O Sporting acabou por ter o mercado menos “movimentado” dos três grandes em relação a entradas e saídas, julho trouxe os momentos mais mexidos à exceção do inevitável último dia. A novela Viktor Gyökeres andava para trás e para a frente sem solução à vista com Arsenal e o empresário a apresentarem ofertas que sabiam que seriam de forma inevitável recusada, de Itália surgiam notícias das abordagens da Juventus por Morten Hjulmand longe da cláusula de rescisão, da Arábia Saudita vinham informações do interesse em Francisco Trincão e Gonçalo Inácio depois das sondagens dos ingleses Crystal Palace por Diomande. Os escritórios da SAD leonina conheciam dias de maior corrupio com propostas de entradas e saídas. Não foram as únicas.
O avançado sueco foi a única grande venda deste mercado de transferências a par de Conrad Harder, neste caso no último dia da janela de verão e no seguimento da chegada de Fotis Ioannidis do Panathinaikos, mas houve várias ofertas e sondagens recusadas por elementos chave no núcleo duro do futebol verde e branco que na última temporada tinha perdido o técnico Ruben Amorim para o Manchester United (com a entrada de João Pereira e posterior substituição por Rui Borges) e também o diretor desportivo Hugo Viana para o Manchester City – neste caso com a redefinição da estrutura mais operativa, com Bernardo Palmeiro a regressar a Alvalade como diretor geral e Flávio Costa a permanecer como diretor o scouting mas reportando de forma direta ao líder da SAD, Frederico Varandas. Em julho, a antiga troika recebeu nova abordagem.
Depois do interesse de clubes da Premier League no antigo treinador e diretor desportivo do Sporting, que estiveram na campanha que culminou com o bicampeonato dos leões mais de sete décadas depois, também outros mercados olharam com atenção para o trabalho feito pelo clube e as atenções viraram-se para… o próprio presidente. De acordo com informações recolhidas pelo Observador, Frederico Varandas recebeu em julho uma proposta concreta para rumar a um dos maiores clubes sauditas, neste caso que pertence ao Fundo Soberano do país, para assumir funções como CEO. A oferta acabou por ser recusada pelo líder verde e branco, que optou por manter-se em Alvalade e prosseguir o trabalho iniciado exatamente há sete anos, quando foi eleito pela primeira vez para a presidência do clube verde e branco.
A oferta colocada em cima da mesa era acompanhada por um salário milionário que aumentava (e muito) o vencimento da administração da Sporting SAD, que na última Assembleia Geral da sociedade votou a favor a proposta da Comissão de Acionistas que prevê um salário fixo anual de 300 mil euros mais um bónus de 300 mil euros para o número 1 da estrutura. Apesar da consideração que a abordagem mereceu, tendo em conta a singularidade da sondagem em causa (e que se justificava pelo sucesso desportivo com três Campeonatos nos últimos cinco anos, a par dos resultados financeiros positivos que foram permitindo fazer mais investimentos em infraestruturas entre Estádio e Academia), as conversas ficaram por aí e não tiveram mais avanços.
De referir que o mercado da Arábia Saudita é um dos poucos que se encontra ainda aberto ao contrário do que acontece com todas as principais ligas mundiais, sendo que este ano voltou a confirmar a aposta do país em Portugal com as chegadas de nomes como João Félix (Al Nassr) ou Roger Fernandes (Al-Ittihad), que se juntam a outros como Cristiano Ronaldo, Rúben Neves, João Cancelo, Danilo Pereira ou Otávio, entre outros. Pedro Rebocho, João Costa, Fábio Martins, Jorge Fernandes e Tozé são outros dos jogadores nacionais que se encontram agora na Primeira Liga saudita, havendo outros no segundo escalão.
O peso português na Arábia Saudita não se fica apenas pelos jogadores, tendo em conta que Portugal está representado com um terço dos treinadores da edição de 2025/26 da Primeira Liga: Jorge Jesus (Al Nassr), Pedro Emanuel (Al Fayha), Armando Evangelista (Damac), José Gomes (Al Fateh), Mário Silva (Al-Najma) e Paulo Sérgio (Al-Akhdoud). Em paralelo, há dirigentes nacionais nos principais conjuntos, como o antigo CEO do Benfica, Domingos Soares de Oliveira, que há dois anos aceitou um convite para ser o CEO do Al-Ittihad (atual campeão), Simão Coutinho ou José Semedo, diretor desportivo e diretor executivo do Al Nassr, respetivamente. Também Luís Campos, português que é diretor desportivo do campeão europeu PSG, recebeu uma abordagem por parte da Federação saudita tendo em conta a organização do Mundial de 2034 e um projeto a médio/longo prazo que permitisse também desenvolver todo o futebol de formação no país.
Já em relação a Frederico Varandas, depois da proposta recusada, os objetivos mantiveram-se em relação ao mercado: vender Viktor Gyökeres por aquilo que considerava ser um “preço justo” abaixo da cláusula de rescisão, segurar os restantes jogadores habitualmente titulares (comprando as percentagens em falta de Francisco Trincão e Geny Catamo), comprar alguns dos alvos que estavam identificados como Luis Suárez, Ricardo Mangas ou Vagiannidis e aceder à possibilidade de saída de Conrad Harder para ter mais minutos face ao acordo que foi entretanto feito com o Panathinaikos para a chegada de Fotis Ioannidis. A única missão “incompleta” acabou por ser a contratação de Jota Silva, que acabou por não entrar a tempo.
“O Jota Silva foi um jogador identificado pelo nosso treinador com o intuito de trazer maior profundidade ao plantel e esse pedido foi valorizado pela estrutura do Sporting. Decidimos que era um dos alvos deste mercado de transferências e isso obviamente obrigava a um determinado esforço financeiro. O Jota esteve inegociável praticamente todo o mercado pois eram pedidos cerca de 15 milhões de euros, a que nós, administração e treinador, dissemos não. O Nottingham Forest recebeu uma proposta do Botafogo de 19 milhões pelo Jota. Informámos o nosso treinador, que esteve sempre a par do processo, que não havia nada a fazer. Depois aconteceu que o Jota recusou essa proposta e já perto da meia-noite, por volta das 23h20 do último dia, aceitou um empréstimo mais ou menos nos nossos moldes mas não dentro dos nossos valores. O Sporting cedeu. Estamos a falar de uma coisa de 3/4 minutos que não havia tempo e aceitámos uma proposta de empréstimo de quatro milhões e meio de euros, mais o salário de dois milhões e meio, que seriam sete milhões de euros pelo empréstimo do jogador”, comentou o líder leonino a propósito do último mercado.
“É impossível receber a documentação, preencher os impressos, assinar os contratos, digitalizar, pôr na plataforma em 15 minutos. Era tecnicamente impossível. Aliás, quando recebemos a documentação final às 23h45, as pessoas experientes do nosso departamento jurídico disseram ‘Presidente, isto não vai ser possível’ e eu disse ‘Ok, vamos tentar’. Aconteceu que depois destas telenovelas tudo se fez em 16 minutos, uma coisa que nunca pensei. Tentámos mas não conseguimos o Jota. Estamos aqui desde 2018 e nunca conseguimos ser o campeão do mercado, nunca conseguimos. Nem em número de investimento, nem em número de jogadores, nem em número de jatos particulares, nem em número de aeroportos, nem em número de contratações secretas. Nunca conseguimos…”, acrescentou ainda a propósito de Jota Silva.
“Quero dar uma palavra ao nosso capitão porque recusou ‘ene’ propostas a ganhar o triplo e acedeu. Tivemos uma conversa com a administração e o Morten [Hjulmand] vai ficar mais um ano. Segurámos o Morten. O Trincão era para a Arábia Saudita. O Gonçalo Inácio para a Arábia Saudita. O Diomande estava perdido para o Crystal Palace. E o que é que aconteceu? Mantivemos o grupo. Os sportinguistas têm de entender uma coisa: o Sporting não ficou em terceiro lugar, o Sporting não ficou em segundo lugar. O Sporting tem um balneário bicampeão. E se é para entrar algum jogador ali, tem de ser algum jogador melhor do que o bicampeão Trincão, do que o bicampeão Pote, do que o bicampeão Morten, do que o bicampeão Inácio”, acrescentou Frederico Varandas, à margem da Supertaça de futsal em Gondomar entre Sporting e Benfica.