O acidente mortal com o elevador da Glória, que causou 16 mortos e 23 feridos, marcou as declarações do ciclo de conferência da iniciativa Campus da Liberdade 2025, organizada pelo Instituto +Liberdade, que este sábado contaram com os candidatos presidenciais João Cotrim de Figueiredo, eurodeputado e ex-líder da Iniciativa Liberal, e Henrique Gouveia e Melo. Os dois candidatos defenderam a necessidade de apurar responsabilidades, mas com perspectivas distintas. Para Cotrim de Figueiredo a responsabilidade deve ser assumida pelo vereador da tutela, que já estava de saída da autarquia, caso se prove que o acidente esteve ligado a opções políticas. Já Gouveia e Melo pede que não se procure já um culpado.

Cotrim de Figueiredo considerou que, se ficar provado que houve falhas ligadas a decisões políticas da Câmara de Lisboa, o vereador responsável pela mobilidade e pela Carris, Filipe Anacoreta Correia, deve ser afastado.

Anacoreta Correia, ​indicado pelo CDS-PP, já estava de saída do executivo municipal, uma vez que não integra a lista de Carlos Moedas, candidato a um segundo mandato uma coligação que junta PSD, CDS-PP e IL, e esta sexta-feira já saiu em defesa de Moedas, chamando a si eventuais responsabilidades políticas.

Apesar da sua posição, Cotrim ressalvou que não se deve pedir “cabeças” sem antes compreender as causas técnicas do acidente, apontando como problema estrutural a falta de competência e exigência na administração pública, “que faz com que, de repente, sejamos surpreendidos com a fragilidade e a vulnerabilidade de algumas infra-estruturas críticas como estas, e isso é que é a grande ilação a tirar”.

Também Gouveia e Melo defendeu a responsabilização, mas rejeitou uma “caça às bruxas”, sobretudo num contexto eleitoral. “Devemos assumir as responsabilidades no final do inquérito, mas o inquérito não se pode prolongar eternamente e nós não nos podemos esquecer depois de assumir essas responsabilidades, sejam elas quais forem”, disse.

“Isso é perigoso, principalmente num momento político em que vão haver eleições a curto prazo, não devemos usar isso para fazer a caça às bruxas”, sustentou. Henrique Gouveia e Melo pediu também que este caso não seja esquecido e seja investigado a fundo.

“O que aconteceu foi totalmente anómalo e nós temos que descobrir porquê e temos que ir ao fundo da questão. E não é começar já a caça às bruxas sem sequer sabermos exactamente o que aconteceu. Agora, não podemos é demorar anos ou muitos meses, porque as investigações têm que ser verdadeiramente isentas, mas rápidas também”, referiu.

“País de improviso”

O candidato a Belém considerou que Portugal é “um país de improviso” e que falha “muitas vezes por falta de planeamento, por falta de cuidado e, de alguma forma, de irresponsabilidade”.

“Precisamos ter um sistema que se responsabilize mais, e o sistema começa pelo sistema político. Agora, fazer uma ligação directa num acidente à demissão de um actor político é uma coisa que não faço e não quero ir por esse caminho. No entanto, deve haver uma responsabilização dos atores”. O candidato afirmou que “houve coisas que falharam claramente” e considerou que é necessário apurar o que aconteceu em concreto.

“É isso que nós temos que verdadeiramente procurar e não nos precipitarmos agora. Podemos ser injustos a tentar encontrar um culpado e forçar uma solução que depois podemos arrepender-nos, e não ser a solução que verdadeiramente é a solução de um problema que ainda não conseguimos identificar”, sustentou.

O elevador da Glória, em Lisboa, descarrilou na quarta-feira, causando 16 mortos e 23 feridos. O Governo decretou um dia de luto nacional, nesta quinta-feira. Já a Câmara de Lisboa decretou três dias de luto municipal, entre quinta-feira e sábado. O elevador da Glória é gerido pela Carris, liga os Restauradores ao Jardim de São Pedro de Alcântara, no Bairro Alto, num percurso de cerca de 265 metros e é muito procurado por turistas.