Em uma corrida de longa distância, ninguém começa no ritmo de um sprint. O segredo é dosar o fôlego, controlar o ritmo e ter reservas para os últimos quilômetros —especialmente quando não se sabe ao certo onde está a linha de chegada. Viver mais é exatamente isto: uma maratona sem mapa definido. E quem não se prepara pode acabar exausto antes do fim.

Sêneca dizia: “A vida, se bem vivida, é suficientemente longa”. A questão é que, com os avanços da medicina e da tecnologia, ela está se tornando mais longa mesmo para quem a vive de forma desorganizada. Em 1970, a expectativa de vida ao nascer no Brasil era inferior a 60 anos. Em 2023, ela passou dos 76. É um salto impressionante de quase 20 anos em pouco mais de meio século.

E não estamos falando apenas de estatísticas. Cada vez mais pessoas chegam aos 80 e 90 com autonomia e lucidez. Com a inteligência artificial avançando sobre a medicina, a cura de doenças antes fatais pode empurrar ainda mais essa linha de chegada —que já não era próxima.

O problema é que esse novo horizonte não veio acompanhado de uma mudança proporcional de comportamento financeiro. Muitos ainda pautam suas escolhas com base na experiência dos pais e avós, que viveram menos, trabalharam menos e, em muitos casos, se aposentaram com apoio do Estado. Mas o Brasil de hoje é outro.

A Previdência pública está pressionada por todos os lados. A base de contribuintes encolhe, seja pelo envelhecimento da população, seja pelo crescimento do trabalho informal e do empreendedorismo, que muitas vezes contorna o INSS. E o governo, ao contrário do que muitos imaginam, não tem poder de multiplicar dinheiro. Ele apenas redistribui os recursos arrecadados —e esses estão ficando escassos.

Nesse cenário, confiar apenas na sorte ou no governo é uma aposta perigosa. Quando se fala em aposentadoria, o maior risco não é viver pouco. É viver muito mais do que se planejou. Este é o risco de sobrevivência: a possibilidade de que o dinheiro acumulado acabe antes da sua vida.

Para transformar essa preocupação em uma meta clara, uma boa referência é a chamada “Regra dos 250”: acumular um valor equivalente a 250 vezes a renda mensal que você deseja ter na aposentadoria. Se o objetivo for viver com R$ 10 mil por mês, será necessário acumular R$ 2,5 milhões. Isso permite uma retirada anual de 5% ao ano —um percentual compatível com aplicações conservadoras e capaz de manter o padrão de vida sem consumir o patrimônio prematuramente.

Quem hoje tem menos de 50 anos deve redobrar a atenção. Viver mais exige acumular mais. E o esforço para isso não pode ser adiado. Poupar precisa deixar de ser um ato esporádico e se tornar parte da rotina, com constância, estratégia e propósito.

Você pode até esperar que o governo resolva isso por você. Mas não se iluda: em um sistema pressionado por mais beneficiários e menos contribuintes, as escolhas que virão serão duras. Benefícios menores. Idades mínimas mais altas. E menos margem para quem deixar para depois.

A vida pode ser longa. O que não pode é o seu planejamento ser curto. Quanto antes você assumir esse compromisso com o seu “eu” do futuro, maior a chance de atravessar essa maratona com fôlego —e com dignidade.


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