“Trata-se de formações políticas que não só não concordam em nada, mas, pior ainda, estão em guerra civil aberta entre si (…) e unem-se para derrubar o governo”, criticou François Bayrou em entrevista ao meio de comunicação francês Brut este sábado, a última antes de se submeter ao voto de confiança na Assembleia Nacional.
O chefe do Governo francês denunciou a atitude da oposição no hemiciclo, em especial do Rassemblement National, o partido de extrema-direita de Marine Le Pen, e da France Insoumise, o partido de Jean-Luc Mélenchon de esquerda radical. Para Bayrou, os líderes políticos recusam-se a encarar a realidade e a aceitar as soluções propostas pelo Executivo para fazer face aos problemas dos franceses, nomeadamente os financeiros.
“Nenhum arrependimento”
Conformado com o desfecho expectável da votação de segunda-feira, salvo surpresa, o primeiro-ministro francês afirmou que “há coisas piores na vida do que estar à frente de um governo e que esse governo seja derrubado”. François Bayrou disse também que não “tinha nenhum arrependimento” e que “fez o que tinha de ser feito”.
Recorde-se que foi o próprio primeiro-ministro francês que desencadeou o voto de confiança ao anunciar que iria submeter à aprovação parlamentar a sua proposta de Orçamento do Estado para 2026, um documento impopular desde que foi apresentado no mês de julho.
Face à enorme crise da dívida pública francesa, que ascendeu a 3,346 biliões de euros (114% do PIB) no primeiro trimestre de 2025, François Bayrou propôs cortar 44 mil milhões de euros para reparar as finanças públicas, plano acrescentado com a eliminação de dois feriados públicos e o congelamento das pensões.
Mobilização em todo o país
Na segunda e quarta-feira, 8 e 10 de setembro, estão previstas mobilizações em toda a França contra o Governo de François Bayrou, convocadas pelo movimento popular “Bloquons tout” (Vamos Bloquear tudo, numa tradução livre para português).
Várias ações de protesto estão agendados no setor dos transportes públicos, hospitais, farmácias, recolha de lixo ou até convívios de despedida, por ocasião da “despedida de Bayrou”.
A menos de 24 horas da votação, a queda de François Bayrou parece quase certa, já que tanto La France Insoumise como o Rassemblement National já anunciaram que votarão contra, o que deverá conduzir à demissão do Governo e à dissolução do Parlamento, abrindo caminho a novas eleições. Para que o Governo seja derrubado, são necessários 289 votos entre os 577 deputados.