No Campus da Liberdade 2025, em Peniche, evento que terminou neste domingo, Luís Marques Mendes, António José Seguro, Henrique Gouveia e Melo e João Cotrim de Figueiredo expuseram visões divergentes sobre o papel do Presidente da República, a relação com os partidos e os limites da Constituição. O denominador comum foi o distanciamento em relação ao legado de Marcelo Rebelo de Sousa.

Luís Marques Mendes aproveitou a intervenção em Peniche para deixar claro que não será uma continuidade de Marcelo Rebelo de Sousa. Apesar da amizade, da militância no PSD e da experiência conjunta como comentador, Marques Mendes quis demarcar-se do actual Presidente: considera-se mais contido no uso da palavra e admitiu que há comentários que não devem ser ditos publicamente, numa referência ao comentário de Marcelo sobre Donald Trump, ao dizer que tem agido como um “activo soviético ou russo”.

O social-democrata disse ainda que, se for Presidente da República, irá recusar convites com marca partidária, numa crítica à presença de Marcelo na Universidade de Verão do PSD. E recordou ainda discordância quanto ao fim do mandato de Joana Marques Vidal como procuradora-geral. No final, rematou com uma síntese: “Não sou melhor, mas sou diferente.”

Sobre Gouveia e Melo, Marques Mendes voltou a deixar reservas, frisando a necessidade de experiência política em Belém, e sustentando que a função não deve ser uma aventura. Entre as suas bandeiras, destacou a descentralização, defendendo mais autonomia municipal em áreas-chave como saúde, educação e prevenção de incêndios. Em relação às crises políticas, admitiu a dissolução do Parlamento em caso de saída do primeiro-ministro, mas rejeitou a ligação automática a um chumbo orçamental.

Também António José Seguro procurou marcar contrastes com Marcelo. O socialista defendeu uma Presidência discreta mas eficaz, mais centrada nos resultados do que na exposição mediática, e afirmou que o Presidente deve intervir apenas “no momento certo e no local certo” e trabalhar problemas estruturais que exigem compromissos duradouros. Apontou a sua experiência parlamentar e europeia como prova da capacidade de promover consensos e defendeu uma reforma política e cultural que substitua a actual lógica de confronto por uma cultura de compromisso. Para Seguro, a dissolução do Parlamento não deve ser a consequência automática de um chumbo orçamental e o Presidente deve prevenir crises em vez de se limitar a reagir. Quanto a um eventual Governo com o Chega, limitou-se a afirmar que respeitará as regras da democracia e a vontade popular.

No dia anterior, no mesmo evento, também Henrique Gouveia e Melo e Cotrim de Figueiredo tinham procurado traçar diferenças. O almirante na reserva voltou a afirmar a sua condição de candidato suprapartidário, com a promessa de não utilizar a Presidência como trampolim político. Gouveia e Melo falou ainda dos actuais poderes presidenciais, que considera que não devem ser nem ampliados nem reduzidos, e criticou a dissolução do Parlamento motivada pela saída de António Costa, classificando-a como resultado de um problema pessoal.

João Cotrim de Figueiredo assumiu uma posição frontalmente liberal e mostrou confiança em chegar à segunda volta. O eurodeputado da Iniciativa Liberal defendeu uma revisão profunda da Constituição e a possibilidade de dotar o Presidente de vetos inultrapassáveis, embora limitados, e não excluiu a hipótese de dar posse a um Governo com o Chega, desde que assente numa maioria.

De fora ficou António Filipe, do PCP, que desvalorizou a ausência no evento e lembrou que não se inclui no campo de candidatos que se identificam com o neoliberalismo. com Lusa