O Partido Trabalhista (Ap, na sigla original) da Noruega venceu as eleições legislativas de segunda-feira e tem todas as condições para continuar a governar o país escandinavo, uma vez que a soma do número de deputados eleitos pelos partidos de esquerda e de centro-esquerda ultrapassa os 85 necessários para chegar à maioria no Storting (Parlamento).

Em segundo lugar ficou o Partido do Progresso (FrP), populista e anti-imigração, que ultrapassou pela primeira vez o Partido Conservador (H), da ex-primeira-ministra, Erna Solberg, alcançando, com esse resultado, o estatuto de principal partido opositor à direita.

Com 99% dos votos contabilizados, o Ap obteve 28,2% dos votos, equivalentes a 53 deputados (mais cinco dos que tinha eleito em 2021); o FrP conseguiu 23,9%, elegendo 48 deputados (mais 27); e o H ficou-se pelos 14,6%, correspondentes a 24 deputados (menos 12).

Partido do Centro (Sp, 5,6%), Partido da Esquerda Socialista (SV, 5,5%), Partido Vermelho (R, 5,3%) elegeram nove deputados cada um. Somando estes 27 aos 53 do Ap, e aos sete deputados eleitos pelo Partido Verde (MDG, 4,7%), o bloco de esquerda ultrapassa a maioria dos 169 membros do Storting, com 87 membros.

Fica apenas por confirmar se o Partido Liberal (V) conseguiu ou não 4% dos votos, a percentagem mínima para entrar no Parlamento. Segundo os resultados provisórios, os liberais só tiveram 3,6%.

Apesar do crescimento da direita radical, Jonas Gahr Stoere, primeiro-ministro e líder do Ap, afirmou na segunda-feira à noite que o desfecho destas eleições envia “uma mensagem para fora da Noruega de que a social-democracia também pode vencer, apesar da onda de direita” que tem varrido as democracias europeias e não só.

“É um bom resultado. É um resultado claro”, disse esta terça-feira de manhã, citado pela Reuters, repetindo a ideia do dia anterior, de que os “social-democratas” e o “centro-esquerda” podem triunfar e resistir aos “ventos da direita”.

O facto de Ap, Sp, SV, R e MDG formarem uma maioria de esquerda no Parlamento não significa, ainda assim, que vão entrar todos numa coligação governamental liderada pelos trabalhistas ou que as negociações com Stoere para acordos de incidência parlamentar vão ser fáceis.


Na sequência das legislativas de 2021, o Sp, partido agrário e eurocéptico, aceitou entrar num governo liderado pelo Ap, mas acabou por abandonar a coligação no início deste ano, em protesto contra o alinhamento dos trabalhistas com as políticas energéticas da União Europeia, organização que a Noruega não integra.

Para além disso, MDG (ecologista), SV (socialista) e R (comunista) já avisaram Stoere que o seu apoio, mesmo que apenas num quadro parlamentar, dependerá de uma série de políticas relacionadas com a gestão do fundo soberano do país (1,7 biliões de euros), que assenta, em grande medida, nos lucros da exploração e fornecimento de combustíveis fósseis noruegueses.

O MDG rejeita a abertura de novos campos de exploração petrolífera; o R não quer mais projectos de produção de energia eólica; e o SV exige que o fundo soberano não financie empresas israelitas envolvidas na guerra de Israel na Faixa de Gaza.

“Stoere vai continuar como primeiro-ministro, mas com uma situação parlamentar muito mais difícil, na qual depende de cinco partidos para governar”, alerta Jonas Stein, professor de Ciência Política da Universidade de Tromsoe, citado pela Reuters.

Direita radical celebra

Do lado direito do espectro ideológico, apesar de a soma dos deputados eleitos por todos os partidos ter ficado abaixo da maioria no Storting, os membros e dirigentes do FrP ficaram satisfeitos com o resultado.

“É fantástico. Tivemos um desempenho melhor do que as sondagens indicavam. Por isso, [o resultado] é incrivelmente bom. Temos motivos para nos sentirmos vencedores”, declarou, citada pelo Guardian, Sylvi Listhaug, líder do partido anti-imigração, que obteve o seu melhor resultado de sempre numas eleições legislativas, muito à custa da atracção do voto dos jovens do sexo masculino.

Em declarações aos seus apoiantes na segunda-feira à noite, em Oslo, Erna Solberg, líder do H, assumiu a “responsabilidade” pelo pior resultado eleitoral dos conservadores em 20 anos, mas garantiu que o partido vai fazer oposição firme ao Ap.

À frente do H desde 2004, do Governo da Noruega entre 2013 e 2021, e da oposição entre 2021 e 2025, resta, no entanto, saber se Solberg, de 64 anos, vai continuar a liderar os conservadores ou se vai passar a pasta a novos protagonistas.