que ver com os que foram expulsos daqui pelo D. Manuel? É que depois eles foram para a Flandres, para a Holanda, onde prosperaram. Daí foram para o Brasil, para o Pernambuco. E daí fundaram Nova Iorque, olha que engraçado. Então, os descendentes deles foram expulsos exatamente de onde? E até onde é que isto recua?”