Na Atalaia, diante de centenas de militantes e simpatizantes, Paulo Raimundo subiu ao palco com um discurso duro e sem meias palavras. No encerramento da Festa do Avante!, o secretário-geral do PCP dirigiu fortes críticas ao Governo de Luís Montenegro, que acusou de funcionar como “uma agência de negócios dos grupos económicos”, mas apontou também baterias ao PS. Para Paulo Raimundo, os socialistas estão a ser cúmplices da direita e a “dar as duas mãos ao Governo”, disputando com o Chega o papel de parceiro mais fiável para um Orçamento do Estado que, antecipa, servirá para “desmantelar o SNS e favorecer os grupos económicos”. Para o PCP, disse, “a política de direita não se combate dando-lhe a mão, mas sim travando-lhe o passo”.
A cerca de um mês das eleições autárquicas e com as presidenciais no horizonte, Raimundo não deixou dúvidas quanto à mobilização que espera dos comunistas e dos seus aliados. “Os próximos meses vão ser muito exigentes”, alertou, apelando a um trabalho “contacto a contacto” e ao alargamento das bases de apoio da CDU. “Independentemente das vossas opções de voto passadas, dêem força à CDU. Venham com vontade de construir, participar, intervir – fazem falta à CDU, fazem falta às vossas terras”, desafiou, num tom de proximidade e abertura.
Rodeado de bandeiras vermelhas, delegações internacionais e apoiantes de todo o país, o líder comunista fez um apelo claro à mobilização em torno da CDU, sublinhando o percurso de “trabalho, honestidade e competência” das suas listas no poder local. “Vamos de cara levantada”, garantiu, certo de que o PCP concorre com provas dadas, obra feita e compromisso com as populações.
Já com os olhos postos em Janeiro de 2026, Raimundo reafirmou o apoio à candidatura de António Filipe à Presidência da República, que descreveu como “a única verdadeiramente comprometida com a Constituição”. Para o líder comunista, as presidenciais serão mais uma etapa de confronto com “a política de direita” e uma oportunidade para afirmar um “Portugal soberano, de justiça e desenvolvimento”.
O discurso não ignorou o contexto económico e social. Raimundo acusou o Governo de governar “ao serviço de uma minoria”, usando o Estado para favorecer grandes interesses à custa dos serviços públicos e da maioria da população. “O negócio deles não pode ser a degradação do país e das nossas vidas”, afirmou, criticando uma política que beneficia “a banca, os grupos económicos, as multinacionais, os que vivem das negociatas e da grande corrupção”, enquanto “para o país dos que trabalham, dos reformados, dos jovens e dos que cá procuram uma vida melhor, a vida está difícil”.
Em resposta às reformas laborais em preparação, classificadas por Raimundo como “uma declaração de guerra aos trabalhadores”, o líder comunista prometeu intensificar a luta nas empresas, nas escolas e nas ruas. Destacou ainda a mobilização convocada pela CGTP-IN para 20 de Setembro, como exemplo dessa resistência. “Aqui não nos calamos”, reforçou.
Também a nível internacional, Paulo Raimundo fez questão de sublinhar as posições do PCP. Condenou a “submissão” da União Europeia e dos EUA à lógica da guerra e, em particular, o apoio ao que classificou como “genocídio em curso contra o povo palestiniano”. O secretário-geral do PCP exigiu o reconhecimento imediato do Estado da Palestina por parte de Portugal, “sem condicionalismos”, e apontou a luta do povo palestiniano como exemplo de resistência.
Num discurso onde se multiplicaram as críticas à direita e àquilo que considera ser a degradação do Estado social, Raimundo reservou palavras duras também para a Iniciativa Liberal, que descreveu como “a lebre ideológica” da direita, e para o Chega, a quem acusou de ser “a fábrica de mentiras, da demagogia e da gritaria” ao serviço do sistema. “É o abre-latas do pior da política de direita”, resumiu.
A fechar, Raimundo reafirmou a confiança no papel do PCP como partido indispensável à democracia portuguesa e elogiou o envolvimento da juventude comunista, afirmando que os jovens “não são o futuro, são o presente do partido”. Com o olhar já na próxima edição da Festa do Avante!, que acontece entre 4 e 6 de Setembro de 2026 e que assinalará 50 anos de existência, o líder comunista deixou um aviso e um apelo: “Lutem pelas vossas vidas. Rompam com a política que compromete os direitos e o futuro do país. Vamos intensificar a luta e promover a convergência que faz falta — a convergência patriótica e de esquerda.”