Milhares de milhões de medições de satélites, navios, aeronaves e estações meteorológicas em todo o mundo naturalmente resultam em várias conclusões sobre os principais indicadores do estado do planeta, como as temperaturas globais do ar e do mar à superfície, a cobertura de gelo marinho e as variáveis hidrológicas.
Porém, o destaque do boletim do Verão de 2025 – de Junho ao final do mês de Agosto – do Serviço de Alterações Climáticas Copérnico (C3S, na sigla em inglês), divulgado esta terça-feira, vai para o sudoeste da Europa, que enfrentou um calor extremo durante o terceiro Agosto mais quente a nível global. Entre 8 e 18 de Agosto os especialistas registaram a “maior extensão espacial” da onda de calor, que afectou tanto a Península Ibérica como a França.
“Agosto de 2025 foi o terceiro mês mais quente já registado globalmente. No sudoeste da Europa, o mês trouxe a terceira maior onda de calor do Verão, acompanhada por incêndios florestais excepcionais”, resume Samantha Burgess, directora estratégica para o Clima do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF, na sigla em inglês), no comunicado de imprensa do Copérnico.
“Com os oceanos do mundo também a permanecerem excepcionalmente quentes, estes eventos realçam não só a urgência de reduzir as emissões, mas também a necessidade crucial de nos adaptarmos a extremos climáticos mais frequentes e intensos”, acrescenta a cientista.
Temperatura média máxima diária do ar à superfície durante os 11 dias entre 8 e 18 de Agosto de 2025 (à esquerda). Anomalias médias diárias da temperatura média do ar à superfície durante o mesmo período, em relação ao período de referência 1991-2020. (à direita)
C3S /ECMWF
A onda de calor
A Terra esteve febril em Agosto. Nos dados divulgados esta terça-feira, a equipa do Copérnico destaca na Europa a temperatura média em Agosto de 2025 foi de 19,46 graus Celsius, 0,3 graus Celsius acima da média de Agosto entre 1991 e 2020, deixando o mês fora dos dez Agostos mais quentes já registados. Porém, o Sudoeste da Europa deixou um grande contributo para estes valores, com uma onda de calor extremo.
“A Europa Ocidental registou as temperaturas atmosféricas acima da média mais pronunciadas da Europa. A Península Ibérica e o sudoeste da França foram particularmente afectados pelas condições de onda de calor”, indicam os cientistas. A nível sazonal, envolvendo os meses de Junho, Julho e Agosto, a Europa teve o quarto Verão mais quente já registado, com 0,90 graus Celsius acima da média de 1991-2020.
A nível global, Agosto de 2025 foi o terceiro mais quente globalmente, com uma temperatura média do ar à superfície de 16,6 graus Celsius, 0,49 graus Celsius acima da média de 1991-2020 para Agosto. Confirmando as actuais e preocupantes tendências, Agosto de 2025 ficou 1,29 graus Celsius acima da média estimada de 1850-1900, usada para definir o nível pré-industrial.
Anomalias mensais da temperatura do ar à superfície global (°C) em relação ao período de referência pré-industrial de 1850-1900, de Janeiro de 1940 a Agosto de 2025. O ano de 2025, bem como os dois anos civis mais quentes, são apresentados a cores: 2025 a vermelho escuro, 2024 a laranja e 2023 a amarelo. Todos os outros anos são apresentados com linhas finas a cinzento
C3S /ECMWF
Os últimos 12 meses
Se quisermos olhar mais para trás, os cientistas do programa europeu Copérnico avisam que nos últimos 12 meses (entre Setembro de 2024 e Agosto de 2025) a temperatura média ficou 0,64 graus Celsius acima da média de 1991-2020 e 1,52 graus Celsius acima do nível pré-industrial. Os famosos 1,5 graus Celsius são, como sabemos, a meta do Acordo de Paris que parece cada vez mais improvável de atingir.
Em Fevereiro de 2024, quando o mundo passou pelo primeiro período de 12 meses com temperaturas acima de 1,5 graus Celsius, os cientistas lembraram que isso não significava o fim da meta de Paris. Porém, a cada mês, a cada ano que passa, este prognóstico parece cada vez menos realista.
Hoje, os cientistas consideram provável que os próximos cinco anos registem, em média, mais de 1,5 graus Celsius. Combinado com os últimos dois anos quentes e o aumento das temperaturas previsto após 2030 isso significa que 2028 será provavelmente o primeiro ano em que a temperatura média a longo prazo estará acima do limite, explicava o climatólogo Zeke Hausfather num artigo publicado recentemente.
Os registos dos últimos três meses mostram-nos um planeta de extremos e com o clima claramente a distinguir o hemisfério Norte do Sul. As temperaturas em todo o mundo ficaram, na sua maioria, acima da média, especialmente no hemisfério norte. As maiores anomalias positivas foram registadas na Ásia, enquanto anomalias negativas significativas ocorreram na América do Sul e na Austrália.