Começou esta segunda-feira, 28 de Julho, a conferência das Nações Unidas para discutir a solução de dois Estados no Médio Oriente, entre Israel e Palestina, que a ONU defende há décadas. Israel e Estados Unidos recusaram participar.

“Temos de garantir que este não é mais um exercício de retórica bem-intencionada”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, no discurso de abertura da conferência, em Nova Iorque. “Pode e deve servir como ponto de viragem decisivo — que leve a progressos irreversíveis para pôr fim à ocupação e concretizar a nossa ambição comum: uma solução de dois Estados viável.”

Guterres reconheceu que “o conflito israelo-palestiniano se arrasta há gerações, desafiando a esperança, a diplomacia, inúmeras resoluções e o direito internacional”, mas insistiu que a sua continuação não é uma inevitabilidade. “Pode ser resolvido. Isso exige vontade política e lideranças corajosas, e exige verdade.”

A Assembleia Geral da ONU aprovou em Setembro do ano passado a realização da conferência, organizada pela França e pela Arábia Saudita. Estava marcada para Junho, mas foi adiada na sequência dos ataques israelitas ao Irão. Paris e Riade estiveram em sintonia quanto à urgência de um cessar-fogo na Faixa de Gaza e apelaram ao reconhecimento do Estado da Palestina (que França deverá oficializar em Setembro).

Nem os Estados Unidos, nem Israel participarão na conferência das Nações Unidas que se prolongará por três dias.

Na perspectiva norte-americana, a conferência é “um presente para o Hamas, que continua a rejeitar propostas de cessar-fogo aceites por Israel, que levariam à libertação dos reféns e trariam tranquilidade a Gaza”. Um porta-voz do Departamento de Estado da Administração Trump lembrou que os Estados Unidos já tinham votado contra a realização da conferência em Setembro passado e que não apoiarão “acções que ponham em causa uma resolução pacífica e duradoura do conflito”.

Já o embaixador israelita na ONU, Danny Danon, acusou as Nações Unidas de promoverem uma “ilusão”, em vez de uma solução. “Em vez de exigirem a libertação dos reféns e de trabalharem para desmantelar o reinado de terror do Hamas, os organizadores da conferência estão a participar em discussões e plenários que estão desligados da realidade”, alegou Danon.

Trump admite fome em Gaza

Também nesta segunda-feira, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, admitiu existir fome na Faixa de Gaza, tendo já sugerido ao Governo de Benjamin Netanyahu que “faça as coisas de forma diferente”.

Em declarações aos jornalistas ao lado do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, durante uma visita à Escócia, Donald Trump concordou que a população da Faixa de Gaza precisa de ajuda humanitária imediata.

Quando questionado sobre se estava de acordo com o chefe de Governo israelita, que horas antes negou que existisse fome em Gaza, Trump respondeu: “Não sei. Com base [no que vejo] na televisão, não, não particularmente, porque aquelas crianças parecem esfomeadas.”

“Ninguém ali fez nada de bom. Aquele sítio está uma confusão. Eu disse a Israel que talvez eles tenham de fazer as coisas de forma diferente”, acrescentou, referindo-se aos esforços israelitas — ou ausência deles — para evitar vítimas entre a população palestiniana.