Durante décadas, os europeus adotaram políticas que reforçaram a dependência em relação ao complexo militar-industrial norte-americano. Em 2025, os europeus continuam a precisar de armas e equipamentos de guerra dos Estados Unidos, cujo poderio militar é inevitavelmente maior. Com vozes isolacionistas a ganhar preponderância dentro da administração Trump, Volodymyr Zelensky defende que “a liderança tecnológica da Europa é criticamente importante”: “A Europa deve liderar. É precisamente isso que queremos promover ao mesmo tempo que elaboramos as garantias de segurança para a Ucrânia”.

Garantir que a Ucrânia se converte num “porco-espinho de aço” passa, assim, igualmente por fortalecer as capacidades bélicas europeias — e vai mais além do que tropas no terreno. Aliás, ainda esta quinta-feira, o Financial Times noticiou que os Estados Unidos vão cortar alguns dos fundos disponibilizados aos programas de segurança que apoiavam os países fronteiriços com a Rússia, como os países bálticos.

Esta nova estratégia securitária para a Ucrânia será principalmente um esforço dos países europeus. Os Estados Unidos vão prestar apoio logístico e estratégico (e até pode ajudar a vigiar o espaço aéreo de uma zona desmilitarizada), mas não vão além disso. A administração Trump recusa-se também a enviar armas para território ucraniano — são agora os restantes Estados-membros da NATO a financiá-las, mesmo que Washington as disponibilize.

Embora os Estados Unidos tenham mudado a abordagem, numa conferência de imprensa ao lado de Emmanuel Macron em Paris no final da última reunião da Coligação da Boa Vontade, Volodymyr Zelensky assegurou que é “importante” que Washington “esteja do lado” da Europa: “Muitas coisas dependem deles”.  O Presidente francês preferiu usar o termo “rede de segurança norte-americana”, mas não deixou de realçar a sua importância.

Já há um plano, já há países a comprometerem-se, já há documentos a serem preparados para mobilizar forças de segurança ocidentais para a Ucrânia nos pós-conflito, que ajudará o país a tornar-se no tal “porco-espinho de aço”. O Presidente francês já mencionou o envio de “alguns milhares de homens”, numa força que “não tem como objetivo manter uma linha da frente ou envolver-se num conflito intenso, mas demonstrar solidariedade de um ponto de vista estratégico”. 

Em terra, Emmanuel Macron falou em “milhares de homens” e Volodymyr Zelensky já comentou os rumores que circulam nos meios de comunicação social ucranianos de que poderão ser 10 mil homens, ainda que não tenha confirmado esse dado esta sexta-feira: “Não vou falar sobre o número exato, mas o que importa é que estamos a ter conversas. Não serão centenas, mas milhares. É um facto, mas ainda estamos numa fase precoce para entrar em detalhes”.